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dinah pov

Um mês depois.

- Chee, não acha que está exagerando com isso? - Camila me falava.

- Com o que? - Ela me olhou e apontou para o papel que eu escrevia. - Não, por quê?

- Dinah, você está fazendo uma lista pra fazer antes de morrer! - Ela respirou fundo e continuou. -E ela só tem 5 itens, por favor, pare com essa besteira.

- Ela só tem doze itens, porque não me resta muito tempo! - Senti um tapa no meu braço.

- PARE com isso! - Ela gritava entre os dentes. - Você só tem 18 anos, é muito nova pra morrer. Eu estou lhe pedindo, você não pode me deixar assim, você sabe que vou me sentir sozinha, só você me entende. - Foi então que eu percebi que não podia falar da minha morte na frente da Camila.

- Desculpa, mas você tem que começar a se conformar. - Eu lhe dei um abraço apertado, sentindo suas lágrimas molharem meu ombro. - Calma Chan, não quero te ver chorando nunca, por favor.

Não importava o que as pessoas achavam, até mesmo Camila - minha amiga desde infância - eu tinha que me organizar, eu sei que não falta muito tempo para mim. Tem coisas que eu ainda não fiz e que quero fazer, quero tentar aproveitar o máximo, quero fazer as pessoas sorrirem, e não chorarem. Os segundos passam, eu tento correr lutar contra o tempo, mas é impossível, não posso evitar o inevitável.

- Eu preciso muito da sua ajuda, não posso realizar essa lista sozinha, Camila. - Minha garganta ardia, as lágrimas teimosas tentavam escapar, mas eu era forte, não podia me deixar abater. - Você me ajuda? - Ela apenas afirmou com a cabeça.

Minhas seções de Radioterapia, eram uma semana sim, e outra não, começando e terminando aos domingo. Nas semanas que eu não ia para o tratamento, eu ia para o colégio. Por mais tempo que eu economizasse eu queria que as horas da escola, passassem rápido, era sempre assim, contar os segundos para o fim das aulas era uma rotina para qualquer estudante. O diretor havia vindo em nossa sala nos últimos minutos da aula, para avisar que uma aluna nova chegaria, e com aquele mesmo papo de: A tratem bem, sejam convidativos, faça-a se sentir em casa. A fofoca então começou carne nova, essa era uma típica noticia que iria rolar por meses e meses. Assim que o diretor saiu da sala, Camila se virou pra mim, com aquele olhar analisador.

- O que foi? - Perguntei sem saber o motivo de seu olhar.

- Nada! - Me disse dando ombros e virando-se para frente. - Só que... - Ela me olhou novamente. - Enquanto todas estão tentando imagina como será a aluna nova você está ai perdida em pensamentos.

- Mila, você não acha que eu tenho coisas melhores pra me preocupar?

- Dinah, já mandei você parar com isso! - Ela olhou em direção a minha lista. - Eu posso pelo menos ver o que tem escrito nela? Ou não?

- Você tem certeza que quer ver? Ainda não está pronta! - Ela tentou pegar o papel mais eu fui mais rápida. - Não seja curiosa Karla Camila! - Ela me olhou rindo, e me jogou um olhar de: "Não se preocupe, ainda vejo essa lista."

O sábado acabou, assim como a semana também, dando lugar ao amanhecer do domingo ensolarado, e hoje começa minha semana dolorosa, de tratamento. Era a rotina mais tediosa de todas, dizem que é para meu bem, mas eu sei que ela só está fazendo minha morte ser mais lenta. Às seis da manhã, como de costume minha mãe me da um beijo na cabeça, e diz que está na hora de acordar, me arrumo e seguimos para o hospital num silêncio sufocante. Assim que entramos já podemos notar os mesmo rostos - às vezes novos rostos sofridos - sentados cada um na sua solidão, esperando sua vez para começar o tratamento, minha ficha foi a número nove, isso quer dizer que não terei de esperar tanto. Pouco a pouco pessoas vão embora outras chegam, e assim por diante, até chegar minha vez.

A Lista. (Laurinah)Onde histórias criam vida. Descubra agora