O justiceiro que odiava a dor

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Argumento baseado em fragmento de conto do escritor Fernando Bonassi.

São Paulo, noite de quarta-feira. Uma voz, ao telefone, pergunta se havia anotado o endereço: República do Líbano com Juscelino Kubitschek. Diante da resposta positiva, uma última advertência: que não fizesse nenhuma gracinha daquela vez. A voz ao volante demonstra tédio ao responder ao senador que quanto menos ele aprontasse, menos gracinhas seriam necessárias. Ainda sem vermos quem é o motorista, ele sai com o carro, anda por algumas ruas até parar na esquina citada.

Nessa hora, um travesti vem andando até o carro. Nesse meio tempo, dentro do veículo, o motorista coloca luvas pretas, tira um revolver e nele acopla um silencioso. Baixa o vidro e dá um primeiro tiro no chão, perto do travesti. A princípio sem se tocar, este olha para o chão e ri. O atirador diz "Dança" e atira mais duas vezes. Em pânico, o travesti vira-se e sai correndo. Só que recebe o quarto tiro na coxa e cai, segurando a perna e berrando de dor.

Então a porta do carro é aberta, o atirador misterioso (vemos apenas suas pernas) desce. O travesti berra perguntas e palavrões com a mesma intensidade, sem entender coisa alguma. O atirador chega perto (ainda não vemos seu rosto), murmura "não quero te ver com dor" e dispara mais um tiro. O corpo do travesti cai para o lado, o que faz com que percebamos o tiro em sua testa, entre os olhos. Foco no rosto do travesti morto e, ao fundo, vemos o atirador saindo calmamente de volta para o carro. Entra, fecha a porta e sobe o vidro, com a mesma calma que chegara minutos antes. Liga o carro e vai embora. Mais um trabalho feito.

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