O xerife Charles Lorence era um homem de poucas palavras. Seu olhar intimidador me deixava pouco à vontade e sua boca em linha reta transmitia a mensagem clara de impaciência. Ele estava exatamente igual ao dia em que eu o vi pela primeira vez; Sério, concentrado e áspero como concreto.
"Você se parece com sua mãe", ele tinha dito, forçando um sorriso. Poucos instantes depois, o telefone interrompeu a breve conversa, e eu me meu pai nos retiramos em direção à Academia Escolar e ao meu primeiro dia em Grace. Naquele dia eu não tinha ideia de onde estava me metendo, mas agora, sentada numa sala de interrogatório, eu começava a perceber que Grace mudaria meu jeito de ver o mundo; eu não estava mais assistindo, eu estava participando do show.
O xerife sentou em uma cadeira à minha frente e arrumou alguns papéis, de forma que eles ficassem juntos e organizados. Me lançou um sorriso curto, apenas para demonstrar que sabia que eu estava ali. Em um dos cantos da sala estava um policial, imóvel como uma estátua.
A sala era escura, não fosse o círculo de luz bem no meio da mesa. Lá fora, o sol ainda não tinha nascido, mas antes de entrar no Departamento vi que as nuvens já exibiam um tom avermelhado ao horizonte.
- Espero que esteja se sentindo melhor – começou o xerife. – Você passou maus bocados.
- Estou melhor, obrigada – mexi os dedos do pé que o vidro tinha perfurado, quase que inconscientemente.
Ele apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos.
- Então, será que você poderia me contar tudo o que aconteceu ontem, desde a hora em que acordou?
Contei que Joana não tinha ido para a escola, que eu havia passado no teste de líderes de torcida e que tinha voltado para casa com Brud porque meu pai não pôde ir me buscar. Contei que ele me convidou para a festa. Disse que havia discutido com meu pai e por isso fugi de casa pra ir à tal festa. Omiti a parte em que o ruivo tentou me matar, ou fazer comigo sabe-se lá o que. Não queria nem pensar naquela parte agora.
Depois disse que quando os mascarados invadiram a festa, deixei o lugar o mais rápido possível e peguei o carro de Brud. E então contei com detalhes como me escondi no banheiro enquanto alguém destruía o quarto do meu pai e tentava me achar.
No entanto, depois de tudo o que falei, o xerife se limitou a perguntar:
- E você tem alguma ideia de por que o Sr. Kingston preferiu ficar na confusão, ao invés de fugir?
- Ele só disse que precisava procurar alguém – falei, depois de um segundo de confusão.
Ele escreveu alguma coisa numa folha e logo depois me encarou.
- E não disse quem seria essa pessoa?
- Não, senhor.
O homem balançou a cabeça, como se estivesse formulando uma ideia.
- Mais cedo, quando Brud Kingston se ofereceu para te dar uma carona... você tem alguma ideia do que ele estava fazendo na escola quando a maioria das pessoas já tinha ido embora?
- Acho que ele e os dois amigos tinham ficado no campo para treinar mais um pouco e, quando eles saíram, eu estava sozinha no pátio – deixei a parte do álcool de fora. – Então ele ofereceu uma carona.
Mais uma vez, ele adicionou umas poucas palavras em um papel.
- Desculpe, mas por que tantas perguntas sobre Brud? Ele está... bem?
- Ele tem uns belos de uns hematomas. Se está bem, não cabe a mim saber.
Os hematomas que ele ganhou na briga com o ruivo, quando me salvou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Doce Dezembro - Os Mascarados Livro I
Mistério / SuspenseApós dez anos de uma chacina brutal, os mascarados voltaram a atacar, liquidando suas vítimas até sob a luz do dia. Ally Campbell se vê obrigada a acompanhar seu pai, um renomado policial, de volta à cidade na qual sua mãe foi morta, vítima da chaci...