Capitulo 01:

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Lia Mariel

— Sabe por que pedi para conhecê-la, senhorita Lia Mariel?

Eu estava na aula de educação física quando a diretora — uma mulher de quarenta anos, usando uma saia que parecia ter sido feita de um tecido para cortina e sapatos de salto baixo, com o cabelo tingindo, preso em um rabo de cavalo no meio da cabeça —me pediu que fosse ate sua sala.

Antes de me mandar entrar, ela me disse que lá dentro estava uma grande oportunidade para o meu futuro, e quando abro a porta dou de cara com esse cara — alto, de rosto forte, olhos azuis claros, cabelo castanho claro, e roupas de marca e bom gosto que talvez escondam um corpo sarado.

Ele usava uma calça jeans escura, sapatenis e blazer por cima de uma camisa social rosa; se apresentou como Mauricio Lacaste e eu imediatamente associei ao Lacoste, aquela marca de roupas e acessórios. Seu rosto tem expressões fortes, as sobrancelhas claras e medianamente grossas acentuam seus olhos azuis claros que destacam, atraem e prendem a atenção, combinando com seu cabelo claro que é cortado de forma que deixa os fios um pouco cumpridos. Era simplesmente lindo.

— Sei lá. —Respondi.

Ele assentiu positivo considerando meu desinteresse; puxou a cadeira e sentou-se à minha frente, cruzando as mãos sobre a mesa da diretora.

— Imaginei. —Comentou. — Já deve ter ouvido falar do novo projeto que o governo esta aplicando nas escolas, certo?

— Hm... Não.

Ele revirou os olhos rapidamente e endireitou-se na cadeira.

— O governo criou um programa para incentivar e preparar os jovens para o mercado de trabalho...

— É claro. —Comentei irônica, interrompendo-o.

Todo mundo sabe que é só nisso que o governo pensa: preparar os jovens para ser bons empregados e fontes de rendas sob as quais quem está no topo do poder tira uma boa quantia para seu próprio bolso.

— Mas... —Ele continuou. — Como boa parte de vocês, jovens eu quero dizer, não sabem ainda que profissão seguir, esse programa também vai servir para ajuda-los a escolher. O programa é bom, muito bom; mas não há verba suficiente...

— É claro que não. —Interrompi de novo, zombando.

Ele me olhou com cara de repreensão pelo meu tom zombeteiro, mas qual é? Isso é outra coisa que todo também sabe: o governo também só pensa em dinheiro e a "falta de verba" é sua desculpa para quase tudo.

— Para... —Ele me ignorou e completou a frase. — que todos os alunos recebam este apoio do governo. Apenas alguns de vocês iram recebê-lo. Cabe a nós escolhermos um de vocês; e eu escolhi você.

Ele disse a ultima frase se inclinando sobre a mesa e apontando para mim. Bom, pontos positivos: ele é gato, muuuito gato mesmo! Pontos negativos: pelo jeito que fala, parece ser uma mala.

— Não vai dizer nada? —Perguntou sugestivo.

— Vou. O que isso quer dizer?

— Quer dizer que vou dedicar todo o meu tempo a você, para ajuda-la em tudo que for necessário, e que a partir de agora sou seu responsável social oficialmente.

Tudo que eu ouvi foi:

"— Quer dizer que vou ficar no seu pé vinte e uma horas por dia, todos os dias, e nas outras três horas livres eu vou estar bolando um jeito de te infernizar."

— Senhorita Mariel? —Ele chamou pelo meu sobrenome. — Está me ouvindo?

Não me leve a mal, eu não sou assim, mala, como deve estar parecendo. É que eu não gosto muito de ser "guiada", passei algum tempo da minha vida fazendo o que os adultos diziam ser certo e não obtive bons resultados.

— Pode simplificar, por favor? —Pedi.

Ele quase sorriu, e foi um lindo quase sorriso.

— Serei uma espécie de mentor para você. —Ele explicou. — Vou te acompanhar em entrevistas de estágios, ajudar a estudar, acompanhar sua rotina, estudar as melhores opções para você, para poder identificar qual seu perfil como profissional e...

— Não. —Disse me levantando bruscamente e indo para a porta.

— Não? —Ele me olhou tipo "hein?!".

— Não. —Repeti.

— "Não" o quê? —Ele parecia confuso.

Girei nos calcanhares, sem ver que ele estava bem atrás de mim, e acabei tendo que pisar nos freios para não atropela-lo. Acabei parando frente à ele. Ai Deus, ele é lindo! Mas ainda parece ser uma mala.

— "Não" eu não quero essa "assistência", posso me virar, obrigada.

— Tem noção de quantos jovens gostariam de ter a chance que você está rejeitando?

— Ótimo, dê a um deles. Eu não quero.

Sai batendo a porta e voltei para o pátio,estava no intervalo e eu já tinha perdido metade de uma aula e cinco minutos dointervalo.

Quando O Amor Cura...Onde histórias criam vida. Descubra agora