Lia.
Cheguei em casa, larguei meu material na cama, e fui para a cozinha. Encontrei mamãe e Marcos fazendo a lição dele, enquanto esperavam a comida ficar pronta. Quando mamãe pediu para Marcos terminar a lição no quarto, eu soube que ela queria me dizer algo e não queria que ele ouvisse.
Assim que meu irmão foi para o quarto, minha mãe falou em tom de voz baixo:
— Lia, querida, eu lamento ter que falar disso com você, mas não tenho escolha.
— Que houve, mãe? —Fiquei preocupada.
— Eu tirei Marcos das aulas particulares, e fiz alguns cortes de gastos, você sabe, mas não está sendo suficiente. —Ela disse tentando disfarçar a preocupação. — A casa precisa de alguns reparos, Marcos precisa de material escolar novo, e você logo vai precisar pagar uma faculdade...
— Mãe... —Interrompi. — Eu sei, as coisas estão apertadas, e eu sei de todas essas coisas. A senhora sozinha não vai conseguir manter todas as despesas. Podemos vender o carro, e sei lá... Eu vou arranjar um emprego de meio horário, vou ajudar nas contas, e antes que a senhora proteste, eu estou decidida. Isso não vai atrapalhar meus estudos. Eu vou conseguir fazer as duas coisas...
A descrença estava estampada no rosto dela. Minha mãe queria me ver estudando, queria me ver fazendo faculdade, e não trabalhando para ajudar a pagar as contas. Mas teria que ser assim. Eu lembrei-me do cara que apareceu me oferecendo assistência, e aquilo foi uma luz no fim do túnel. Ele poderia me ajudar.
— Mãe, eu já sei! —Gritei assustando-a. — Eu volto logo.
Sai correndo e voltei para a escola. Pedi a diretora o numero do assistente que esteve na escola, e ela me deu sorridente. Não perdi tempo e liguei para ele. Chamou uma... Duas... Três vezes e nada. Achei que fosse cair na caixa postal, mas ele atendeu.
— Alô? —Ouvi sua voz do outro lado.
— Mauricio Lacaste? —Perguntei insegura.
— Sou eu. —Ele confirmou.
— É a Lia. —Eu disse. — Lia Mariel.
— Ah, Senhorita Mariel... —Ele disse meio devagar, parecia nervoso ou confuso.
— Sim, hm... Eu liguei porque... Bom, é... Eu mudei de ideia. —Falei sem graça.
Ele ficou em silencio um momento, e depois ouvi um barulho parecido com uma risadinha. Aguardei em silencio e ele falou.
— Que bom, senhorita. —Disse formal. — E quando podemos começar?
— Amanhã. —Falei. — Faça nossos horários como preferir.
— Não tem nenhuma sugestão? —Perguntou. — Quero dizer, horários que não esteja disponível?
— Tenho. Das sete às doze da manhã, horário que estou na escola, e depois almoço em casa. O resto do dia eu estou livre, programe como quiser. Estou inteiramente interessada.
E eu estava mesmo. Hoje de manhã aquilo me pareceu desnecessário, mas depois de ver minha mãe preocupada com as contas e meu futuro, percebi que não podia jogar aquela chance pela janela.
— Está bem, levarei os horários amanhã para a escola... Agora, diga-me senhorita. Por que mudou de ideia?
— Amanhã, eu te conto. —Falei. — E já que perguntou; eu tenho uma sugestão.
— Claro, por favor.
— Não me chame de "senhorita", não estamos no século passado. Me chame de Lia. E ate amanha, Mauricio.
Desliguei o telefone, mas pude o ouvir rindo do outro lado. Eu estava satisfeita com minha decisão, e iria ser cem por cento, comprometida e esforçada. Voltei para casa, e contei para minha mãe que ainda não sabia que emprego encontrar, nem onde, mas que estava meio caminho andando para conseguir. Só precisávamos aguentar firme por mais algum tempo.
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Quando O Amor Cura...
RomanceLia Mariel é uma adolescente de dezesseis anos que apesar da meiguice que há em seu coração também carrega cicatrizes de uma infância lamentável. Com uma mãe e irmão menor, e contas para pagar, Lia precisa de uma saída para ajudar sua mãe. E eis que...