Leandro
Hoje é o dia da viagem, minha mala da Hello Kitty está montada, ela é enorme, pra me produzir leva tempo e muito material, acordei depois de alguns sonhos molhados com um certo cabeludo e agora estou no chuveiro tentando acalmar meus amiguinhos que acordaram animados hoje, se eu tivesse alguém... um certo cabeludo, fudeu, vou ficar algumas horas dentro do mesmo metro quadrado que ele, o que eu faço? Não vai dar pra pular no colo dele e dar uma cavalgada, então vou colocar uma cueca bem apertada pra ver se segura esse pau quieto.
Termino de me arrumar, pego a caminhonete da pousada e vou até a casa do Julio para busca-lo, como ele conseguiu? O bofe está ainda mais lindo, deu uma aparada na barba, os cabelos molhados, uma camiseta bem justa e uma calça jeans marcando aquela bunda, eu deixo ele ir dirigindo pra poder admirar ainda mais a beleza daquele homem. Passamos a viagem toda praticamente em silencio, as músicas tocadas eram do meu pen-drive, ele não reclamou de nenhuma e até aumentou o volume quando tocou Toxic da Britney, estranho, achava que ele fosse da turma do rock, fomos até o fornecedor da pousada, o Risto quis trocar todas as roupas de cama e banho, ele faz isso a cada troca de temporada, e os usados ele manda lavar tudo e entrega para um asilo da cidade. Quase encho a caminhonete com os enxovais novos, vamos até o apartamento, descarregamos tudo, já que vamos ter que andar pela cidade é arriscado sair com toda essa carga. Almoçamos em um restaurante e vamos até um dos fornecedores dele, só que no caminho passamos pelo meu antigo bairro, senti meu corpo se arrepiar de medo, afinal foi aqui, só me lembro de voltar a consciência com o Julio me abraçando e falando alguma coisa no meu ouvido, não sei direito o que era, tive mais um ataque, isso não podia ter acontecido. Ele me pergunta se eu quero voltar e digo que não, afinal ele está me ajudando e eu tenho de fazer o mesmo, está de dia, as ruas movimentadas, bandidos como aqueles só agem na noite e escondidos.
Chegamos a uma loja de essências, ele compra as de sempre e eu saio cheirando as outras, escolho umas três pra ele, amei e acho que se misturar algumas pode ficar bom, vou fazer alguns testes antes de falar pra ele. Passamos em outras lojas onde ele compra o sal, parafina, glicerina, e outras coisas que usa, voltamos para o apartamento e ele me pede pra ligar em qualquer lugar pra pedir comida enquanto vai tomar banho, ligo em um restaurante japonês que amo e faço uma encomenda, droga, esqueci de perguntar se ele gosta, vou até o banheiro
- Julio, pedi comida japonesa, você gosta? - Ele abre a porta, está só com a toalha amarrada na cintura, mas bem baixa, dá pra ver o caminho da felicidade por ali, acho que ele percebeu meus olhares e vira de costas, pra que? Só pra arrancar a toalha me mostrando a bunda enquanto empina e coloca uma cueca.
- O que você falou mesmo?
- Ah, é que pedi comida japonesa, mas não sei se você gosta
- Na verdade nunca comi, mas vou experimentar
- Você vai amar, é uma delicia, só não como todo dia pra manter o corpinho
- E está ótimo assim – Como assim? Ele diz isso e passa por mim indo pro quarto, filho de uma mãe, o que ele quis dizer com isso? E aquilo que vi foi uma secada?
Enfim, deixo isso pra lá, não vou fantasiar, volto do meu momento Alice e vou tomar um banho, pego tudo o que preciso e vou pro chuveiro, mas como sou uma anta sempre esqueço alguma coisa e pasmem, esqueci logo a camiseta, coloco a cueca e bermuda e saio correndo para o quarto pegar uma camiseta, e adivinha quem esbarra em mim no corredor? – sua anta só tem duas pessoas nessa casa e quem seria? – eu tento me esconder com os braços, minhas cicatrizes são profundas, tenho marcas da cirurgia que tirou parte do meu fígado e baço e também uma queimadura no peito, tudo causado em apenas um só dia, me encolho o máximo que posso e saio correndo, apenas meu irmão havia visto essas marcas pois precisava cuidar de mim, nunca mais sai com homem nenhum, não tiro a camisa na praia nem que me paguem, uma vez o Giu quis me forçar de brincadeira e eu acabei chorando, até hoje acho que exagerei, mas sinto vergonha de que alguém veja, não me entendam mal, eu me amo mais que tudo, lutei muito para continuar vivo, mas não quero o olhar de pena pelas minhas cicatrizes, um dia faço uma tatuagem para cobri-las, mas também tenho medo.
Vou até minha mala, tiro uma camiseta e visto, ele está atrás de mim, droga, preciso ficar sozinho
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Recomeçar
RomanceLeandro já sentiu o ódio simplesmente por ser quem é Júlio teve sua vida virada do avesso Ambos tiveram seus recomeços sozinhos Mas não precisa ser assim para sempre