Cap. 11

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Dois meses depois

Leandro

Já me recuperei totalmente da cirurgia, ainda não voltei pra pousada pq estamos em uma época mais fraca e o Risto não quer que me esforce, aproveitei esse tempo para criar o kit que havia pensado, alguns motéis da região e da capital mostraram interesse, pois pode ser um kit delicado ou erótico, depende apenas da forma que eu usar, quando eu era mais novo trabalhei em uma confeitaria, sei fazer trufas e bombons, estou fazendo em pequenas porções com formatos delicados de rosas e também em outros tipos, o Risto foi naquela loja de essências e comprou algumas que pedi, fizemos tudo sem o Julio saber, estou aproveitando que ele foi buscar mais material e iria ficar dois dias fora para deixar tudo pronto, a caixinha ficou linda, mandei uma foto para os meninos e eles amaram, estou ansioso pelo Julio chegar e ver, tenho certeza que esse produto fará sucesso, e assim vou ficar de vez aqui com ele.

Ouço um barulho na porta, deve ser ele, vou até a sala e o ajudo a descarregar o carro – claro que ele não me deixa pegar quase nada – deixamos tudo na sala e o convenço a ir tomar um banho, enquanto ele está no chuveiro coloco as caixinhas na nossa cama e o aguardo, a porta do banheiro se abre e meu sorriso aumenta, não sabia que estava com tanta saudade assim, ele vê as caixinhas na cama e fecha o rosto, não entendo

- Amor, olha essas caixinhas, o que você acha?

- Pq você comprou isso?

- Não, fui eu quem fiz

- O que?

- Escuta, estive pensando, o Risto me ajudou, criamos essa caixinha, tem vários interessados e...

- Pq você se meteu no meu trabalho?

- Mas eu não me meti, só quis te ajudar

- Ajudar? Eu não disse que precisava de ajuda

- Não, não disse – meus olhos já estavam lacrimejando, eu nunca esperaria essa reação dele

- Nunca mais se meta no meu trabalho

- Pode deixar, nunca mais me meto na sua vida, isso sim, seu ingrato, quis te ajudar, ampliar seu negócio, inovar e você me acusa de "me meter no seu trabalho"

Saio da casa dele mancando, só peguei minha carteira que estava na sala, peguei um táxi no caminho e fui pra minha casa, me tranquei lá e apenas chorei, não tentei entender a reação dele, apenas entendi que ele não me aceitava, nem se quer olhou minha ideia, meu pequeno projeto, se não gostou tudo bem, era só falar que poderíamos melhorar, mas isso? Eu nunca imaginei.

Faz uma semana que não saio de casa, mas tenho que me sustentar, vou pra pousada trabalhar, chega de me chafurdar por homem, eu quase morri uma vez de verdade e não vai ser uma dor de amor que vai me matar.

Me arrumo ao máximo e vou para a pousada, passo o dia todo trabalhando e quando qualquer um vem falar comigo qualquer coisa que não seja trabalho já corto logo e mando embora, o Giu disse que vai respeitar o meu tempo mas que quer saber o que aconteceu, no final do expediente vou pra casa e a campainha toca e um gigante loiro entra sem ser convidado, ganha um chocolate – nem posso mais pensar nesse doce que fico triste, que merda – quem adivinhar, isso mesmo Risto

- Agora você vai me falar direitinho o que aconteceu

- Não tenho nada pra falar

- Tem sim, primeiro já está recuperado pra voltar a trabalhar feito um doido como fez hoje? O pq você saiu da casa do Julio há uma semana e não falou com ninguém, ficou trancado aqui sem nem telefone? E nem tente mentir pra mim

- Risto, eu não quero falar sobre o Júlio

- Problema seu, vai falar do mesmo jeito, desembucha

- Estou recuperado, minha perna dói um pouco mas estou com ela quietinha agora, amanhã pego mais leve

- Bom, e a outra pergunta

- Ok... lembra daquela ideia que tive?

- Do kit banho e chocolate?

- Que nome feio, mas é isso mesmo

- Sei, e daí?

- Daí que montei alguns com todo o carinho pra mostrar pra aquele troglodita que me acusou de ficar me metendo no trabalho dele, se não gostou falasse, mas aquilo que ele fez não, só vim pra minha casa e quis ficar sozinho, estou bem tá vendo?

- To vendo um cara magoado e imaginando os socos que vou dar em outro

- Risto não, eu quero esquecê-lo, não se envolva

- Por enquanto não farei nada, mas não espere que vou ficar quieto por muito tempo

Se passou um mês desde essa conversa, aos poucos fui voltando ao trabalho e hoje estou no ritmo normal, nunca mais o vi, acho que só serviu pra aumentar a mágoa, sempre espero ele vir às terças feiras, mas vem apenas um moto-taxi com a caixa de entregas, as embalagens estão feias, mal feitas, pra não pegar mal para a pousada estou arrumando escondido.

Outro dia ouvi uma conversa do Risto com ele que tivemos reclamações de clientes, que se houvesse mais alguma cancelariam as compras, fico preocupado com ele, mas não vou me meter. Ele que se vire, estou chateado, mas não quero o mal, se ele me pedir eu ajudo.

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