Cap. 5

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Julio

Acordo com ele em meus braços, o cabelo esparramado pelo travesseiro, ele está quase em cima de mim me abraçando, sinto seu cheiro, me mexo um pouco, ele resmunga em meio ao sono e sai de cima de mim, vou até o banheiro, tomo um banho, corro até a padaria mais próxima e volto com o café da manhã, enquanto arrumo a mesa ele aparece todo descabelado com uma cara emburrada reclamando que me procurou e eu não estava em lugar nenhum, levantei o saquinho de pão de queijo e o outro de carolinas e ele voltou a ser criança, sai correndo tirando da minha mão e comendo tudo sem mastigar. Ele ainda não sabe que vai ficar o dia todo comigo.

Quando ele se enche de comida – e ainda fala que se cuida pra manter a forma, se eu comer a metade disso engordo o triplo – eu posso começar a comer, enquanto isso ele vai se arrumar, volta lindo, com uma calça azul clara bem grudada, uma camiseta bem cavada e decotada preta e os cabelos presos, aquilo alí é um rímel? Eu só pergunto onde ele pensa que vai

- Pra casa, temos que pegar a estrada lembra?

- O que eu lembro é que hoje estamos de folga e não saio daqui de jeito nenhum

- Mas como assim? E o meu trabalho?

- Relaxa que tá tudo certo, aqueles malucos estão comigo nessa

- Bando de traíra, mato um por um quando voltar

- Mata nada

- É verdade, mas me deixa pensar em mil maneiras diferentes de tortura-los, essa vingança já é o suficiente

- Tá, agora vem aqui – e vem rebolando mais que a Gretchen – o coloco em meu colo dando um beijo de bom dia, o homem distraído – Bom dia né?

- Aé, ótimo dia

Passamos a manhã toda assistindo tv, ele gosta de alguns filmes clássicos – sóquenão – assistimos um filme francês, eles tem um humor diferente, gosto disso, quando terminou pedimos uma marmita pro almoço – eu estava com preguiça de cozinhar e mais ainda de ir comprar os ingredientes no mercado – e pra variar ele comeu feito um boi novamente, acabamos dormindo no sofá, quando acordei já eram quase cinco horas, fui tomar um banho e me preparar, ele acordou enquanto tomava banho e ficou me olhando no chuveiro, tive vontade de fazer o mesmo, mas ele me fez sair de lá, entendi que ele não queria que eu visse as cicatrizes, coloquei apenas uma calça de moletom fina, pedi uma pizza pro jantar, ele voltou com uma bermuda jeans e camiseta, assim que a pizza chegou começamos a comer, o convenci a assistir mais algum filme, sentei no sofá e ele deitou no meu colo, comecei a fazer um cafuné, por mais que eu ansiasse por sentir o seu corpo eu queria que ele se soltasse comigo e confiasse em mim primeiro, não o quero para apenas um caso, então vou esperar.

O filme termina e vamos dormir, percebo que ele ainda está meio receoso, desde que o conheci nunca ouvi que ele tenha ficado com alguém, o puxo para o meu peito novamente e não resisto

- Le, não precisa responder se não estiver pronto, eu vi suas cicatrizes e o Giu comentou algo sobre um incidente mas não disse mais nada, eu associei uma coisa à outra, estou certo? – ele trava mas concorda com a cabeça – não precisa contar se não quiser, quero saber mas vou esperar o seu tempo, quero que confie em mim, só vou tentar algo quando você estiver pronto tudo bem?

- Tá certo, não consigo contar tudo, nem mesmo meu irmão sabe, em resumo, naquele dia eu tinha ido à casa de um amigo, ele era bi, ficávamos as vezes e eu me apaixonei por ele, resolvi me abrir e falar, ele ficou estranho e me disse que não poderia corresponder e que estava para se casar com uma mulher da cidade dele, fui embora mas já era tarde, não era tão longe de casa assim e fui a pé, encontrei um desses grupos que pregam a intolerância, me ofenderam verbalmente e eu continuei andando, me seguiram e me agrediram, o final da história, quase morri, perdi o baço, meu fígado foi rompido e perdi uma grande parte, meu rim foi prejudicado, quase perdi a visão e um deles quando foi me derrubar usou alguma coisa que causou a queimadura que viu.

Putaquepariu, não acredito, agora entendo as crises de pânico, ele revive esse dia, o abraço apertado e as lágrimas que ele segurava escorrem pelo meu peito. Peço para ele retirar a camiseta, ele nega mas eu insisto, beijo cada cicatriz, elas são grandes mas não me importo, são as provas de sua luta pra continuar vivo, admiro seu corpo com minhas mãos e boca, o acaricio, beijo, lambo mostrando o quanto o quero, beijo sua boca que está meio salgada das lágrimas que caíram, o aperto em meus braços e sinto que ele se rende, ainda não estamos prontos para mais um passo, vamos encerrando os beijos terminando em pequenos selinhos apenas para não deixar nossas bocas afastadas por muito tempo, nossa respiração vai voltando ao normal, dessa vez eu que deito em seu peito como um gatinho querendo aconchego, ele brinca com meus cabelos até que eu caia no sono.

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