Lia.
Continuei imóvel e ofegante no mesmo lugar, perplexa pelo o que aconteceu. Mauricio me beijou! Por quê? Depois que me afastei dele, foi quase impossível lidar com a força dentro de mim que implorava por mais. Eu queria voltar para seus braços, e beija-lo mais. Mas meu outro lado, o lado racional, estava possesso. Estava com raiva pela omissão à academia, e agora pela ousadia dele. Mas meu inconsciente estava gritando por mais.
Bebi um pouco de agua e fui para o quarto, deitei-me e tentei esquecer tudo que havia acontecido, tentei dormir, mas não tive muito sucesso. Como eu iria encara-lo durante as assistências? E se amanhã ele aparecer quando eu for buscar minha mãe? Com que cara vou olha-lo?
O que estou dizendo? Foi ele quem me beijou, ele quem foi ousado e meteu os pés pelas mãos. Mas se bem que lá no fundo, no fundinho do fundo falso do fundo do meu coração, eu gostei. Que beijo! Uau...
Acordei de manhã pelo toque de chamada do meu celular. Tateei pela cama, sem abrir os olhos à procura do aparelho, e quando o localizei, abri um olho para ver a tela e despertei completamente ao ler "Mauricio Lacaste" piscando. Imediatamente lembrei de tudo que ouve ontem. Eu ia atender? Respirei pesado e deslizei o dedo pela tela.
— Oi? —Falei ao atender.
— Eu espero que você não esteja na cama, porque daqui a quinze minutos estou passando aí para te pegar, sua mãe tem alta.
Putz! Eu esqueci totalmente de minha mãe.
— Estou indo para o banho.
Desliguei e voei para o banheiro, me lancei embaixo do chuveiro, e ao mesmo tempo escovei os dentes. Saí as pressas e vesti uma saia jeans, camiseta e vans. Penteei o cabelo e saí voando do quarto, parei ao ver a porta do quarto de Marcos e constatar que ele ainda estava dormindo.
— Merda. —Xinguei baixo.
Eu estava prestes a acorda-lo, quando ouvi as batidas na porta. Desci as escadas, e antes de abri-la, paralisei. Como vou encara-lo depois de ontem? Então recordei da ligação e ele pareceu indiferente a ontem. Simples, Lia, seja indiferente também. Disse a mim mesma. Respirei fundo e abri a porta.
Mauricio usava calça jeans preta, como todas as outras, esta também era justa na medida certa. Uma camisa social branca por dentro do casaco preto, e sapatenis vinho de solado branco. E ao seu lado estava Tereza, usando uma saia até os joelhos de tecido bem cortado na cor preto, e uma blusa azul celeste com renda branca no colo, passada o pano. O cabelo grisalho preso em um coque.
— Imagino que à essa hora, por ser sábado, Marcos esteja dormindo, então trouxe Tereza para cuidar dele. —Mauricio disse.
Eu assenti e sorri timidamente para Tereza que retribuiu com um sorriso caloroso. Saí do caminho para que ela entrasse.
— Hm, Tereza... Se precisar de...
— Vá tranquila, filha. —Ela me interrompeu sorrindo. — O Sr. Lacaste já me disse tudo que preciso saber. O pequeno estará bem comigo, acredite.
— Obrigada.
Tereza apenas assentiu e eu saí, deixando-a na minha casa. Caminhei ao lado de Mauricio em um silencio constrangedor refletindo a tensão por ontem. Entrei no carro, e o observei dar partida. Fomos o caminho todo até o hospital em silencio. Eu nem me atrevi a direcionar o olhar para ele.
Desci do carro e me adiantei em direção a entrada, mas a mão de Mauricio deteve-me no ultimo instante, rapidamente meu cérebro associou ao que houve ontem, e ao virar para ele, meu olhar caiu diretamente em sua mão sobre meu braço. Ele deve ter percebido o que eu estava pensando, pois largou meu braço.
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Quando O Amor Cura...
RomanceLia Mariel é uma adolescente de dezesseis anos que apesar da meiguice que há em seu coração também carrega cicatrizes de uma infância lamentável. Com uma mãe e irmão menor, e contas para pagar, Lia precisa de uma saída para ajudar sua mãe. E eis que...