Continuando...
Respirei fundo, depois o acompanhei.
- Casa legal – comentou, enquanto avançávamos pelo caminho de pedras.
- É uma das mais antigas de Grace. Pertence à minha família há décadas.
- Então, você morava aqui?
- Morava. Antes de mudar para a Grande Capital, após a morte da minha mãe.
Brud ficou em silêncio por um segundo.
- Sinto muito – ele disse, finalmente.
Me arrependi de ter tocado no assunto. Não que o tempo curasse aquele tipo de dor, mas a perda da mãe ainda estava muito recente pra ele.
- Eu também sinto muito pela sua mãe.
- É – ele murmurou.
Brud continuou com o rosto impassível, e concluí que era melhor abandonar o assunto.
Começamos a subir os degraus do hall de entrada. O observei de esguelha, pensando comigo mesma que deixa-lo entrar era uma péssima ideia. Horrível. Terrível. Tenebrosa.
Destranquei a porta, com uma vozinha irritante em minha cabeça me dizendo pra sair daquela situação. Contudo, outra voz, essa bem mais autoritária, me dizia que eu estava sendo dramática. Afinal, eu tinha dezesseis anos e só estava convidando um cara para entrar.
- Voilà – falei, apertando o interruptor.
Atravessei a sala, enquanto Brud olhava ao redor. Não precisei dizer para ele sentar, alguns segundos depois seus pés já estavam sobre a mesinha de centro.
Fui até a cozinha, deixando as chaves em cima do balcão. Abri a geladeira e enchi um copo com agua. Bebi o liquido de uma só vez e depositei o copo em cima da pia, fazendo um barulho oco.
Tudo bem. Eu só precisava fazer Brud vazar dali sem deixar nenhum vestígio. Só precisava manter a calma e fingir que estava confortável em sua presença. Olhei meu reflexo fantasmagórico na janela. A noite lá fora estava clara e era possível ver as árvores de eucalipto distribuídas pelo jardim. O vento fazia as folhas farfalharem calmamente, espalhando um perfume envelhecido pelo ar gélido.
Contei até dez e suspirei exasperadamente.
Abri o freezer. Meu pai não contaria as cervejas, contaria? O que eu faria se ele pensasse que eu andava bebendo escondida?
Fechei o freezer e me virei. Um grito esganiçado ficou preso em minha garganta.
- Quanto tempo se demora pra pegar uma cerveja?
Ele estava perto. Perto demais.
Recuei, esbarrando as costas na geladeira. A cerveja gelada fazia minha mão adormecer, e eu a empurrei contra peito de Brud.
- Você pega a cerveja e dá o fora.
- Eu estava pensando em algo mais interessante... Demorado. Que precisasse da nossa energia – acrescentou.
Minha expressão deve ter sido de choque, por que Brud levantou as mãos em sinal de inocência.
- Policiais costumam guardar coisas bem mais fortes que cerveja na geladeira. Será que ele não tem um Jim Beam em algum lugar por aqui?
- Meu pai não pode te ver aqui – repeti, tensa. – Além do mais, ele não bebe Jim.
A palma de Brud envolveu minha mão, que segurava a cerveja contra seu peito. A luz da lua atravessava a janela, banhando seu rosto e me permitindo ver seus contornos perfeitamente. Ele parecia se divertir com minha tensão.
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Doce Dezembro - Os Mascarados Livro I
Mystery / ThrillerApós dez anos de uma chacina brutal, os mascarados voltaram a atacar, liquidando suas vítimas até sob a luz do dia. Ally Campbell se vê obrigada a acompanhar seu pai, um renomado policial, de volta à cidade na qual sua mãe foi morta, vítima da chaci...