Julio
Fazem dois meses que ele saiu daqui, me sinto vazio, eu apenas me senti coagido com a ideia dele, ficou perfeita admito, mas como que eu iria manter esse padrão? logo ele iria voltar para a pousada e eu ficaria sozinho com isso, acho que fui um pouco grosso, não me lembro, estava exausto da viajem, tive uma briga enorme com o fornecedor que parou de me vender, o outro que consegui não tem a mesma qualidade, meus produtos estão tendo reclamações, não sei o que fazer, meus embrulhos estão horríveis, minhas encomendas reduziram pela metade, até o Risto me ligou reclamando outro dia, fiquei tentado a perguntar sobre o Le, mas fiquei quieto, algumas vezes vou até a casa dele para vê-lo nem que seja de longe, fico um pouco mais feliz, mas vejo que quando ele chega em casa seus ombros caem como se carregasse o mundo, suas músicas antes sempre alegres se tornaram tristes – pelo menos a mania de ouvir alto continua – Resolvo ligar para o Giu pra conversar, mas não é ele quem atende
- Alo
- Oi Risto, o Giu tá aí?
- Não
- Tudo bem, obrigado
- Por nada
- Risto, posso te fazer uma pergunta?
- Pode, só não garanto a resposta
- Como o Julio está?
- Quer ouvir a verdade? Então vai, ele está triste, finge sorrir por educação, até hoje não conseguiu entender a sua reação, tudo o que ele quis foi te ajudar, melhorar o seu negócio pra vocês crescerem juntos, trabalharem juntos, já faz tempo que ele me falou que pensava em sair da pousada pois está muito cansativo pra ele, em você ele viu a oportunidade de ter uma nova vida com um homem que aparentemente não se importou com as cicatrizes dele, mas que só formou mais algumas, esqueci de mais alguma coisa?
- Eu, eu não sabia
- Lembra do que te falei aquele dia? Eu já errei muito e todos os dias me redimo por isso, não vou te julgar, mas pense no que fez, eu conheci um Leandro quebrado por dentro e por fora, quando ele está conseguindo terminar de se colar você veio e quebrou novamente, ele está só uma casca, até aquela alegria dele se foi.
- Eu... eu...
- Não é pra mim que você tem que dizer alguma coisa, é pra ele, agora tenho que ir
- Tá bom, obrigado
- Tá, tchau
Agora me digam, que cacete que eu fui fazer? E ainda mais, o que vou fazer pra consertar?
Leandro
Continuo com a minha vidinha de sempre, casa pro trabalho, trabalho pra casa, mas percebi que tem uma moto parada quase na frente da minha casa quase todos os dias, só ontem vi o motorista e parece que o conheço, a jaqueta parece uma do Julio, depois de tanto tempo? Acho que não, e se for não importa, entro em casa, vou pro chuveiro, eu tinha prometido a Mari – trabalha comigo - que iria fazer os doces do aniversário do filhinho dela, vou começar a fazer hoje pra não me esforçar tanto, então vai ser um pouco por dia, faço a massa de brigadeiro, deixo esfriando na mesa quando a campainha toca, é o Julio, o que ele quer aqui? Minhas coisas o Risto já tinha buscado – ele virou meio que meu guarda costas, irmão mais velho, não sei – deixei ele entrar, ele se sentou no sofá e eu apenas na poltrona do lado, não quero contato
- Le, eu vim aqui te pedir desculpas, como naquele dia do jantar entendi e fiz tudo errado, parece que não tinha aprendido a lição ainda
- E demorou todo esse tempo pra perceber?
- Na verdade não, que tinha feito besteira percebi na hora mas, ainda não sabia o que, levei quase dois meses e um esporro do Risto pra entender, e o resto do tempo foi pra criar coragem de te procurar
- Estou aqui
- Le, me desculpa, me assustei a toa, sua ideia é maravilhosa, eu que fui um ogro achando que não iria dar conta e ficar sozinho
- E não passou pela sua cabeça que eu queria ajudar?
- Na hora não, eu estava de cabeça quente, tinha brigado com um fornecedor, depois daquele dia tudo desmoronou, estou quase quebrado, um monte de matéria prima estocada, sem encomendas, não sei mais o que fazer
- E o que eu tenho com isso? – Estou dando uma de ruim sim, meu coração tá apertadinho aqui mas preciso ser forte
- Desculpe, apenas desabafei, só queria que você me perdoasse, que voltasse pra mim
- Perdoar tudo bem, posso deixar passar, mas voltar não
- Pq?
- Você me magoou muito, eu tinha imaginado, feito tantos planos e você me jogou de lado dizendo que eu estava me metendo onde não devia, já voltei pra minha vida, vou considerar aqueles dias um sonho que acabou
- Mas não acabou, posso te provar
- Não, já chega, pode ir embora
- Está bem, mas não pense que deixarei você sair da minha vida assim.
E quando eu acho que minha vidinha vai encontrar um sossego? Olha o terremoto pra deixar tudo bagunçado
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Recomeçar
RomanceLeandro já sentiu o ódio simplesmente por ser quem é Júlio teve sua vida virada do avesso Ambos tiveram seus recomeços sozinhos Mas não precisa ser assim para sempre