Capítulo 11: Atravessando a Cúpula

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    Estou submersa

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    Estou submersa. Todo o meu corpo está duro como pedra. Meus cílios se partiram e o que mais preocupa-me é o fato de eu não estar sentindo nem uma ponta de dor. As pontas de meus dedos movem-se devagar, e sinto que são as últimas partes de meu frágil corpo a funcionarem. Engulo em seco, transportando saliva por minha garganta rígida. Os sintomas começaram. A agonia, a vontade de erguer as pálpebras. De mover-me, escapar da cãibra sem fim, voltar à superfície limpa. Respirar. Andar, correr. Atravessar a cúpula.

    Cerro os punhos, começo a chacoalhar meu corpo. Movo os braços com força, as pernas, a cabeça. Ergo os membros superiores, junto-os e dou um impulso, tocando o chão e voltando à superfície. Seguro na borda da poça. Respiro fundo, buscando ar. A luz fraca da lua não entra em contato com minha pele, pois estou coberta pela lama, já endurecida. Todo meu corpo amarronzado, como se houvesse saído de uma embalagem de produtos achocolatados. Me ergo, saindo da poça e rastejando lentamente pelo chão da feira da Aldeia da Brasa.

    Abro os olhos, quebrando uma camada fina de lama que estava a cobrir minhas pálpebras e só o que vejo é escuridão, que se dissipa de forma lenta. Acabo com uma imagem não focalizada de uma fogueira a metros de mim. Em volta dela há quatro figuras, esquentando as mãos. Não consigo destingir se são homens, mulheres, novos ou velhos. Por incrível que pareça, a noite está gelada. Mas arrisco em pensar que é a cobertura de terra derretida sobre mim que colabora com a intensificação do frio.

    Rastejo até um córrego de água doce. Entro e não me atrevo a me submergir no mesmo. A água não passa de meu quadril e ali me lavo, demorando cerca de quinze minutos para limpar-me. Olho em volta, vendo a água, anteriormente limpa, agora amarronzada, suja, repleta de lama, que se espalha mais e mais, conforme a água corre. Lavo meu cabelo, ainda pouco endurecido e saio da água, tremendo e mancando. Caminho até a fogueira e um dos homens se levanta, me encarando com uma expressão assustada e uma faca erguida. Abro a boca, quero pedir ajuda, que me aqueçam, que me ajudem a chegar ao sul. Mas não consigo. Caio a poucos centímetros do fogo, inconsciente.

    Todo o dia de hoje é reprisado em meus sonhos. Tudo se repete, até mesmo os pormenores. Minha equipe correndo sobre a plantaforma. O tiro na perna de Gale. O corte horizontal no braço de Clod feito por mim. A barra e argolas, cujas não consegui segurar por muito tempo. A concussão na cabeça. O latejo insuportável que senti ao acordar na cama do hospital. Cada tubo ou fio implantado em minha pele. A falta temporária de oxigênio causada pela retirada dos aparelhos respiratórios. O tombo para fora da cama, os tiras me levando para a sala do prefeito Spark. Seu discurso cruel. O estado lamentável de Blow. A morte de Spark. A arma de fogo em minhas mãos. O tiro na janela. A morte de Blow. A fuga.

    Os danos que os espinhos das roseiras causaram em minha pele. Estou caída no jardim, com sangue por meus antebraços e canelas. Estou chorando. Me encosto nos tijolos que constituem a parede externa da sede do governo de Fireflame. Limpo a bochecha, tentando tirar o excesso de lágrimas e a corto com um espinho que estava penetrado nas costas de minha mão. O tiro com cuidado, fazendo um pequeno buraco a poucos centímetros do nariz, de onde surge uma tênue linha de sangue. Minha respiração descompassada e meu coração acelerado. Olho para o céu, para o jardim a minha volta. A metros de mim está o portão de ferro preto do jardim, que leva para longe da sede.

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