Capítulo 14

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Mauricio.:

Fiquei atônito com a reação agressiva de Lia. Primeiro ela ficou na defensiva, e depois me atacou verbalmente. Essa mulher deve ter feito algo muito ruim para ela, para que a deixasse nesse estado. "Eu não vou deixar aquela mulher se meter de novo na nossa vida!", ela tinha dito. "De novo"?

Lia serviu os sucos e subiu, aproveitei e pedi a Tereza que levasse o pequeno Marcos para tomar um sorvete. Quando estava sozinho com Dona Elena, entrei no assunto.

— Ãh, Dona Elena... —Comecei chamando a atenção dela. — Me desculpe a intromissão, mas quem é uma mulher chamada... —Demorei um pouco para lembrar o nome que Lia havia dito no hospital. — Kelly?

Dona Elena ficou sem reação. A expressão ficou insondável, e me arrependi imediatamente da pergunta. Lia tinha me prevenido sobre "preocupar" a mãe. Talvez eu devesse ter levado em conta a reação agressiva dela.

— Conhece ela? —Dona Elena perguntou.

— Na verdade não. —Admiti. — Encontramos com ela no hospital, quando a senhora estava em observação, e Lia teve um pequeno desentendimento com ela. Ate tentei perguntar a própria Lia, mas ela ficou muito agressiva, e bom... Imagino que a senhora saiba o que quero dizer com "agressiva".

— Sei, sim. —Ela suspirou. — Também imagino que ela tenha pedido para que você não comentasse comigo sobre isso.

— É verdade. —Confirmei.

— Kelly foi amante do meu falecido ex-marido. —Ela disse um pouco baixo. — Na época, Lia era pequena, sabe, ela nunca esqueceu a cena que viu. E os dias que passei longe, e ela teve que morar com Kelly, foram terríveis para ela. Acredito que Lia a culpe ate hoje por tudo que nos aconteceu, e em parte, ela tem razão.

Agora eu começava a entender. Mas eu sabia que a historia não parava por aí.

— Eu entendo. Dona Elena, me desculpe mais uma vez, mas eu gostaria de saber tudo que houve, se não for muita intromissão da minha parte.

— Ah, Mauricio, esse é um assunto delicado para todos nós. —Ela disse receosa. — Marcos não lembra de nada porque era muito novinho, coitado. Lia é quem lembra de tudo. Quando o pai deles começou a me trair, eu tentei fazer vista grossa, sabe? Mas um dia Lia chegou mais cedo da escola e encontrou o pai na cama com a cretina.

Meu Deus! Imaginei o que se passou pela cabeça de Lia, ainda criança, flagrando uma cena dessas.

— Como se não bastasse, eu cheguei logo em seguida e vi tudo também, sabe? —Continuou. — Fiquei atônita e minha primeira reação foi expulsa-los da minha casa. Mas Raul andava muito estranho, agressivo, bebendo demais... Ele não tolerou minha reação e me espancou na frente da minha filha... —Agora Dona Elena chorava, recordando. — Me jogou da escada e eu quase morri, tive sequelas que me impediram de trabalhar por muito tempo. E enquanto eu me recuperava, Lia e Marcos foram morar com ele na casa dessa mulher. Eu não sei o que aconteceu com ela durante aquelas semanas, minha filha voltou assustada, tímida, mal falava comigo ou com qualquer pessoa.

— Eu... Eu não fazia... Ideia. —Tentei formular uma frase.

— Eu sei, só peço que não comente muito sobre esse assunto. —Pediu segurando minha mão. — Só contei a você porque te considero da família, por tudo que tem feito por nós. E também porque confio em você.

— Obrigado. —Apertei sua mão.

— Às vezes eu tentava entrar no assunto com ela, sabe? —Voltou ao assunto. — Mas ela sempre fugia. Nós mudamos para cá e as coisas melhoraram um pouco, mas ainda assim, ela nunca mais foi a mesma.

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