Diferentes Mas Iguais

Capítulo 10

Moisés narrando

Pegamos o ônibus - que não demorou muito, por sinal - e sentamos nos últimos bancos. Como não havia muitas pessoas, sentei no quarto banco e ela se deitou nos outros três, apoiando a cabeça no meu colo.

Eu gostava de tê-la por perto, como agora. Mas fiquei um pouco chateado por ela ter dito que preferia ir para casa, ao invés de descansar um pouco na minha.

Eu não faria mal nenhum para ela! Eu não daria um beijo em seu rosto sem que ela deixasse! Eu somente a deixaria dormindo em minha cama. Ela passou-me a impressão de ter medo que eu a estuprasse.

Mas entendo que ela esteja com medo. Quase foi estuprada há poucos minutos.

Fico fazendo cafuné na Anna durante a viagem e ela dormiu em meu colo. Minha vontade, era de aninhá-la em meus braços, carregá-la como um bebê indefeso para algum lugar seguro e protegê-la por toda sua vida.

Ela era muito fofa dormindo. A próxima parada seria a dela. Chamei-a - com muita dó - e ela acordou.

Anna:- O que foi?

Moisés:- Sua parada está chegando. Melhor arrumar seu cabelo.

Ela senta-se no banco, prende o cabelo e encosta a cabeça em meu ombro. Sinto seu perfume. Um cheiro que eu amava!

Frutas cítricas!

Era muito bom! E, repentinamente, senti-me relaxado. O ônibus parou e nós descemos. Fomos caminhando lentamente até sua casa.

Paramos na porta e ela se virou para mim, respirando fundo.

Anna:- Por quê?

Moisés:- Por que o quê?

Anna:- Por que, mesmo após eu ter lhe tratado daquela forma de manhã, de ter lhe tratado daquela forma no ônibus, você ainda ajuda-me, protege-me de um homem que quis estuprar-me? Por que você é tão bonzinho?

Moisés:- Você sabe que eu amo você. Se eu deixasse algo acontecer contigo, eu jamais perdoaria-me. Eu segui você desde que você desceu do ônibus. E já que eu estava ali, perto de você quando o cara atacou você... Eu tomei uma atitude. Somente isso!

Anna:- Obrigada!- abraça-me.

Abraço-a de volta e fico passando a mão em seus cabelos. Receber um abraço uma vez já era bom. Uma segunda vez no dia, era ótimo! Principalmente dela!

Anna:- Eu devo entrar agora.

A porta é aberta atrás dela.

Senhor:- Que bonito, dona Anna Marcela! Namorando na porta de casa!

Anna:- Papai! Eu não estava namorando. Ele não é meu namorado. O Moisés é meu amigo e veio trazer-me em casa. O senhor sabe perfeitamente que ele é meu amigo!

Senhor:- Um amigo aproveitador! Que dorme em casa de moças!- alterado, nervoso e com ciúmes são os sentimentos que ele expressa claramente.

Anna:- Papai!

Moisés:- Deixe, Anna. Eu vou embora, já que não sou bem vindo aqui. Não se preucupe.

Anna:- Você é muito bem vindo sempre, Moisés! Por mim e minha mãe.

Ela beija meu rosto e eu vou embora ouvindo os gritos de seu pai com ela. Viro-me no meio do caminho e encaro o pai dela.

Moisés:- Escute, senhor, você devia procurar saber sobre as pessoas antes de julgá-las. Aliás, quem é você para julgar-me? O senhor é Deus?

Senhor:- O senhor cale esta boca e não pronuncie o nome de Deus em vão!

Moisés:- Quando o senhor parar de julgar-me como um vagabundo, imprestável, aproveitador, eu paro de falar o nome de Deus em vão! E pare de julgar-me, já que vice não é NINGUÉM para fazer isso!

Senhor:- Rapaz, é bom que nunca mais volte aqui!

Moisés:- Se é de sua vontade, não volto mais!

Viro-me e vou embora. Se ele não queria-me mais lá, ele não veria-me mais. Mas quem disse que eu não iria? Eu vou! Mas ele não me verá!

Moisés:- Esse pastor não irá mais ver-me em sua vida! Mas não que dizer que não estarei presente!

Vou para minha casa sem sentimentos "anormais". Eu queria descansar também. Meu dia já foi muito perturbado para uma única manhã. Deito em minha cama e adormeço.

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Acordo de tarde numa posição muito desconfortável. Pego meu celular para ver as horas, achando ser bem tarde.

Três e sete. Não estava tão tarde assim. Haviam algumas ligações perdidas. Eram três do meu chefe, sete da Anna e uma da minha irmã mais velha.

Retorno à ligação do meu chefe e era só para avisar que, essa semana, a livraria ficaria fechada em sinal de luto pelo Rafa. Deixei para ligar para a Anna mais tarde e retornei a da minha irmã.

Ligação..

Clarisse:- Oi, mano.

Moisés:- Fala, maninha. E aí? Tudo bem?

Clarisse:- Comigo sim. Como você está?

Moisés:- Levando, né... Estou meio mal pelo Rafa, mas estou com uma amiga que está ajudando-me a seguir.

Clarisse:- Moisés Carvalho com uma amiga? Conta outra!

Moisés:- Estou falando sério! Estou com uma amiga!

Clarisse:- Mas não quer a amizade, né?! Quer pegação!

Moisés:- Desta vez não, Clari.

Clarisse:- Tá apaixonado, é?!

Moisés:- Sim. Estou apaixonado! Agora eu tenho que desligar. A minha menina já ligou-me e eu tenho que retornar para ela. Beijos!

Clarisse:- Beijos. Só posso lhe dar um conselho, maninho?

Moisés:- Claro.

Clarisse:- Não faça burradas. Trate essa menina como uma verdadeira rainha!

Moisés:- Está bem. Beijos.

Clarisse:- Beijos!

Ligação.

Disco imediatamente o número da Anna. Ela atende no terceiro toque.

Ligação..

Anna:- Finalmente, Moisés! Fiquei preucupada com você!

Moisés:- Para quê se preucupar com um nada como eu?!

Anna:- Você não é um nada! Você é alguém importante para mim! Meu melhor amigo! Olha, desculpe-me pelo comportamento de meu pai. O pastor Maciel não sabe controlar o temperamento quando o assunto sou eu!

Moisés:- Está tudo bem, pequenina. Eu entendo.

Anna:- Não voltará aqui mesmo?

Moisés:- Quem disse que não? É claro que voltarei!

Anna:- Você disse que não voltaria e que meu pai não o veria mais.

Moisés:- Seu pai irá pensar que eu nunca mais voltei aí e não me verá mais! Mas eu precisarei da sua ajuda para isso!

Anna:- Vamos conversar melhor amanhã? A tarde eu terei aulas de direção. Você pode buscar-me no colégio e levar-me lá?!

Moisés:- Levo com todo o prazer! Será perfeito! Então, que horas devo ir? E qual sua escola?

Anna:- Busque-me na escola Mairynk Castelo ao 12:40!

Moisés:- Estarei lá, pequenina!

Anna:- Um beijo, meu am... Amigo!

Moisés:- Um beijo, minha linda!

Ligação.

Ela iria dizer alguma coisa... Espero que amanhã chegue logo!