Capítulo 1

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Melanie

Mais um sábado de manhã acordando ao som da gritaria dos meus pais. Já estava virando rotina. Hoje eles discutiam sobre algo diferente, algo relacionado a morro, não entendi muito bem, peguei meu celular e vi a hora, percebi que se não fosse me arrumar logo não conseguiria chegar a tempo de fazer o vestibular, depois tentaria entender sobre o que se tratava aquela discussão. Levantei da cama e fui em direção ao banheiro, tomei meu banho, vesti uma calça, uma regata simples e a primeira sapatilha que vi jogada pelo quarto, passei minha base, meu rímel e desci.

Não ouvi mais nenhum grito, isso significava que minha mãe já tinha ido trabalhar. Desci as escadas e observei Rosa, nossa empregada, preparando a mesa do café da manhã.

Mel – Bom dia, queridos.

Meu pai e Rosa responderam em coro – Bom dia.

Sentei na mesa e logo comecei a comer, observei o olhar do meu pai e percebi que ele estava ficando irritado.

Carlos – Anda logo com esse café, Melanie. Já estou ficando atrasado e você também.

Mel – Já estou acabando, pai.

Carlos – Te encontro no carro.

Mel – Sim, senhor.

Terminei de comer e subi as escadas correndo, escovei os dentes, peguei o material necessário para fazer a prova e desci. Dei um beijo em Rosa e fui para o estacionamento entrando no mais novo carro da família.

No caminho, meu pai parecia mais calmo, aproveitei a situação e perguntei sobre a discussão que ele e minha mãe tiveram mais cedo.

Mel – Pai, sobre o que você e a mamãe discutiam hoje cedo?

Meu pai olhou pra mim e exitou em falar mas finalmente soltou algo – Não é nada com o que você tenha que se preocupar, querida. – Ele se enrolou mais ainda.

Mel – Se não é nada por que você está tão nervoso? E por que eu ouvi vocês falando algo sobre morro?

O semblante dele mudou exatamente na hora que eu toquei na palavra "morro" – Melanie, chega de perguntas. Mais tarde, eu prometo que converso com você sobre o assunto.

Deixei passar já que estávamos chegando no local de prova, ele logo trocou de assunto e antes de sair do carro, me desejou boa sorte. Agradeci com um beijo e entrei no campus.

O resto do dia foi um tédio total, eu tinha estudado muito pra esse vestibular, não fiquei tão preocupada e logo que sai, fui comer alguma coisa, estava morta de fome, literalmente. Foram quatro horas de prova e eu já não aguentava mais ouvir aquele som irritante do ventilador. O que não saia da minha cabeça era a conversa que tive com meu pai no carro. Meu pai sempre escondeu coisas de mim e por mais que ele seja péssimo nisso, eu nunca me importei. Mas dessa vez, eu estava ficando curiosa.

Assim que terminei de beber o suco que pedi, paguei e desejei um ótimo dia de trabalho pras moças que trabalhavam na cantina do campus. A faculdade que eu escolhi era linda e eu estava ficando ansiosa pra estudar ali. O curso que eu escolhi foi Turismo, sempre foi meu sonho, desde pequena. Chamei um táxi e dei o endereço do shopping. Ele assentiu e permaneci quieta até o fim da viagem. Assim que cheguei lá, fui em direção a uma das minhas lojas preferidas, comprei várias roupas, olhei o relógio e a hora marcava 15:40. Decidi ir pra casa e começar as perguntas sobre o acontecido de manhã.

Preferi ir andando já que meu condomínio não era tão longe dali, ajeitei as sacolas que carregava na mão e fui.

Assim que cheguei na porta de casa ouvi os gritos da minha mãe, imaginei que meus pais estivessem discutindo.

Entrei na sala e ouvi minha mãe dizer – Nem morta que eu vou morar em uma favela, não casei com você pra aturar isso, eu vou embora e espero nunca mais encontrar contigo. – Deixei minhas sacolas caírem no chão e só consegui soltar um "eita" em resposta, fiquei encarando os dois sem entender nada.

Papai pediu que eu me sentasse que ele iria me explicar tudo mas eu neguei, só conseguia imaginar como a minha vida seria daqui pra frente com essa notícia.

O Dono do Morro RivalOnde histórias criam vida. Descubra agora