Capítulo 19

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Diego

Depois que apresentei a Eduarda como minha fiel as coisas esfriaram, eu sei que deveria e sou até, bastante grato por tudo que ela fez por mim e hoje eu tentaria me retratar.

Cheguei no local da ocorrência e comecei a beber, dei toque com os menor que estavam no camarote e avistei ela de cantinho bebendo e dançando sozinha, não aguentei e fui atrás. Comecei a beijar o pescoço dela e dançar conforme a música tocava, ela rebolava pra mim e eu apertava sua cintura cada vez mais forte. Quando virou, gritou e disse — Você?! — Sou eu. Respondi e puxei ela pra um beco, dei um beijo no canto da boca, coloquei minha mão no seu pescoço e logo depois ela se afastou gritando comigo — Tu é maluco? Tem algum problema mental? Eu não acredito que você fez toda aquela palhaçada comigo, de me apresentar como fiel, pra me largar de qualquer jeito e ainda ficar catando qualquer uma por aí, sabe como são as coisas dentro de comunidade, o tanto de merda que eu tive que ouvir por sua culpa! Sem postura alguma.

Começou a escorrer uma lágrima do olho dela e eu fiquei sem reação, sei que não sou nenhum santo mas a minha intenção não era machucar, nunca foi. Puxei ela pra um abraço e ela caiu em choro. Dei um beijo na testa dela e comecei a falar — Duda, tu é o amor da minha vida, me desculpa, qual foi? Sabe que eu te amo.

Lorenzo

Minha mulher estava mais linda que qualquer uma desse morro, sem neurose. Fui criado sozinho desde pequeno mas desde que conheci essa mina, mudou minha vida pra melhor, me faz um bem enorme e quando tô com ela, as coisas são diferentes. Hoje o pau ia quebrar sem leme.

A música tava rolando desde cedo, teve brinquedo pras crianças de tarde e de noite alguns DJ's já foram se ajeitando, os famosos iriam tocar só de manhã. Quando deu umas 3h, subi no palco e comecei a falar muito embrazado — Então, rapaziada, sei que vocês odeiam quando para a música, seja pra momento de silêncio ou qualquer aviso mas hoje eu precisava mostrar pra vocês, meu maior presente desse ano. Puxei a gata do meu lado e disse — É ela, o 2L ta casadão, porra! Vamo beber. Fiz um toque pro DJ e ele soltou o 180bpm. Dei um beijo na Mel e sussurrei no ouvido dela — Hoje eu vou te fazer minha mulher. Larguei um tapa na bunda dela e sai andando, deixando ela lá dançando com as amigas e se divertindo. 

Carlos

Minha história sempre foi um pouco complicada, nasci dentro da favela e tinha tudo pra ser um menino prodígio e vendo tudo de longe, até que consegui bastante coisa até aqui. Quando o chefe do tráfico de onde eu morava morreu, eu deveria ter uns 17 anos. Dinho era como um pai pra mim, ele sempre me ajudou em tudo. Depois da morte dele, eu cheguei a sair do tráfico, queria largar dessa vida. Já tinha pago minha dívida com ele.

Mas as coisas não são tão simples assim. Setores da polícia não viram com bons olhos a minha saída, eu era importante, tinha conceito. Ameaçaram minha mãe, ou eu voltava pro tráfico ou acabaria mal pra ela. Precisei reassumir as coisas, o que vocês fariam no meu lugar? As vezes eu penso que minha vida daria um filme.

Quando eu passava pelas vielas as pessoas me viam como um rei mas eu nunca me comportei como um, sempre me considerei um peão, andava com camisa de time e chinelo. Minha preocupação era ajudar as pessoas, nada de ostentar.

O tempo foi passando, conheci Patrícia em um dos bailes que acontecia por aqui. Lembro como se fosse hoje. Aquele cabelo liso, um olhar brilhante, toda patricinha perto das amigas. Ela sim, nunca passou dificuldade, tinha do bom e do melhor, até me conhecer.

Nos aproximamos, casamos, tivemos uma história igual aquele filme famoso da TV. Era uma vez. Quando a Melanie nasceu, larguei tudo na mão do Alves e sumi da favela. Não queria que ela crescesse aqui. Os pais da Patrícia, por incrível que pareça, aprenderam a gostar de mim. Assumi meu papel de homem e fazia bicos pra ajudar nas contas da casa. Meus sogros foram essenciais. Quando Melanie fez 1 ano ela desenvolveu uma doença, o dinheiro que tínhamos não era suficiente pra pagar o tratamento.

Minha vida a partir dali foi andar por hospitais, consultórios e centros de diagnóstico. A divida médica foi aumentando e pra arcar com os custos precisei pedir um empréstimo pra única empresa disposta: o tráfico de drogas. Me coloquei a dispor do Alves e a dívida só foi aumentando. Eu pagava com o que conseguia. Depois de fazer alguns cursos e estudar muito, consegui emprego na empresa. Quando fui efetivado comecei a desviar dinheiro, comecei pegando 15$, 20$ e meus superiores nunca perceberam.

Já tava farto daquele desgraçado mal agradecido me cobrando o que eu devia mas não queria perder minha família, comecei a ser mais abusado e acabei perdendo tudo. Tive que voltar pra comunidade, com a Mel e sigo até hoje aqui. Fico triste por minha mulher ter me abandonado quando mais precisava do apoio dela mas não tenho o que fazer. Anda no barco comigo ou morre afogado.


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⏰ Última atualização: Jan 08, 2020 ⏰

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