Capítulo 3: Cavalgada Isonômica

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    Embora os últimos minutos tenham sido constituídos por combate corporal com o velho Root, e apesar de hematomas já estarem se formando em minha pele, ainda consigo apoiar-me no chão enlameado pelas mãos e tocar a lama com meus joelhos, ficando...

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    Embora os últimos minutos tenham sido constituídos por combate corporal com o velho Root, e apesar de hematomas já estarem se formando em minha pele, ainda consigo apoiar-me no chão enlameado pelas mãos e tocar a lama com meus joelhos, ficando de quatro e engatinhando com pouca força até chegar em chão puro. Grito o nome de Quake o mais alto que consigo e incrivelmente, já estou de pé, correndo atrás dos tiras, que levam meu irmão contra às forças para dentro de uma carruagem puxada por cavalos negros.

    Os homens robustos, ambos provavelmente na casa dos trinta, iriam nos deixar ali, feridos. Porque assim como o governo, os apaziguadores não se importam com as pessoas de Mentele. Após um terceiro grito pelo nome de meu irmão, vejo-os parar e vou cambaleando até eles.

    – Foi em legítima defesa! Ele apenas estava me defendendo! – Me apoio, segurando nos ombros de um deles, que me olha com repulsa e após normalizar minha respiração, anteriormente ofegante, me afasto do tira. – Soltem-no, vocês têm que levar a ele! – Aponto para o velho Root, ainda inconsciente.

    – Este garoto foi acusado de furto. – Um deles me responde. Então é isso? Este é o motivo por estarem o levando? O roubo de uma cabra? E enquanto à tentativa de homicídio que Root acabou de cometer? E quanto ao golpe na cabeça do velho em legítima defesa?

    – Não podem levá-lo! – Imploro, caindo de joelhos e ralando-os. Mas os tiras me ignoram, seguindo para a carruagem policial. Levanto-me rapidamente, tendo a ampla visão de meu irmão sendo levado. Corro o mais rápido possível atrás da carruagem, que some de meu campo de visão em míseros segundos.

    Mudo de direção, correndo de volta para a choupana onde eu e meus irmãos moramos e passo direto, entrando na casa de Lady Stalk, que mora ao nosso lado há anos e foi amiga de nossa falecida mãe. Ao adentrar sua simples choupana, vejo uma senhora acabada, cansada de lavar roupas e sentada em um sofá duro e sujo. Os próximos segundos são cheios de súplicas para que ela fique com meus irmãos mais novos para que eu possa ir à Sede de Isonomia resgatar Quake, explicando a ela que o dito cujo foi levado por tiras ignorantes após o furto de uma cabra parideira.

    Após alguns minutos consigo convencê-la e sigo para o celeiro do fazendeiro Trunk, olhando para trás uma vez ou outra, certificando-me de que ela realmente está em minha choupana, com Grunt e Ratch. Introduzo-me no celeiro, me deparando com três cavalos. Um deles possui a pele amarronzada e escura. Outro é totalmente branco com algumas pequenas manchas beges. O último é completamente negro. Não os examino, só pego o primeiro que me vem pela frente. A égua de pele amarronzada, que me lembro ser batizada como Wound pelo fazendeiro.

    Há alguns meses salvei sua neta, que se perdeu por entre as árvores dos pomares da aldeia da Grama e morreria de fome e sede se não fosse por mim, já que estava em uma área afastada e não sabia como voltar. A partir deste dia, Trunk tem um afeto de avô por mim, além de uma dívida. Disse que sempre que precisasse poderia montar em seus cavalos para o que quer que fosse. Acaricio a crina de Wound, que rincha baixinho, gostando do carinho e então monto em seu dorso, pegando em sua sela firmemente e dando duas palmadinhas, a estimulando a cavalgar.

    Logo estamos perto do Centro de Hearthstone. Levamos aproximadamente meia hora de viagem com duas paradas para hidratar Wound com água fornecida por comediantes. Saio de cima da égua, prendendo-a a uma tenda vazia e me aproximo da Sede de Isonomia, um edifício enorme e fortificado por guardas. Ignoro os olhares das pessoas por conta de meu vestido sujo, cujo não me dei ao trabalho de trocar. Dou leves palmadas no tecido, em uma tentativa falha de tirar o excesso de lama seca do mesmo e sigo para a entrada do edifício.

    Um guarda sorri para mim, abrindo o portão de ferro e retribuo nervosamente. Não avisto meu irmão ou os tiras que o trouxeram, então me dirijo até um balcão de madeira, que cobre a parte inferior do corpo de uma moça de meia idade e cabelos ruivos volumosos. Ela usa um vestido azul marinho e também sorri para mim. Pergunto-me com quem aqueles tiras aprenderam os maus modos. Ao jogar minhas mãos sobre a madeira – não velha como a das mesas de minha choupana, mas nova e polida –, nem preciso dizer uma palavra. Vejo um outro tira levando meu irmão para uma sala e os sigo sem qualquer hesitação.

    Ouço a mulher ruiva chamar por mim, mas a ignoro e sigo diretamente para a sala, empurrando a porta pesada e a adentrando. Quake parece surpreso, assim como todos os presentes na sala, mas não diz uma palavra. Corro até ele, abraçando-o e não sou impedida pelo tira. Enquanto o abraço, permito-me acariciar seus cabelos negros enquanto observo o local. Há uma mesa circular no centro da sala com várias cadeiras em volta e e em uma delas está um homem rechonchudo com um bigode grisalho e um olhar curioso, cercado por duas pessoas, uma mulher de óculos e cabelos castanhos anotando tudo em uma prancheta e um homem robusto, ambos ignorando-me.

    Aquele é o severo e rígido delegado Branch, e sinto que nem eu nem Quake sairemos daqui tão cedo.

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