"Capítulo VI" Minha guia espiritual Dama da noite...

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Narração da escritora... Brincadeiras... ela em espírito... eu em desdobramento... no mundo espiritual. Caminhávamos pela praia cerca de meia hora. Durante todo o tempo ela permaneceu em silêncio imersa em seus pensamentos. Aproveitei para sentir o calor do sol, observar a imensidão do mar e relaxar, coisas que não fazia há vários anos. De repente, dei-me conta de que estávamos chegando na ponta da praia. Olhei para trás e percebi o quanto havíamos caminhado. Pouco depois, ela parou e sentou-se na areia, sombra de uma árvore. Procurei por algum formigueiro oculto e nada encontrando sentei-me ao seu lado para descansar.

— Veja aquelas crianças -- indicou, chamando minha atenção. Um menino e uma menina, ambos com cerca de quatro anos, faziam castelos de areia. Baldes e pás de plástico colorido eram suas ferramentas. Fiquei acompanhando o trabalho delas durante algum tempo.

— Você já notou como estão concentradas no que fazem? - perguntou. De fato, ambas estavam completamente entretidas em suas atividades.

— Quando eu tinha essa idade e estava brincando, esquecia-me até de comer - comentei.

— E qual foi a última vez que você fez algo que o manteve tão concentrado e lhe deu tanto prazer?

— Quando? A ponto de esquecer de comer? Para ser sincera, não sei.

— Suponho que só mesmo quando era criança - respondi. Ela se ajeitou melhor.

— É curioso dizermos que uma pessoa está brincando quando não está levando seu trabalho a sério. Deveria ser o contrário. Não existe ninguém mais sério do que uma criança brincando. Já pensou como o mundo seria maravilhoso se os adultos se dedicassem ao trabalho com o mesmo prazer e concentração das crianças? - comentou.

— Só poucos têm esta sorte. A maioria considera o trabalho um castigo, um desprazer, sem contar que as horas de trabalho podem ser angustiantes, pois faz apenas para ganhar dinheiro.- observei.

— É também uma questão de ser capaz de ver as coisas por uma perspectiva diferente. Existe uma antiga história que ilustra bem este ponto. Quer ouvi-la? - perguntou.

— Claro que sim.

— Conta-se que no início da Idade Média (três) homens trabalhavam numa pedreira. Tinham a mesma atividade. A diferença é que um estava sempre resmungando, o segundo fazia seu trabalho com total indiferença, e o terceiro era alegre e bem-disposto. Certa vez foram perguntados sobre o trabalho que faziam.

— Eu quebro pedras - resmungou o primeiro.

— Faço blocos para poder sustentar minha família -- disse o segundo, sem entusiasmo.

— Eu trabalho na construção de castelos e catedrais - disse o terceiro, orgulhoso e feliz. Encolhi minhas pernas e me inclinei, abraçando meus joelhos.

— Já conhecia essa história, mas não me lembro de onde - comentei.

— Eu também não me lembro de quando a ouvi pela primeira vez, mas ela é bem adequada para mostrar diferentes perspectivas em relação ao trabalho.

— O difícil é chegar ao nível de achá-lo divertido, como as brincadeiras da infância - desabafei.

— Ser criança é ver o mundo em toda sua exuberância. É mergulhar nele com toda intensidade. Tudo é sempre novo e maravilhoso. As crianças possuem uma energia inesgotável e não conhecem bloqueios... Lembra-se dos seus primeiros anos na escola, quando a professora pedia um desenho qualquer? Não havia problema. Você pegava sua caixa de lápis de cor, e em poucos minutos lá estava sua obra de arte. Ou quando ela pedia uma redação? Era só pegar a caneta, e logo seu texto já estava no papel. Declamar, dançar, representar, cantar... Quando somos crianças, sabemos e podemos tudo - argumentou. Pegou pela haste uma folha que estava caída no chão e girou-a entre os dedos, como se fosse um brinquedo.

Dama da NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora