Lia.
Às seis da tarde, Mauricio me trouxe de volta para casa. O primeiro dia foi meio chato: ele me fez algumas perguntas, me mandou fazer os deveres e me ajudou com os de calculo. Ele é muito bom com números, e eu até me senti uma pirralha quando ele me dizia o calculo em voz alta e esperava que eu calculasse mentalmente em vez de chutar a resposta que na maioria estava errada. Mauricio balançava a cabeça negativamente, dizendo que minha resposta não estava certa e pedia que eu fizesse de novo.
Quando cansava de ouvir meus chutes, ele suspirava e dizia a resposta correta para mim. Eu acabava rindo de sua expressão frustrada e ele acabava apenas sorrindo. Depois de quase a tarde inteira observando ele mexer em alguns papeis, e de vez em quando o flagrar olhando para mim, fui liberada para ir pra casa. O resto do dia se passou normalmente chato.
Na quarta-feira de manhã, depois do intervalo, o professor de física passou um trabalho individual que valia parte da nota da prova e sem ele seria impossível passar. O problema é que o conteúdo de física é, e sempre será, calculo. Tipo eu e calculo não existimos na mesma frase. É impossível.
Assim que as aulas acabaram e eu cheguei em casa, me joguei na cama e fui tentar fazer o maldito trabalho enquanto a explicação estava parcialmente fresca na minha memoria, mas como tudo na minha vida tem que ser tão fácil quanto um e um ser três, eu não soube porra nenhuma!
Quando dei por mim minha mãe estava batendo na porta do meu quarto.
— Lia, o senhor Lacaste está aqui a tempos. —Ela disse.
Puts! Eu esqueci dele.
— Tô indo.
Corri para o banheiro, escovei os dentes, lavei o rosto, e penteei os cabelos. Coloquei o material de volta na mochila e joguei-a no ombro. Dei uma rápida olhada no espelho para checar se estava tudo no lugar: a calça jeans com rasgos, o tênis, e a blusa de mangas até o antebraço.
Desci de dois em dois degraus e encontrei Mauricio conversando com minha mãe e respondendo algumas perguntas sutis de Marcos. Dei tchau para minha mãe e meu irmão, e saímos. Assim que cheguei no prédio, e chegamos à sala dele, eu tirei o caderno da mochila e recomecei a tentar fazer o trabalho de oito —OITO— questões.
Mauricio estava concentrado no notebook, digitando coisas e lendo coisas, sei lá. Ele mal dizia uma palavra, e o único barulho que fazia vez ou outra era um suspiro frustrado ou o de seus dedos digitando no teclado.
Tentei me concentrar no trabalho, e até cheguei a achar que tinha concluído um calculo, mas como tudo que é bom dura pouco, a resposta do calculo não batia com as opções da questão. Suspirei frustrada, apaguei o calculo e o refiz duas vezes seguidas. Numa das vezes deu o mesmo resultado, e na outra deu um numero negativo.
— Cacete! —Xinguei baixo.
Ouvi o riso abafado de Mauricio e o olhei com as sobrancelhas franzidas. Ele tentou refazer a expressão seria e focar na tela do notebook, mas seus olhos lampejaram para mim e ele riu.
— Desculpa, eu ouvi seu xingamento. —Admitiu.
— Sério? —Ironizei frustrada.
Ele reprimiu um risinho e fechou o notebook, se inclinando sobre a mesa e ficando mais perto.
— É calculo, né?
Eu arqueei as sobrancelhas ao ouvi-lo pronunciar "né?" e acabei rindo. Dessa vez foi ele quem arqueou as sobrancelhas e me olhou curioso.
— Eu não imaginaria você dizendo "né". —Dei um risinho.
— E por que não?
— Porque você não faz o tipo que fala gíria. Quer dizer, tem hora que você parece estar no século passado com tanta formalidade.
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Quando O Amor Cura...
RomanceLia Mariel é uma adolescente de dezesseis anos que apesar da meiguice que há em seu coração também carrega cicatrizes de uma infância lamentável. Com uma mãe e irmão menor, e contas para pagar, Lia precisa de uma saída para ajudar sua mãe. E eis que...