21 de Dezembro
As ruas estavam todas pintadas de branco e era incrível como algumas crianças saiam à rua para criarem autênticas batalhas com bolas de neve, usando os jardins das suas casas para fazerem também os territórios inimigos. Elas riam-se do impacto da bola mal feita nas suas caras e corriam atrás uns dos outros para se vingarem. Era deveras educativo - que cada ação teria uma paga - e divertido. Para Ishii, que assistia a tudo isto, era uma memória como tantas outras que não poderia agarrar. Já não era uma criança mas sim um adolescente prestes a entrar em fase adulta. O que seria para ele depois uma diversão ou uma preocupação?Colocava agora o cachecol mais para cima, tapando parte do rosto, com o objetivo de aquecer o seu nariz. Era a sua imagem de marca aquele cachecol, em que estação fosse ele estava presente, de cor vermelha. Aquela cor era viva e Ishii achava que o próprio cachecol carregarava a sua felicidade e vivência, pois já o tinha desde os 7 anos como prenda de Natal do avô.
- Vou-te acertar! - gritou Floris atrás de uma árvore com um pedaço de neve.
O rapaz que estava de costas a caminhar, ao virar-se para estar de frente para a irmã acaba por levar com a bola em cheio no seu peito.
- Peste, que estás tu a fazer?!
- Estou a tentar que tu participes nesta brincadeira. - cruzou os braços. - E eu não sou uma peste! - protestou.
- Anda, temos que ir para casa.
- Não!
- Tu obrigaste-me a ver o teu espetáculo de dança e agora estas a fazer birra para não ir para casa? Olha que os pais já vão ali à frente. - apontou para duas figuras ao longe.
- Quero que tu brinques comigo.
- Eu já não sou uma criança.
- Anda lá. - fez beicinho.
- Pronto, está bem. Convenceste-me.
Começou a pegar em neve e a fazer bolas rapidamente, atirando-as de seguida.
- Mano, tem cuidado! Eu sou campeã de lançamento de bolas de neve! Ganhei o prémio.
- Que premio? Não existe nenhum!
- Existe sim! Fui nomeada pelos meus amigos. Isso é tudo inveja. - colocou a língua de fora.
- Então eu sou o ex-campeão.
As bolas iam e vinham numa velocidade tal que passado alguns minutos quase parte da vizinhança assistia à tão grandiosa luta, juntando-se novos e velhos à brincadeira. Era engraçado até onde aquilo levou, acabara com os pais a chamar os dois à razão por terem ficado para trás e os deixarem preocupados.
Ishii sentia-se oprimido, pensava que não podia voltar a sentir-se como uma criança mas a verdade é que agira como uma e se divertira como há muito não se divertia. Era uma felicidade tão grande que o fizera ir até casa com um sorriso genuíno no rosto, empurrando a irmã e esta fazia a mesma coisa, ou pelo menos tentava, já que era pequena, nova e não tinha grande força.
Permitiu sentir-se livre e sem o peso de medir as suas atitudes.
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O Cachecol Vermelho (#NatalUnidos)
Short StoryIshii sempre foi um rapaz peculiar, curioso, dotado de uma inteligência e vontade própria capaz de convencer e mover pessoas. Ele não ligava a materialidade, gostava de andar pelas ruas a mostrar a sua liberdade e a procurar o que fazer para ajudar...