Capítulo Três

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Não havia nada demais no prédio recentemente pintado da Academia Escolar de Grace. Suas janelas em forma de arco tomavam quase toda a faixada, e havia um grande relógio numa torre solitária, sob a qual ficava o hall de entrada. Uma fonte no formato de cálice jorrava água em meio a um pátio plano, por onde os estudantes zanzavam.

Qualquer vestígio de coragem que havia dentro de mim se dissipou naquele momento. Depois que saísse do carro, eu estaria na companhia de um monte de gente desconhecida.

Senti o estômago afundar.

Na melhor das hipóteses eu ficaria sozinha durante todo o semestre. Assim como acontecera na escola da Grande Capital depois que meu melhor amigo foi pra faculdade.

- Você vai ficar bem?

Não, não vou!

- Vou – assenti para meu pai.

- Não se preocupe... Tudo vai dar certo. Mantenha em mente que é temporário.

- Você falou a mesma coisa quando Dominik foi embora.

- Tenho certeza de que ele sente sua falta, e que vai dar um jeito de vir ver você.

- Vocês dois sempre falam a mesma coisa – falei suspirando.

Ele também suspirou.

- As coisas não acontecem no nosso tempo, minha querida.

A verdade era que meu pai devia estar sofrendo muito mais que eu. Ele estava sendo obrigado a viver onde cresceu com os pais e onde conheceu minha mãe. Todos mortos agora. Ver o fantasma do seu passado em cada esquina era um desafio emocional.

- Vou sobreviver.

Ele assentiu em tom de encorajamento, e antes que ele pudesse falar alguma coisa me virei para encarar meu novo mundo. Eu não estava confiante, mas decidi que as pessoas não precisavam saber disso.

Nos despedimos, e eu fiquei observando o carro até ele virar na curva e desaparecer por trás das árvores. Depois, comecei a andar para atravessar o pátio. Não era a minha intenção parecer arrogante, mas andei de queixo erguido. Afinal, a melhor forma de se proteger é parecer mais forte do que seu oponente.

E naquele dia todos os adolescentes ali eram meus oponentes.

Respirei fundo e continuei a andar. Algumas garotas estavam reunidas em um grupo mais à frente. Vestiam camisas vermelhas idênticas, e entregavam panfletos para os alunos. Pareciam animadas, sorrindo e conversando com algumas pessoas que paravam para lhes dar atenção.

Quando passei pelo grupo, uma delas se apressou para me acompanhar. Ela era bem mais alta que eu. Seus cabelos negros, lisos e brilhantes caiam por sobre seus ombros, balançando levemente com a brisa. Notei que em sua camisa havia a foto de um lobo cinza com um gorro de natal entre as orelhas.

- Oi, estamos divulgando a semana beneficente dos Lobos Negros – ela enfiou um panfleto, também vermelho, na minha mão. – Iremos organizar uma festa no Spokebar, com open bar. Estamos arrecadando fundos para ajudar a reserva ecológica de Grace.

- Obrigada, mas eu não vou poder ir – devolvi o panfleto, com um sorriso.

- Mas é claro que você vai poder ir! Todo mundo vai estar lá – ela me acompanhou enquanto eu andava. Sua leveza contrastando com meus passos pesados.

- Não é muito a minha praia.

- Eu falei open bar!

- Eu não bebo.

Ela se apressou e parou bem na minha frente.

- Que tipo de gente é você?

Franzi o cenho, me perguntando se era tão difícil entender que eu não estava interessada.

Doce Dezembro - Os Mascarados Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora