Capítulo 9: Especulações e Preparação

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    Ficamos demasiado tempo nos encarando em silêncio

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    Ficamos demasiado tempo nos encarando em silêncio. Eu engulo em seco.

    – Como sabes disso? – Pergunto, trêmula.

    – Recentemente, recebi uma carta de Copehoros. Dentro dela, estava um mapa, com toda a região da América do Sul. Este aqui. Na carta dizia que eles iriam reduzir a população. Iriam parar de enviar água para Mentele, de estado em estado. – Ela faz uma pausa e o choque é tão grande que não consigo proferir uma palavra sequer. Por fim, continua:
 
   – Nela também estava escrito que esta carta foi enviada para os prefeitos de todos os estados de Mentele, e que deveríamos ocultá-la dos residentes. – Agora aposto que a minha expressão é impagável. Meu queixo caiu uns oito centímetros e a minha boca está aberta em um perfeito "o". – Na carta também dizia que haveria uma rota. Eles iriam sortear o primeiro estado e de acordo com a localização, iriam expandir para os mais próximos. – Que infelicidade. Demos a má sorte de Hearthstone ter sido o escolhido.

    Enfim, me apercebo da situação em que Mentele se encontra. Então Copehoros não está enviando água por vontade própria como desconfiei. O poço simplesmente não secou. Foi induzido a secar. A intenção do país abundante foi desde o começo reduzir a população, ou seja, matar a todos nós. Mas com que intuito? Qual o objetivo do governo? Airwind é o estado mais próximo de Hearthstone ao oeste. Esta possivelmente foi a rota designada.

    – E após o rio secar, os córregos de Fireflame serão os próximos e por fim, as árvores de Waterice. – Ela revela, tão em choque como eu, se apoiando na mesa. – Claro, no começo não levei muito a sério, mas agora com essa notícia trazida por vocês... – Ela põe as mãos na cabeça.

    – Não se preocupe, prefeita. Vamos juntar as nossas forças. Aproveitar enquanto o rio não secou. Seja aliada de Hearthstone, vamos criar uma aliança entre os estados. – Eu digo, firme, e Clod e Trunk concordam assentindo. Ela, então, anui.

    – Mas e depois? – Ela pergunta, receosa.

    – Vamos para a Capital e depois para Waterice. Certo, Rotta? – Clod pergunta.

    – Não, Clod. – Me aproximo dos três. – Vamos para Copehoros.

    Minhas palavras pairam no ar e outro silêncio constrangedor se estabelece na sala. Depois de nossa conversa, ninguém fez sequer um comentário sobre minha iniciativa. Em suas mentes devem estar cogitando a possibilidade de eu estar simplesmente tendo um devaneio. Que ideia ridícula a minha, não? Invadir Copehoros sendo que nem conseguimos sair do país por conta da cúpula... Como sou estúpida. Estou caminhando sobre os penedos novamente, enquanto Clod, Trunk e alguns outros homens do estado colhem água no rio.

    Nas horas que se seguem, todos nos encontramos na prefeitura, a sede do governo no centro do estado de Airwind. Passo os dedos pelo cabelo desgrenhado e me dirijo à varanda a céu aberto recostada ao edifício. Passo minhas mãos pelo parapeito e suspiro pesadamente. Quando todos se reúnem no centro da sala, me junto a eles e presto atenção nas palavras da prefeita. Ela designa uma dúzia de soldados para se espalharem por toda a Mentele e criarem acordos com seus respectivos prefeitos, provendo água e recrutando mais soldados para atravessar a cúpula.

    Eu sorrio e quando todos saem de prontidão, me aproximo de Trunk e lhe dou um abraço. O próximo passo é ir para a base subterrânea de Airwind e treinar para nossa jornada Mentele afora. Cerro os punhos, fechando os olhos e visualizando os castelos super tecnológicos de Copehoros. O banquete farto que cada um deles – com excessão dos mendigos, criminosos expulsos dos estados que rondam pelo país – deve receber diariamente para se empanturrar. Visualizo também meus irmãos e eu na mesa central da sala de jantar do castelo de Leão, a capital, nos alimentando com a abundante quantidade de frutas, legumes e carne vermelha.

    Eu, Clod e alguns soldados do estado vestimos uniformes acinzentados e de tecido elástico. As mulheres prendem os cabelos compridos em rabos de cavalo curtos, assim como eu. Passo a mão pelas mangas cumpridas do uniforme que vai de meu pescoço até as canelas e depois no cabelo, que se encontra demasiadamente oleoso, mas estou muito ansiosa para me importar com meu visual. Se saísse do estado nua agora mesmo nem sequer me envergonharia. Não deixo de sorrir enquanto atravessamos um corredor aéreo e transparente que nos leva até um galpão iluminado e exageradamente grande.

    O ar aqui é ainda mais frio, pois é ventilado por maquinas condicionadas de tamanho absurdo. Agradeço aos deuses por este uniforme ser quente o bastante para me aquecer. Olho em volta e vejo ao redor do local várias mesas prateadas com diversas armas por cima. Quem nos lidera é um homem, que se não me engano, deve ter sido chamado de High por um dos soldados. Ele tem a pele mulata e uma estatura grandiosa. Todos os soldados fazem uma roda em volta dele, que se centraliza em nosso meio. Olho para o teto, que possui várias luminárias extensas de vidro blindado e nele vejo o reflexo da prefeita, que se apoia em uma mureta de metal, em um outro corredor aéreo, do lado oposto ao outro, por onde sairemos quando o treinamento acabar.

    Quando me dou por mim, High já começou a falar e eu não ouvi as primeiras palavras. Pisco várias vezes para escapar de minha aguçada observação do local e prestar atenção no que nosso líder de treinamento nos diz. Ele gesticula com os braços musculosos enquanto nos avisa dos perigos exteriores e que estamos embarcando em uma missão bastante arriscada. Também enaltece a ideia, sugerida por mim e todos voltam seus olhares para minha pessoa. Sorrio sem mostrar os dentes e ele volta a nos dar instruções. Agora está falando sobre plantas medicinais, comestíveis e nos alerta para que prestemos atenção se esta foi ou não Infectada pelo vírus.

    Explica também que podemos ver criaturas horrendas, criadas pela radiação e que a primeira coisa a se fazer quando atravessarmos a cúpula é procurar por água. E então ele começa a fazer especulações. De como será o ar, o solo, a água. De como poderemos atravessar a barreira que nos prende. Talvez pudéssemos penetrar o solo e passar por baixo, mas não sabemos se existem camadas do material debaixo da terra ou sua profundidade. Presto atenção em tudo o que ele diz, alternando meu olhar entre as armas de fogo prateadas encima das mesas em uma visão longínqua e sua silhueta altamente robusta.

    – Ou, em vez de escavar... Poderíamos simplesmente atravessá-la. – Clod sugere. É a primeira vez que um dos "soldados" interfere nas instruções de High.

    – É impossível. – Interfiro também eu, o encarando diretamente. – A redoma é impenetrável. Já tentaram atravessá-la antes. Existem registros históricos. High olha diretamente para mim. – Não é verdade, soldado High?

    – Na verdade me chamo Sigh. – Ele corrige e sinto minhas bochechas esquentarem, ligeiramente envergonhada. – E sim, o que a soldado Rotta disse é verdade.

    – Mas e durante a entrega de suprimentos? – Uma mulher, negra e de cabelos curtos e arroxeados sugere e eu franzo o cenho. Entrega de suprimentos?

    – Do que você está falando? – Pergunto, intrigada.

    – Vocês de Hearthstone não sabem? – Ela pergunta, desacreditada.

    Sigh então me explica que perto da meia noite, a cúpula cria um buraco na lateral ao sul do país, para que um aerodeslizador entre em Fireflame, a capital de Mentele com os suprimentos necessários e fica aberta por alguns minutos, até que quando os suprimentos são entregados, o aerodeslizador sai do estado e volta para Copehoros. Eu então vejo uma chance. Vejo que isto tudo não é um devaneio. Isso é real! Nós podemos sim deixar Mentele e chegar a Copehoros!

    – Então o que estamos esperando? – Pergunto, vibrante.

    – O treinamento, minha cara. E ele está prestes a acontecer. Obrigado, pela sugestão, Ophelia. – Sigh me diz e agradece à mulher de cabelos roxos, que anui sorridente. Ele olha para mim em seguida. – Partimos ao anoitecer do dia seguinte.

    E eu sinto que estamos cada vez mais perto de nos tornarmos os merecedores.

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