Cap. 6

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Leandro

Além do Lucas ninguém sabe o que aconteceu de verdade, eu apenas digo que estava na rua e me atacaram e quase morri, e a causa disso, mas nem meu irmão sabe o verdadeiro motivo para eu estar na rua às quatro horas da manhã. Eu não sei o que o Julio tem que me fez contar, acho que foi a maneira como ele se mostrou interessado por mim, e por mais que eu quisesse evoluir essa relação, achei melhor do jeito dele, ir devagar. Agora ele dorme em meu peito, os cachos do seu cabelo me dão um pouco de cócegas, mas estou adorando isso, não consigo dormir, imagens do dia do ataque vem a minha mente, sinto a dor que queima meu peito, o chute que quase me cegou, grito quando sinto meu fígado se romper e acordo saindo desse transe com o Júlio me pegando no colo e ninando como uma criança, essa não é a primeira vez que acontece, há meses não acontecia, mas acho que o medo de estar aqui mais a inquietação por esta nova etapa da minha vida desencadeou a crise. Estou completamente encharcado de lágrimas e suor, o Júlio me leva até a banheira, entra comigo e ficamos lá em silencio; quando consigo relaxar novamente consigo sonhar com um futuro ao lado dele e formarmos uma família – sou despertado dos meus devaneios, voltamos para a cama, trocamos os lençóis e deitamos novamente; ele apenas abre os braços me chamando e vou ao seu encontro, podendo assim dormir em paz nos braços do homem que admiro, sinto atração, desejo, amizade, não digo amor pois ainda é cedo, mas se tem um homem no mundo que pode despertar esse sentimento em mim é ele.

Júlio

Acordei com o Le se debatendo na cama, ouvi seu choro, quando percebi que suas mãos iam nos lugares onde ele foi mais atacado entendi, era um pesadelo do passado, assim que ele gritou o peguei no colo como se ele fosse uma criança, fiquei balançando até que ele se recuperasse e após o banho dormimos juntos, eu sonhei que estava em um hospital e que ele havia sido espancado novamente, mas que dessa vez o médico me dizia que eu o tinha perdido, acordei com uma sensação horrível, fiquei em silêncio, não queria assustá-lo e também tínhamos que voltar.

Na estrada como estava um dia chuvoso pouco conversamos, minha atenção estava redobrada na pista e ele entendeu, apenas a música poderia ser ouvida, chegamos bem, a pousada era mais acessível então fomos pra lá, deixamos todas as mercadorias e o Júlio foi me levar para casa, descarregamos as minhas compras e eu ainda com aquele sonho na cabeça pedi para que ele ficasse, e ele não quis, dizendo que viria a noite ficar comigo mas que agora precisava ajudar pois estava chegando uma excursão na pousada. Aceitei e pedi pra ele ir com cuidado, o caminho da minha casa até lá é perigoso, tem um trecho mal asfaltado que fica próximo a encosta, e com a chuva estava perigoso demais. Ele me ligou quando chegou ao trabalho e fiquei mais tranquilo.

Já eram 21:00h e ele ainda não tinha aparecido, tínhamos combinado para as 19:00h, meu medo pelo pesadelo começou a aumentar, ligava em seu celular e nada de alguém atender, liguei na pousada e disseram que ele havia saído de lá nem eram 18:00h, fiquei desesperado, mesmo com a chuva peguei minha moto e saí a sua procura e a um quilometro da minha casa o encontrei, aliás encontrei a caminhonete da pousada totalmente destruída mas ninguém dentro e alguns policiais sinalizando, perguntei o que tinha acontecido e me falaram que um garoto tinha sofrido um acidente e levado ao hospital, fiquei louco, subi na moto e fui pra lá, assim que cheguei quase armei um barraco pra alguém falar comigo, como "não sou da família e poderia ser mais um curioso" não me falaram nada, liguei pro Lucas e ele veio correndo, juntos esperamos o médico chegar, era o mesmo médico do meu sonho, fui transportado a ele imediatamente e nem ouvi o médico falar agora, apenas ouvi o ele não resistiu que saía de sua boca em minhas lembranças, comecei a chorar de desespero, o Lucas veio ao meu lado e disse

- Júlio, vai dar certo, ele vai se recuperar – espera aí, ele não morreu?

- Como assim?

- Você não ouviu o médico? ele está em cirurgia, apenas quebrou a perna, a purpurina vai ficar de molho por um tempo e logo estará de volta

Meu choro se transformou em felicidade, as lágrimas escorriam ainda, porém dessa vez doces e felizes, aguardamos o fim da cirurgia e eu fiz questão de ficar, fiz o Lucas ir embora para contar a todos na pousada mas que não era pra ninguém vir, ainda chovia muito e eu ia posar ao lado dele. Durante a madrugada ele acordou, estava sonolento e um pouco agitado, fui conversando com ele para acalmá-lo, expliquei o que soube do acidente e que era para ele voltar a dormir. Nos próximos dias ele teve alta do hospital, eu o convenci a vir para minha casa, a pousada estava cheia demais, a casa dele tinha muitos degraus e ele precisava descansar e cuidar da perna, não podia andar para não forçar, quase tiveram que colocar aquelas gaiolas, mas uma plaquinha resolveu, pelo menos a cicatrização era mais rápida.

Fomos para a minha casa e o deixei no sofá, fiquei preparando e embalando meus produtos, pois como eu tinha ficado mais tempo no hospital do que em casa acabei me atrasando, quando admiti isso achei que ele fosse me matar, fechou a cara fazendo bico e desceu a lenha me dando bronca, ele tinha razão, não posso deixar os clientes na mão, mas era ele, enfim, passamos o dia preparando, embalando e montando tudo para que logo de manhã eu enviasse pelos Correios, o tempo passou tão rápido que quando percebemos já era noite e estávamos exaustos, ele foi tomar banho e eu ajudei, tinha que higienizar a perna com cuidado, assim que deixei ele na cama fui tomar meu banho para dormirmos juntos, eu tive novamente o sonho onde o médico me dizia que ele tinha morrido, mas dessa vez misturado com as cenas do acidente dele, mas senti uma mão em meu ombro e um cheiro, o perfume dele, não esses industrializados, mas o aroma que sai da sua pele, me acalmei imediatamente.


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