Recomeçar

Cap. 7

Julio

Faz uns quinze dias do acidente, ainda estamos na minha casa, o pessoal da pousada e o Lucas quando não ligam vem até aqui falar com o Le, já sabia que ele era querido por todos, mas não imaginava o quanto; devido a cirurgia por pelo menos um mês ele não voltará ao trabalho, e pelo que Risto disse quando veio aqui acho que nos próximos seis meses o máximo que ele irá fazer será atender o telefone, aquele gringo é muito mandão, mas dessa vez eu gostei vou ter ele só pra mim por mais tempo.

Nesse período sempre dormimos juntos, é um começo de namoro – embora não oficialmente – diferente e que estou amando cada segundo, hoje vou aproveitar que preciso levar algumas encomendas pro Correios e preparar a surpresa pra ele; como está tomando remédios não posso comprar nada alcoólico, então comprei água com gás para saborizar e fingir que é champanhe, encomendei em um restaurante uma massa e uma torta de chocolate (percebi que ele é um pouco chocólatra). Passei em uma loja para comprar uma roupa especial para usar a noite e acabei comprando uma camiseta pra ele também.

Cheguei em casa e dei um jeito de ele já ir tomar um banho, fui logo depois, mas me demorei muito – de propósito – saí do quarto praticamente na hora da comida chegar, fui à cozinha, preparei uma jarra com alguns limões fatiados e folhas de erva cidreira, coloquei a água e deixei na geladeira, fui atender à porta e com o rabo de olho vi que ele estava me seguindo com o olhar, pra minha infelicidade reconheci o motoqueiro, era um dos meus ex, dei um jeito dele ir embora logo e sem querer acho que o Le percebeu, droga, fui até a cozinha montar a mesa; ele não queria ir jantar comigo, tinha emburrado, eu já estressei, fui para o quarto e me tranquei, me arrependi um pouco depois já que ele estava machucado e o sofá não era tão confortável assim, porém a porta não abriu antes do sol aparecer.

Leandro

O Júlio chegou da rua meio estranho, me apressou pra tomar banho e só depois entendi o pq, ele queria sair e não me queria atrasando, vi quando a comida que ele pediu pra mim jantar chegou e ele levou até a cozinha só voltando pra me chamar antes de sair, fiz birra e não fui, estava com muita fome mas não iria até ele sair, me surpreendi quando ele virou para mim com uma cara de decepção e foi até o quarto batendo a porta, fingi não me importar, peguei as muletas e fui à cozinha, tinha uma mesa linda posta para dois, a comida do restaurante enchia os olhos, no centro uma jarra de água, acho que entendi agora e me arrependo em dobro, fiquei com ciúmes e não pensei que tudo aquilo pudesse ser pra mim. Vou até o quarto e bato na porta, ele não responde e está trancada, acho que errei feio. Minha fome vai embora, mas pelos meus remédios tenho que comer, engulo um iogurte que tinha na geladeira, guardo toda a comida nela para comermos depois, passo a madrugada pensando no que fazer para pedir desculpas, são quatro da manhã e nada, daqui a pouco o dia nasce e eu ainda estou sem dormir sentado no sofá. No desespero entro na internet e por sinal divino em um site de notícias qualquer tinha uma receita de panqueca, é isso, ele queria me agradar com comida, vou retribuir à altura. Leio, releio a receita, não entendo nada, vou para o youtube e alguma santa alma me mostra como faz, mas tem que bater no liquidificador, ainda bem que o sono dele é pesado, faço o mais rápido que posso o recheio, e enquanto ele esfria faço a massa, mas a parte da frigideira é a mais difícil, demoro a sair uma massa certa, continuo tentando, no final poucas deram certo, faço mais massa e assim consigo uma quantidade razoável, monto as panquecas de frango e algumas faço de queijo, ralo um pouco de mussarela por cima e cubro, faço um suco natural, quando acabo tudo é que vejo meus pontos que já tinham praticamente fechado sangrarem, abusei demais, vou ao banheiro, limpo e finjo que não está doendo, me deito no sofá e adormeço. Acordo com os passos dele pelo corredor, ele foi até o banheiro, corro pra cozinha, tinha deixado a mesa que ele montou ainda posta, mas no lugar do nhoque do quase jantar anterior coloco as panquecas enquanto na jarra não há mais aquela água e sim um suco de melancia que fiz para nós, me sento ao lado da mesa e espero ele vir para a cozinha, mas o que ouço é apenas a porta da frente batendo e o barulho do motor da moto dele rua abaixo. Acho que mereci essa.

Vou me levantar e sinto uma dor aguda na perna, olho para baixo meus pontos estouraram, eu já até havia retirado os pontos da cirurgia, mas ainda não estava 100% fechado, agora abriram de vez e escorre sangue pela minha perna, pego meu celular e chamo o Lucas, enquanto ele não chega faço um bilhete para o Júlio e tento comprimir o sangue com gaze. Chegando ao hospital o médico examina o meu ferimento e me diz que terei de ficar em observação para ver se não teve alguma infecção, mas aparentemente eu só forcei demais.