Capítulo 3

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Melanie

Eu ainda estava na esperança de ser apenas mais uma brincadeira de mal gosto do papai, mas não, eu vi que era real quando começamos a por as malas no carro e ir em direção ao morro, quando subimos vi várias mulheres e crianças na rua, elas brincavam como se não tivesse motivo algum pra se preocupar, elas estavam felizes com um imenso sorriso no rosto, o som alto tocando funk e várias meninas andando com roupas que pareciam mais uma calcinha.

Me desliguei do meus pensamentos quando o carro parou. Para uma favela, eu imaginei um barraco, mas não, era uma casa aparentemente grande, com dois andares, na porta tinha dois caras extremamente armados e um deles veio falar conosco, um tal de Alves, confesso que ele era bem tenebroso e me deu arrepios.

Eu não falava nada desde que cheguei ali, Alves parecia ser amigo do meu pai há um bom tempo, pela forma que eles conversavam parecia que eles não se viam há anos, ele fazia algumas brincadeiras pra tentar me "animar" e em resposta eu apenas dava um sorriso torto. Quando desistiu de continuar, apenas me cumprimentou e disse pro meu pai que voltaria mais tarde, que tinha uns assuntos importantes pra resolver.

A casa tinha uma área pra piscina e a sala era bem grande. Meu pai pediu para que eu deixasse as minhas malas no meu novo quarto e assim que eu acabasse de ajeitar minhas coisas, descesse para ele apresentar o resto da casa. O quarto que meu pai escolheu pra mim era aparentemente confortável, tinha um closet enorme e uma cama de casal. Me joguei ali e fiquei pensando em como minha vida seria morando em uma "favela". Mas qual é, se vocês estivessem na minha pele, não gostariam de passar por isso também. A minha vida toda eu fui criada cheia de luxos, com um condomínio virado de frente pra praia e de uma hora pra outra, fui jogada em uma casa no meio do morro.

Deixei minhas coisas largadas por ali e desci, não estava afim de arrumar nenhuma mala agora.

Meu pai estava sentado na sala e assim que me viu, levantou e abriu um sorriso.

Carlos – Melanie, querida, o que achou do seu novo quarto?

Melanie – Não é nada mal. Até que eu gostei. O meu closet antigo era bem maior, claro, mas eu posso lidar com isso – Soltei umas risadas.

Carlos – Acho que essa nova mudança vai ser boa pra você, sua mãe sempre te criou cheia de mimos e eu não gosto disso, você vai ter que aprender a ser mais humilde, aqui as coisas não são que nem você está acostumada a ver.

Melanie – Tudo bem, pai. Eu só espero que você me explique o que te levou a morar aqui, vou fazer o meu melhor.

Carlos – Sei que sim – Ele sorriu e ignorou minha pergunta, depositou um beijo na minha testa e me convidou pra conhecer a casa – Venha, vamos conhecer o resto.

Acompanhei ele por todo canto. Alves não estava mais ali, sua presença me incomodava, havia algo nele que não me passava confiança. É claro que eu nunca comentaria isso com o meu pai, não queria estragar nenhuma amizade. Como eu disse, a casa era bem grande, tinha três quartos, um seria pra Rosa, como meu pai queria gastar o menor dinheiro possível, ela só viria três dias na semana pra limpar a casa e deixar a comida pro resto da semana. A cozinha era linda, vários detalhes em preto e branco. Confesso que amei a área da piscina, passaria o resto dos meus dias ali.

Daqui pra frente, seria assim, meu pai e eu. Eu fiquei triste por minha mãe ter ido embora mas por incrivel que pareça não fiquei me lamentando por isso, relutei muito em casa para que ela não fosse mas ela decidiu ir, disse que iria ficar um tempo na casa da vovó e depois iria viajar, eu queria ir com ela mas não tive escolha. A idade atrasa.

Carlos – Filha, está tudo bem?

Melanie – Sim, pai. Só estou pensando em algumas coisas.

Carlos – Sempre que precisar de algo venha falar diretamente comigo, ok?

Balancei a cabeça dizendo um "sim".

Carlos – Vamos as duvidas, o que você quer saber?

Melanie – Por que viemos morar logo aqui? Não poderiamos alugar uma casa ou um apartamento mais barato?

Carlos – Melanie, eu fui demitido por roubar verbas para quitar as dividas que tinha com Alves. Eu dei tudo do melhor pra você e pra sua mãe enquanto trabalhava naquela empresa mas infelizmente, por enquanto, eu não tenho como continuar com isso. Vim morar aqui porque seria a forma mais fácil de conseguir levantar algum dinheiro, eu já fazia isso antes e é algo que a gente nunca perde o jeito, entende? O dinheiro que tenho na conta conjunta com sua mãe é bem capaz que não dure por muito tempo. Não se preocupe, meu bem, se sua maior preocupação é a faculdade, nada vai te impedir de seguir seus sonhos.

Abracei ele e fiquei um bom tempo em seu braços. Meu pai sempre foi meu porto seguro.

Carlos – O que você acha de um churrasco de boas vindas?

Melanie – Não acredito que está rolando um churrasco de boas vindas e você só veio me contar agora. Pai, eu tô morrendo de fome!

Carlos – Você nunca perde essa mania, não é mesmo?

Ficamos rindo um bom tempo juntos e saímos dali em direção a casa do Alves. Ele havia convidado os mais íntimos pra nós receber.

O Dono do Morro RivalOnde histórias criam vida. Descubra agora