Vadinho

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Vadinho


André Albuquerque

O conto narra uma briga de quadrilhas de traficantes, ocorrida no denominado polígono da maconha, no Nordeste do brasil.



O ônibus estacionou, ao final da viagem de dez horas. O relógio do terminal rodoviário marcava cinco horas e vinte minutos. Os passageiros desocupavam o carro, alguns ainda sonolentos, sem perceber o bom-dia do motorista. Ao lado do veículo, outros aguardavam a abertura dos compartimentos de bagagem, com o bilhete da viagem nas mãos.

O homem moreno, de estatura mediana, tinha uma cabeleira escura, onde se insinuavam fios grisalhos. Vestia um casaco marrom de couro, aberto à altura do peito, sobre uma camisa quadriculada, entreaberta, exibindo um crucifixo. Calçava botas marrons de cano curto, empoeiradas e de saltos desgastados. Olhos castanhos, meio escondidos pelas pálpebras volumosas.

Ainda sonolento, procurava o bilhete de passagem nos bolsos traseiros da calça jeans. Depois de algum tempo, resgatou sua bagagem, agradeceu ao despachante e dirigiu-se à lanchonete, transportando sua mala. Olhou ao redor. Todas as mesas ocupadas. Aproximou-se do caixa e pediu um sanduíche e um café preto grande, enquanto estendia o dinheiro e bocejava, levando a mão à boca. O caixa agradeceu.

─ Seu troco. Obrigado, senhor.

Acomodou-se num canto mais livre, na extremidade do balcão. O café forte dissipava a fadiga e a sonolência da viagem.

Chegavam quase à mesma hora, os ônibus com passageiros do sertão e do agreste. Depois, a dispersão para os bairros do subúrbio, destino da grande maioria. Um homem idoso desocupou uma cadeira, mas o choro da criança na mesa vizinha desestimulou – o a sentar. A sonolência deixava-o impaciente, até o café restaurar-lhe o ânimo e a lembrança do irmão, atrasado mais de meia hora. Checou o celular e olhou ao redor. Nada de Roberto.

A criança e sua mãe desocuparam a mesa. Tomou da mala e sentou. Relaxava, estirando braços e pernas, após a viagem de mais de quinhentos quilômetros, numa poltrona que mal lhe permitira mover os pés.

Um rapaz aproximou-se da sua mesa, com uma bandeja de café, suco de laranja e dois sanduíches. Olhava em torno e percebeu a cadeira vizinha desocupada. Pediu licença e sentou-se. Era alto, musculoso, pele clara, olhos inexpressivos, encimados por sobrancelhas aparadas, um corte de cabelo semelhante ao de um jovem cantor americano, idolatrado pelas adolescentes, cujo nome não conseguiu lembrar. Trajava uma calça caqui de grife, camiseta preta com uma frase em inglês e tênis de solado reforçado, com detalhes dourados.

─ Tudo bem? Desculpe a intromissão, mas isso aqui está parecendo mais um formigueiro.

─ Essa hora, parece que todos os ônibus do interior chegam juntos.

─ Pois é, estou aguardando um tio que vem de Petrolina e o ônibus vai atrasar. Saí de casa ás quatro da matina para recebê-lo e até agora, nada.

─ Saiu o aviso no alto-falante. Parece que o ônibus quebrou perto de Lagoa Grande.

─ Caraca. São quase setecentos quilômetros e o celular não consegue contato.

─ E a empresa de ônibus?

─ O guichê ainda está fechado.

─ Esses caras são muito folgados.

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