Capítulo 10: Medo e Bravura

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    Estamos em uma plantaforma alta

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    Estamos em uma plantaforma alta. Há outra de aproximadamente quarenta metros de altura a um quilômetro de nós. Fomos divididos em equipes. Olho para a silhueta de Ophelia, que carrega um aljava com três compartimentos, que carregam três tipos de flechas. Passo os olhos por Clod, que tem machados pesados de metal em ambas as mãos. Ao seu lado, está Couche, um homem de olhos verdes e barba feita. Ele domina velozmente uma arma que nunca vi antes em mãos, girando-a. A chamam de kusarigama. Continuo a observar a equipe designada a mim, percebendo Sky, uma pequena garota de madeixas cacheadas com uma coleção de facas no coldre, Breeze, um garoto um pouco mais velho que Sky, com um nunchaku sobre os ombros e Gale, que tem uma besta erguida.

    Desço os olhos para minhas fracas mãos. Seguro uma espada comprida de lâmina dourada. Aperto o cabo da arma com rigidez até o ponto dos nós de meus dedos embranquecerem. Junto as sobrancelhas, fechando os olhos e lembrando do rosto de meus irmãos mais novos. Como que magicamente, sinto uma coragem consumir todo o meu interior e quando abro meus olhos novamente, vejo-me correndo acompanhada pelos outros. Dou uma olhada na barra de ferro presa ao teto que está a alguns metros de nós, deitada horizontalmente. Nela estão penduradas argolas demasiadamente grossas. Olho para minha direita, onde vejo a equipe de apaziguadores.

    Isto não passa de um treinamento, mas consigo imaginar as armaduras azuis, os capacetes com visores potentes. Na outra plantaforma estão nada mais nada menos do que nossos companheiros do estado do Vento, mas de acordo com as instruções de Sigh, temos que imaginá-los como os tiras do estado do Fogo, que tentarão nos impedir a todo custo de chegarmos à redoma para atravessá-la. Tenho a impressão de que estou levando a sério demais, mas é melhor assim. Afinal, isto é um treinamento e preciso me sair bem. Olho para Couche, que pula alto e segura firmemente em uma das argolas, alternando entre uma e outra para se transportar mais á frente.

    Olho mais á frente e vejo um cilindro em uma curva entre uma plantaforma e outra, uma passagem. Devemos impossibilitar o outro grupo de chegar até ali. Ao meu lado direito, está correndo Ophelia, em uma velocidade estonteante. Ouve-se um tiro. Olho para trás e vejo a perna de Gale encharcada de sangue. Calafrios percorrem meu corpo e começo a tremer. Meu corpo enrijece imediatamente e paro, olhando para minha equipe, que segue em frente. Meus olhos estão arregalados enquanto vejo o garoto caído, pressionando o ferimento. Corro até ele, agachando-me.

    – Vamos, Gale! Temos que estancar o sangue! – Um ponto de interrogação é estampado em seu rosto quando começo a pressionar sua panturrilha. Ele pergunta-me o que estou fazendo e me empurra, fazendo-me bater com o cóccix na fria plantaforma de metal. Ele manda que siga em frente e eu nego com a cabeça, vendo o sangue em minhas mãos. "Vá! Eu estou morto!" Ele grita, mas estou em estado de choque. Amedrontada com a forma de treinamento. Apercebendo-me de que não sou a única a levá-lo a sério. – E-Eu não posso.... – Sussurro e me levanto.

    Sinto uma mão pegar em meu braço e ergo a espada, abruptamente, lançando a lâmina cintilante no corpo de meu adversário enquanto grito. Quando me viro, vejo um apaziguador. Um capacete azul cobrindo um rosto raivoso. Mas pisco várias vezes e não há nada além de Clod ali, segurando-me firme, agora com um corte horizontal no antebraço.

    – O que está fazendo?! Venha! – Ele exclama e me puxa, correndo na direção do cilindro, até que chegamos na ponta da plantaforma e ele ergue-me pela cintura. – Vamos, pegue! – Com minhas mãos trêmulas, seguro nas argolas presas à barra. Estou tremendo demais, não consigo sequer soltar uma argola para estender meu braço e pegar outra à minha frente. Não ouço mais os gritos de Clod ordenando que eu avance, nem mais nada ao meu redor. Só sinto meus enfraquecidos braços soltarem as argolas e tudo o que vejo é escuridão. Enquanto choco meu corpo brutalmente com a fria plantaforma.

    Acordo em uma cama confortável, mas me recuso a abrir os olhos. Mexo meus dedos dormentes e sinto algo penetrado nas costas de minha mão. Abro os olhos lentamente e os fecho de novo, por conta da luminosidade que invade minha retina. Tombo a cabeça para um lado da cama e ergo minhas pálpebras novamente, encarando o esparadrapo em minha mão. Sinto uma dor imensurável em minha cabeça e gemo baixo, pondo as duas mãos no topo da mesma, que lateja de forma infernal.

    Pisco e vejo o cenário a minha volta. Tudo é branco. Há alguns armários encostados nas paredes, ao lado da porta. Um criado-mudo, também branco com alguns medicamentos sobre ele. Encaro alguns móveis e me sento com algum esforço. Estou em um quarto de hospital. Não me lembro de nada após cair naquela plantaforma. O que terá acontecido com a equipe adversária, ou com a minha. Talvez tenham se passado dias e Sigh ordenou que partissem sem mim, pois sou incapaz de seguir adiante nessa missão. Espraguejo mentalmente, abominando tal injustiça. Eu sou merecedora. Eu preciso ir a Copehoros. Retiro alguns tubos que foram implantados em meu braço e percebo um fio de plástico abaixo de meu nariz e encima das orelhas, o tirando e jogando-o no criado-mudo.

    Quando o faço, sinto uma ausência de ar nos pulmões e agonizo, me apoiando na lateral da cama e caindo da mesma, ficando de joelhos no chão e rastejo até um nebulizador que estava embaixo da cama. Pego seu inalador e pressiono contra meu rosto, buscando oxigênio. Após alguns segundos, minha respiração se estabiliza e sinto algumas lágrimas caírem de meus olhos. A porta do quarto se abre. Vejo sapatos pretos por debaixo da cama o adentrarem. "Ela acordou" Ouço a voz masculina proclamar até que vejo a silhueta azul ir para o outro lado do quarto, pegando-me pelos braços e grito alto, me debatendo enquanto o apaziguador agarra-me e leva-me para fora dali.

    Passamos por um corredor extenso e minha respiração está entrecortada. Ofego a cada segundo e não consigo conter as lágrimas. Vejo uma bandeira estendida na parede, a insígnia de Fireflame estampada na mesma. Esbugalho os olhos, tentando achar uma explicação para tudo, mas não consigo pensar em absolutamente nada. Começo a me debater, contorcendo-me e gritando rouca. Choro e esperneio, mas continuo a ser carregada. Levam-me até uma enorme porta de madeira e outro apaziguador a abre, enquanto o de antes me introduz em uma enorme sala.

    Assustada, sou posta em uma cadeira à frente de uma mesa perto da grandiosa janela. À sua frente está um homem, de costas para mim. Seus cabelos ruivos e ondulados são conhecidos por qualquer cidadão de Mentele. E quando ele se vira, minhas suspeitas são confirmadas. Estou frente e frente com o prefeito Spark. Ele se senta e apóia as mãos na mesa, encarando-me. O olho sem qualquer expressão, ainda perplexa.

    – Então você é Rotta. Você sugeriu essa missão suicida... – Ele ri e eu ponho as mãos em meu cabelo solto e desgrenhado. – Assim como todos os insolentes que tiveram a audácia de se nomearem soldados para vir até meu estado em uma tentativa falha de atravessar a cúpula, você será punida. – Punida... Punida... Punida... – Fico sussurrando de olhos esbugalhados enquanto encaro a mesa. – Agora que Blow não é mais prefeita, por partilhar informação confidencial de Copehoros e permitir que um devaneio de uma garotinha fosse levado a sério, trazendo riscos a Mentele, posso garantir que um dos meus irá dominar Airwind.

    – Prefeita... Blow... Punida... Punida... Punida... – Deixo mais lágrimas caírem enquanto Spark solta um riso incrédulo.

    – Tragam-na. Quero que as duas sejam presas juntas. – Ele ordena a uns tiras enquanto não deixo de sussurrar. Quando introduzem Blow na sala, com os cabelos prateados já desfiados e suja, me levanto e a encaro. – Isso. Deixem-nas refletir sobre o que fizeram. Sobre a punição que receberão. – Um apaziguador desalgema a ex-prefeita, que me olha com tristeza estampada no rosto.

    – Punida... Punida... Punida... – Sussurro de cabeça baixa, chorando. Um tiro se ouve. Arregalo os olhos, levantando a cabeça e me prendo a qualquer coisa sólida na sala. Vejo a arma de fogo de pequeno porte na mão de Blow. – Prefeita... – Sussurro, assustada. Olho para trás e vejo Spark, encostado à janela com uma bala na testa. Grito quando os tiras a seguram com brutalidade e a mulher joga sua arma para mim.

    – Vá para Copehoros! Salve Mentele! – Ela grita, se debatendo e eu empunho a arma, mirando-a nos guardas, mas vejo que estou na direção errada. Me viro e atiro na janela de vidro, quebrando-a.

    Ouço o tiro fatal para Blow e pulo a janela, caindo no jardim.

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