Capítulo Dois

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Inclinei a cabeça para o lado, analisando meu reflexo no espelho. Era a terceira vez que trocava de roupa, e ainda continuava insegura quanto ao que vestir. Passei as mãos sobre o tecido azul claro do vestido. Era uma roupa simples e leve, com pequenas margaridas decorando o tecido de algodão.

Puxei meus cabelos para frente, ensaiando um sorriso. Os músculos ao redor da minha boca pareciam rígidos.

Soltando um muxoxo, dei as costas para o espelho e me joguei na minha nova cama. Meu quarto era um cômodo aconchegante e arejado. Em uma parede havia uma janela de vidro que tinha vista para o jardim, e na parede oposta havia uma escrivaninha. Um tapete felpudo cobria quase todo o chão e em um dos lados do quarto ficava uma lareira.

Naquela manhã eu havia acordado com uma tremenda dor nas costas e pescoço. O sofá que parecera confortável tinha se mostrado apertado durante a noite. Meu pai não me acordara provavelmente por pena. Ele sabia que minha vida havia virado de ponta cabeça, e achava que podia amenizar isso me deixando dormir mais alguns minutos. Ele não estava errado, mas agora eu tinha um belo torcicolo.

A porta do quarto rangeu e eu me virei para vê-lo enfiar a cabeça para dentro.

- Está pronta?

- Pode apostar que sim – minha voz soou deprimida.

Ele entrou no quarto, se sentando na beira da cama fofa.

- Não fique assim. Você está prestes a ampliar seus horizontes, conhecer novas pessoas.

- Sabe, o horizonte parecia mais amplo do décimo andar do nosso prédio...

De repente, ele ficou sério.

- Sabe que não precisar ir se não quiser, não é? Você pode ficar em casa até as coisas se ajeitarem.

Me senti tentada à oferta, mas nunca era bom tentar evitar algo que aconteceria mais cedo ou mais tarde. Além do mais, não havia muita coisa pra se fazer naquela casa além de ver TV.

- Foi mal, mas você continua sendo meu motorista particular. Não vai fugir disso até me deixar dirigir – abri um sorriso largo.

- Ah, não mesmo. Não depois de atropelar o cachorro da sua tia Berta.

- Não é justo ficar jogando essas coisas na cara dos outros. Além do mais, o Dominik que é um péssimo professor – resmunguei.

- É. Ele é mesmo... – ele checou o relógio de pulso, com um meio sorriso no rosto. – Bom, melhor irmos. Precisamos dar uma passada no Departamento. Ao contrário de você, eu tenho um trabalho.

Minutos depois, nossa rua deu lugar ao não tão movimentado centro da cidade. Os prédios ali eram antigos, mas bem conservados. O transito não era caótico como o da Grande Capital e alguns carros de fazenda avançavam tranquilamente por ali.

Meu pai estacionou em frente a um prédio de três andares. O Departamento de Polícia Investigativa parecia ser a construção mais recente de Grace. A luz do sol era refletida pelos vidros das janelas retangulares em um tom amarelo-cintilante, e do lado de fora havia um jardim de grama verde-vivo. Micro aspersores giravam, jorrando água em forma de guarda-chuvas translúcidos e enchendo o ar de vapor.

Quando entramos no prédio, um policial que estava por trás do balcão acenou para meu pai. Ele parecia ocupado, com um telefone preso entre o ombro e a orelha.

Seguimos para o terceiro andar, onde o corredor era extenso e silencioso como o de um hospital. As portas tinham placas cor de cobre indicando as diferentes salas. Desde a Sala de Interrogação, à Sala do Xerife. Há poucos metros, havia uma fileira de cadeiras duras encostadas na parede.

Doce Dezembro - Os Mascarados Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora