Capítulo Onze

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Parei o carro em frente à minha casa, ainda tremendo.

O interior do Ford tinha o cheiro de Brud. Olhei para o acento de passageiro e percebi de onde vinha o perfume. Um casaco. Seu inseparável casaco preto. O agarrei, vestindo-o imediatamente. Parte dos meus calafrios estavam sendo causados pelo ar gélido.

Outra parte provinha do som oco dos tiros, e da ameaça silenciosa do mascarado do estacionamento, que ainda se repetiam na minha cabeça.

Tirei os sapatos num frenesi. Desci do carro e o tranquei, olhando para os lados da rua escura e deserta. Corri em direção à velha casa, sentindo a calçada húmida sob meus pés calejados. Agarrei o casaco, sem conseguir tirar Brud da mente. Eu não conseguia achar uma razão sequer para ele ter ficado para trás. Ele podia estar morto agora. E era tudo minha culpa. Por que eu não o agarrei e o arrastei comigo?

Eu precisava avisar ao meu pai, precisava contar tudo. Ele acionaria a polícia, se é que alguém já não houvesse acionado. Ele iria resolver isso. Iria acabar com isso, e Brud sairia ileso. Brud, Lucila e a maioria das pessoas que tinham ido à maldita festa.

Destranquei o portão, percebendo, em pânico, que o carro do meu pai não estava na escuridão sob o toldo ao lado da casa.

- Droga – grunhi, com as mãos tremendo.

Lembrei do bilhete que deixei no espelho. Ele o teria visto? E agora estava procurando por mim? Ou a polícia teria sido chamada à festa de Aidan, e ele foi junto? Meu pai era um investigador criminal, mas era possível que tivesse acompanhado a uma operação.

Eu precisava ligar para a emergência para ter certeza de que a polícia tinha sido acionada.

A casa estava mergulhada na escuridão. Fechei a porta atrás de mim, apertei o interruptor e a luz acendeu. Corri até o telefone, que ficava numa mesinha. Disquei o número de emergência, e dois segundos depois uma voz me atendeu.

- Emergência.

- Oi, é... eu quero reportar um... um atentado. Numa festa. Alguém entrou na festa do Aidan Gaulês e atirou várias vezes... eu não vi muita coisa por que fugi...

Não vi muita coisa, exceto o mascarado apontando a arma pra própria cabeça. Não sei por que, mas por hora quis manter essa informação.

- Tudo bem, acalme-se – a voz da mulher soou confortável. – Qual o seu nome?

- Alexandra Campbell.

- Certo, Alexandra. A polícia já foi acionada para a rua Rio Oeste. Recebemos várias ligações. Você está segura?

- É... Acho que estou, sim... Mas, você pode me dizer se o Daron Campbell foi junto?

A mulher ficou em silencio por um segundo, como se avaliasse o valor da informação, então acrescentei rápido:

- Ele é meu pai.

- Ele foi avisado e está a caminho ao local do ocorrido – disse, finalmente.

- Certo – suspirei.

- Posso ajuda-la com algo a mais?

Pensei naquilo por um instante. Ela podia?

- Você sabe se houve algum... morto?

Você sabe quem morreu? era o que eu realmente queria perguntar. Por que no fundo da minha mente, eu sabia que as chances de ninguém ter morrido eram quase inexistentes.

- Desculpe, ainda não obtivemos essa informação.

Desliguei o telefone e fitei o nada por um segundo. Depois disquei o número do meu pai. O celular chamou até cair na caixa postal. Tentei mais uma vez, mas foi em vão. Ele estava bem... era um policial e sabia se cuidar.

Doce Dezembro - Os Mascarados Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora