Capítulo 7

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Estranho a demora do Moisés e vou na direção de onde ele foi. O encontro falando ao telefone meio sem reação.

Moisés:- Pode deixar... Eu... Avisarei a família.

Ele desliga e permanece no mesmo lugar. Ando até ele e ponho uma mão em seu ombro.

Anna:- Está tudo bem, Moisés?

Moisés:- Não.- uma lágrima escorre em seu rosto.- O meu único amigo... Ele... Está morto!

Anna:- Sinto muito, Moisés.

Moisés:- Eu falei para aquele idiota não dirigir bêbado! Ele não me escutou! Ele nunca me escutou!- chora mais.

Puxo-o pela mão até o sofá. Ele se senta e eu sento-me ao seu lado, puxando-o para um abraço, que ele não recusa. Ele enterra seu rosto em meu pescoço e chora com toda a força, por um bom tempo. Tanto tempo que pensei que ele iria por a alma para fora junto com as lágrimas.

Anna:- Calma, vai ficar tudo bem... Ele está num lugar melhor agora.

Moisés:- Todos dizem a mesma coisa. E eu continuo nesse inferno de vida! Eu deveria ter morrido no lugar do Rafa! Ele só tinha 22 anos!

Anna:- Se você está num inferno, eu sou um demônio?

Ele olha-me sério, com o rosto completamente molhado de lágrimas.

Moisés:- Vocês dois foram as melhores pessoas que já surgiram em minha vida! Eu não suportaria perder você também, Anna!

Limpo as lágrimas de seu rosto e o abraço novamente. Faço cafuné enquanto ele chora em meu ombro. Quando ele consegue se acalmar, ele se afasta um pouco e fica de cabeça baixa.

Anna:- Eu vou pegar um copo de água para você.

Levanto-me do sofá e vou até a cozinha. Pego um copo d'água e volto rápido para a sala, onde o encontro com o rosto nas mãos.

Anna:- Aqui está. Tente se acalmar um pouco.

Ele bebe a água bem devagar. Passo minha mão em suas costas, tentando acalmá-lo. Ele entrega-me o copo quando acaba com a água e eu permaneço ali.

Anna:- Quer comer alguma coisa? Você não comeu nada desde que acordou...

Moisés:- Eu quero morrer, Anna!

Anna:- Não fale isso! Nunca mais!

Moisés:- Eu quero morrer, Anna! Não tenho contato com ninguém da minha família há tempos... Minha mãe ligou-me no meu aniversário, deu-me os parabéns e só. Não falou que ama-me, não disse que sente minha falta... Meu pai não fala comigo há muito tempo. Ninguém mais quer-me aqui! Não tenho ninguém!

Anna:- Você tem a mim! Eu sou sua amiga! Eu quero-te aqui, Moisés! Não importa o que eles pensam, eu quero-te aqui, Deus quer-te aqui!

Moisés:- Como saberei que não está mentindo?

Anna:- Eu falo a verdade! Prometo pelo o que você quiser que eu não estou mentindo! Acredite em mim...

Ele encara o chão durante uns segundos, olha-me nos olhos, respira fundo e dá um sorrisinho triste.

Moisés:- Eu vou acreditar em você, não faça-me arrepender!

Anna:- Não irei!

Beijo seu rosto e o abraço forte.

Anna:- Sempre que precisar de mim, estarei aqui! Para o que der e vier, eu prometo sempre estar ao teu lado, Moisés!

Ele aperta-me no abraço até quase doer, mas não falo nada. Eu sabia que ele precisava daquele abraço. Da mesma forma como quando eu perdi sete familiares no período de dois anos! Ele prende o choro durante um bom tempo até que escutamos o som da porta do quarto dos meus pais se abrir.

Ele se separa rapidamente de mim e vejo minha mãe aparecer na sala.

Mãe:- Bom dia, Anna! Bom dia, rapaz.

Anna:- Bom dia, mamãe!

Moisés:- Bom dia, senhora.- responde desanimado.

Passo a mãos em suas costas e minha mãe vem até nós.

Mãe:- Qual seu nome, rapaz?

Moisés:- Meu nome é Moisés, senhora.

Mãe:- Moisés, pode chamar-me de Letícia. Estou vendo que não é um bom dia para você. O que está lhe deixando assim?

Moisés:- Não é nada, dona Letícia. Não se preucupe.

Mãe:- Certeza?- ele afirma.- Bom, preocupei-me pois não gosto de ver os amigos que fazem minha filha sorrir, chorarem.

Ele deu uma leve risada baixa, mas continuou sério.

Anna:- Moisés, você pode confiar na minha mãe para contar o que houve. Não precisa se preucupar.

Ele respirou fundo e começou a contar toda a história para minha mãe. Ela o ouviu atentamente, sentada ao seu lado. Ao final, ela o abraçou e ficou em silêncio.

Mãe:- Sinto muito, Moisés. Vou estar em oração para que Deus conforte seu coração.

Ela beija a cabeça dele, que agradece. Ela se levanta dizendo que irá preparar um café da manhã para nós. Assim que ela sai da sala, Moisés olha para mim.

Moisés:- Seu pai não irá se irritar se vir-me aqui ainda? Seria melhor se eu fosse embora para...

Anna:- Moisés, tome café conosco! Não há problema algum! Depois você pode ir embora e eu ainda preciso conversar com você. Quero aproveitar esse momento para falarmos.

Ele engole seco, mas concorda comigo. Seguro sua mão e falo.

Anna:- Então você é sobrinho de um padre, apaixonado por uma filha de pastor, que tento se embebedar até esquecer-me mas não deu certo?

Moisés:- Exatamente.

Anna:- Se tentou esquecer-me, é porque lhe faço mal. Eu lhe faço mal?

Moisés:- Não, claro que não! É só que... Eu queria esquecer de uma paixão impossível!

Anna:- Ela não é impossível! Já disse!

Moisés:- Isso significa que você também ama-me?

Ele se aproxima um pouco mais e nossos rostos ficam próximos. A todo momento nos olhamos nos olhos.

Anna:- Eu... Eh... N-não. Você é meu amigo, somente isso!

Ele fecha os olhos e reprime os lábios. Sinto uma leve pontada no coração quando falo isso. Ele respira bem fundo e volta a olhar-me.

Moisés:- Essa é uma paixão impossível!

Mãe:- Crianças, venham tomar café!

Nos separamos imediatamente, apesar da minha mãe estar na cozinha. Levantei e fui andando na frente. Mordi o lábio inferior, como modo de punição por ter dito não. Eu ainda estava confusa com meus sentimentos a respeito do Moisés. Preferi negar.

Porquê não sei! Você sabe muito bem a respeito dele! Você sabe seu sentimento!

Cale a boca, subconsciente! Deixe que meu coração saberá o momento que eu devo dizer e meu coração saberá a verdade.

Mas VOCÊ já sabe!

Não fale coisas que são mentira! Ou... Será que são verdade?

Diferentes Mas IguaisOnde histórias criam vida. Descubra agora