Mauricio:
De manhã eu acordei com o despertador gritando. Fui pro banho, me vesti e depois fui pra faculdade. As aulas começaram essa semana e agora tudo vai ser uma correria só, mas ia valer a pena. Dirigi até a universidade, assisti as primeiras aulas, e fiz anotação de todos os livros que os professores sugeriram que lêssemos. Quando saí faltavam vinte minutos para pegar Lia em casa, então aproveitei para reorganizar meus horários.
Como Lia iria trabalhar pela tarde na academia, eu resolvi inverter nossos horários. Ao invés de ficar com ela à tarde, eu iria busca-la na academia depois de seu horário acabar e iriamos para o centro social por pelo menos três horas para continuar com o projeto. Assim durante a tarde eu poderia por em dia meus deveres da faculdade e ir à academia malhar. E pela manhã eu iria assistir às aulas da faculdade.
Montei tudo isso numa tabela e imprimi, coloquei dentro da pasta e olhei a hora. Estava atrasado. Dei partida no carro e fui busca-la. Ela estava sentada na varanda de casa, usando um jeans, sapatilhas e uma blusa xadrez. Reparei que ela quase sempre estava usando uma. O cabelo dela estava de lado sobre o ombro e alguns fios balançavam-se com o vento.
Ela ficou de pé e caminhou até a porta do carro, entrou sem dizer nada.
— Bom dia. —Pareceu uma pergunta.
— Depois te falo se foi bom.
Caramba! Bem que a mãe dela avisou. Assenti com a cabeça mais para mim do que para ela, e saímos. Lá pelos quinze minutos de silencio no caminho, ela percebeu que não estávamos no caminho para o centro social.
— Pra onde vamos?
— Depois você me diz se o dia foi bom. —Arrisquei uma piada.
— Fala sério! —Resmungou.
Não respondi e ela ficou inquieta. Batia os dedos no joelho, ou ficava estralando a língua. Vez ou outra olhava para mim, e depois desviava o olhar. Estacionei o carro enfrente a academia, e ela ficou olhando a fachada do prédio, depois virou e me encarou com uma interrogação nos olhos.
— Bem vinda ao seu novo emprego. —Falei dando de ombros.
Não dei tempo para que ela respondesse, saí do carro e caminhei para o seu lado do carro. Abri a porta e esperei que ela saísse. Lia me seguiu para dentro do prédio, e eu a levei para conhecer Pietro e Leticia, que por coincidência estavam debatendo alguma coisa.
— Posso dar uma palavrinha com vocês? —Pedi.
Leticia desviou o olhar de seus panfletos e focou em mim, e Pietro que estava de costas, virou-se e seu olhar parou em cima de Lia.
— Essa é a Lia, a garota que eu falei. Lia, essa é Leticia e Pietro. — Apresentei-os.
Talvez tenha sido impressão minha, mas Pietro demorou-se em apertar a mão de Lia, e estava secando a garota da cabeça aos pés.
— Leticia, eu gostaria que você a levasse para conhecer as coisas por aqui. Sobre o horário, pode deixar que eu mesmo informo-a, mas antes preciso falar com Pietro... tudo bem?
— Claro. —Ela sorriu. E virando-se para Lia: — Vamos?
— Claro.
Esperei que as duas se afastassem e pensei no que dizer, mas ate meus pensamentos foram interrompidos.
— Essa é a "garota"? — Ele fez aspas com a mão.
Acho que ouvi entusiasmo na voz dele. Muito entusiasmo.
— Anram. —Respondi. — Por quê?
— Por quê?! Cara, eu achei que fosse uma criança.
— Mas basicamente, ela é. —Falei o acompanhando até a nossa sala de adm.
— Fala serio, você não olhou para ela, olhou?
Balancei a cabeça sem entender direito o que ele queria dizer. Observei ele por alguns materiais no armário e depois mexer em alguns outros.
— A mina é gostosinha, cara.
— Pode parar. —Falei. — Ela só tem dezesseis anos, Pietro.
— Eu sei, você disse. Mas qual é? Ela não é nada do que eu pensei, e além do mais se você não olha para ela como mulher, eu não tenho culpa por olhar. Qualquer marmanjo aqui vai vê-la do mesmo jeito, por que ela é linda e muito atraente também.
— Eu não vim falar disso. —Resolvi mudar o rumo da conversa, por que eu estava ficando irritado. — Quero saber se tudo bem pra você ela trabalhar no balcão como ajudante da Leticia durante a tarde, porque é o único tempo livre dela.
— Por mim, de boa. —Ele disse virando para me olhar. — À tarde você vai estar por aqui, já que ela vai trabalhar aqui, certo?
— É, mas não o tempo todo. Só malhar, ficar algum tempo avaliando ela e o rendimento da academia. Vou dedicar o resto do tempo ha minhas outras obrigações.
— Entendi. —Ele disse pensativo. — Fechou então.
— Obrigado.
Eu estava saindo quando lembrei de outra coisa importante.
— Pietro?
— Fala.
— Eu gostaria que ela não soubesse que eu sou dono de parte disso aqui.
— De mais da metade, você quer dizer né. —Corrigiu-me. — Mas, enfim... Qual o problema?
— Eu só não quero que ela me veja como um playboy rico que paga de bom samaritano. Você sabe que eu gosto de ser reconhecido pelo meu trabalho e não pelo...
— Seu dinheiro. —Concluiu ele. — Eu sei. Pode deixar, minha boca é um tumulo.
— Valeu.
Deixei-o terminar de arrumar aqueles armários e fui procurar Lia. Entreguei a tabela que montei mais cedo, e disse que vinha busca-la às sete da noite, e depois explicava como seria nossos horários a partir de agora. Deixei-a começando seu dia na academia e fui para casa, adiantar os deveres da faculdade.
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Quando O Amor Cura...
RomanceLia Mariel é uma adolescente de dezesseis anos que apesar da meiguice que há em seu coração também carrega cicatrizes de uma infância lamentável. Com uma mãe e irmão menor, e contas para pagar, Lia precisa de uma saída para ajudar sua mãe. E eis que...