Leandro
Dia do meu aniversário – êêê – só que não, vou trabalhar já que não sou filho de rico, à noite o pessoal vai se juntar na casa dos meninos pra cortarmos um bolinho, mas pela manhã a pousada está na minha conta, os folgados falaram pra eu me virar, então chego, dou bom dia e recebo abraços das meninas da recepção e logo o telefone toca, a Mari fica nervosa e quase chora, mas que porra é essa?
- Mari, o que tá acontecendo?
- Le, o hóspede do quarto 10... ele ligou reclamando que teve que matar um rato, me xingou tanto
- Liga pro quarto dele pra mim agora
E o maldito não atende o telefone, mas não vai ficar assim, se tem um problema desses avisa que resolvemos, mas tratar mal? De jeito nenhum... vou até lá agora mesmo – mas você tem medo de rato – não importa, do jeito que estou com raiva faço esse cara engolir o coitado do Mickey
Toc Toc – Este sou eu batendo na porta do sujeito, ouço o barulho da chave virando, mas o que me atende é um buque de tulipas vermelhas e jacintos roxos - juro que nunca pensei nessas flores junto mas até que ficou bonito – aí é que entendo menos, como assim? Por trás do buque que se abaixa sai um Julio de calça social e camisa manga ¾, peraí, até agora eu estava vindo atrás de um cliente estúpido... tá essa parte me pegaram direitinho, mas... Ainda estou parado na frente dele, penso em tudo ao mesmo tempo, me jogar nos braços dele, sair correndo, mas fico como uma estátua e ouço ele falando ao longe
- Amor, por favor entre, preciso falar contigo
- Estou trabalhando, se não existe nenhum rato é melhor eu ir
- O único rato aqui sou eu, pelo menos é assim que me sinto, por favor, entra
Como sempre acabo cedendo a ele e entro, o quarto está decorado, na mesinha um café da manhã com panquecas – acho que entendi a referencia – na cama há mais um buque de flores, dessa vez rosas em algumas cores diferentes, ele me pede para sentar apontando pra cama, me sento na cadeira ao lado da mesa, ele demonstra ter ficado chateado mas logo muda, sua fisionomia me mostra força, determinação; puxa uma cadeira se sentando em minha frente, praticamente roubando meu espaço pessoal.
- Amor, vim aqui te pedir perdão, perdão por ter me assustado, por não ter prestado atenção e ouvido a sua ideia, por ter falado aquelas coisas, por não estar do seu lado todos os dias quando acorda, por ter tirado a alegria dos seus olhos, o riso fácil da sua boca - Já me perdi quase que na primeira frase, mas é como se eu ainda estivesse ouvindo – perdão por ter sido tão burro de demorar tanto para fazer tudo isso, mas por mais que cada dia que eu acordasse sozinho naquela cama mais certeza eu tinha que te queria em meus braços, que eu precisava esperar o dia certo, o seu tempo, será que você pode me aceitar de volta mesmo sabendo que sou um idiota muitas vezes que age sem pensar mas que te ama acima de qualquer coisa e faria de tudo por você?
Por mais que eu esteja pensando que devo me fazer de difícil, isso que ele disse me quebrou, é o que sempre quis um relacionamento perfeito entre imperfeições, eu também sou difícil, tiro conclusões precipitadas, acho que posso dar mais essa chance, esse passo pra tentar ser feliz. Me levanto ainda de cara fechada, abro meu melhor sorriso e abro os braços, ele apenas corresponde sem entender, acho que é minha vez de explicar
- Ju, eu posso e quero nos dar essa chance, não consegui te tirar nenhum milímetro de dentro do meu peito, meus pensamentos são seus, eu já havia desistido, fiz o que pude pra te ajudar a distancia, mas não iria atrás de você, não quero me machucar novamente.
- Eu não posso prometer que não vou mais fazer burrada, mas prometo aprender com todas elas e recompensá-lo por elas o resto da minha vida, mas me ajudar a distância? Essa eu não entendi
- Lembra quando me contou que brigou com o seu João? Então, eu dei um jeito de ir pra São Paulo falar com ele, o convenci a voltar a vender, que não valia a pena continuarem brigados, que você sempre pagou certinho e que se aprontasse novamente eu mesmo brigava com você, aliás o que aconteceu para brigarem?
- Foi bobeira, por preços, perdi a cabeça pra variar
- Da próxima vez eu que negocio então, nada de briga seu esquentado
- Tudo por você, mas ainda tenho uma surpresa
- Qual?
- Criei novas linhas, uma mais acessível e aquela que você criou o Risto me mandou todo o material que vocês tinham e eu consegui várias vendas, mas preciso de você, por favor, olha aqui – Ele foi ao banheiro e voltou com uma caixinha – Olha a situação dos meus embrulhos, parece coisa de criança perto dos seus, os chocolates até arrumei quem faça, mas não fica a metade da qualidade do seu, por favor, além do namorado será que dá pra me aceitar como sócio? Preciso de você mais do que já imaginei um dia.
- Você está me chamando pra trabalhar com você?
- Não, estou te chamando pra ser meu sócio, não quero desgrudar de você um só minuto, na parte criativa você é quem manda, eu fico com toda a logística, parte braçal, financeira, e o que mais você mandar, aceita?
- Aceito
- E tem mais um pedido – Hoje é o dia das surpresas – Casa comigo?
- Ah?
- Amor, não sei mais viver sem você, volta pra minha, ou melhor, nossa casa, sinto falta do seu jeitinho em tudo, do seu cheiro pela casa
- Uma coisa de cada vez
- Tudo bem, mas hoje você dorme lá?
- Hoje tem meu bolinho de aniversário lá na casa dos meninos
- O mesmo que foi transferido pra casa sem você saber, e então? Você vai?
- Vou, mas acho que agora tenho que voltar ao trabalho
- De jeito nenhum, eles que se virem, hoje você é só meu
- Mas eles não estão
- Outra mentirinha, chegaram logo depois de você, é que se o Risto tivesse aqui você ia mandar ele resolver, e por mais que ele seja bonitinho eu quero você
- Então?
- Então será que eu posso beijar meu namorado?
Julio
Não acredito que consegui o Le de volta pra mim, seria horrível voltar pra casa de mãos abanando e com toda a decoração de aniversário que fiz pra ele, o que importa é que agora estou beijando meu namorado, o abraçando, apertando seu corpo ao meu, por mais que eu esteja excitado, quero apenas ficar agarradinho sentindo o cheirinho dele, guardando ainda mais na minha memória, ele está lindo, sempre foi perfeito pra mim, deitamos na cama ainda de roupas, nos aninhamos e ficamos conversando até cair no sono, primeira vez que durmo bem em séculos – tempo pelo qual fiquei sem este homem ao meu lado.
A noite passamos na casa dele pra que ele se arrumasse, eu já estava pronto pois tinha levado tudo o que precisava pra pousada, e fomos pra nossa casa, sim, nossa, tenho certeza de que ele ainda vai aceitar meu pedido de casamento, todo mundo já estava a postos, cantaram parabéns assim que chegamos, as crianças vieram correndo querendo abraçar primeiro, ele se agachou e só saiu dali depois de receber muitos beijos babados, tinha muito doce e salgadinho – ideia das crianças vulgos Aninha e Giu, o Rico ainda é muito pequeno mas pede "bigadelo" como ninguém – a Fer pra variar tentando controlar as crianças pra não passarem mal a noite e o Giu dando escondido, o Risto finge que não vê pq não quer ficar na mira da dona onça e puxa o Lucas de canto pra ajudar no "faz de conta que você não viu nem eu", a Mari trouxe o filhinho dela e mais alguns funcionários da pousada, no final estávamos todos cheios de tranqueiras no estômago, rindo das crianças e procurando maneiras de caber mais um docinho, sob protestos infantis todos foram embora e ficamos apenas nós e uma sala extremamente bagunçada para trás. Se pensam que fizemos algo, sim fizemos, ficamos só de cuecas já que a calça estava apertando, escovamos os dentes e caminha pra que te quero.

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Recomeçar
RomantikLeandro já sentiu o ódio simplesmente por ser quem é Júlio teve sua vida virada do avesso Ambos tiveram seus recomeços sozinhos Mas não precisa ser assim para sempre