capítulo 25

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Durante um tempo, o silêncio reinou no quarto.
Eu queria fazer alguma coisa, qualquer coisa, mas eu não me sentia forte, fisicamente o meu corpo doía e falhava pela falta de água e comida, mentalmente parecia que eu ia enlouquecer.
Dezenove anos. Dezenove anos tirados da minha verdadeira família, ou pelo menos, da minha familia biológica. Eu não consigo respirar.
Olho pra Maia e tento entender como alguém poderia fazer isso com um Bebezinho, um ser indefeso. Ela tem ódio no olhar, rancor.
Pela telefonema que ela fez com meu... Com Christian, sei que ela esta determinada a me tirar do caminho, seja lá qual for ele, e a única opção que eu vejo para que isso aconteça assusta o inferno que tem dentro de mim.

- Eu sei que você já contou seu lado da história, e também percebi que você pretende me matar então.. - falar aquilo me fez pensar no que eu iria pedir. Ela vai mesmo me matar, não sei de maneira, mas eu posso ver pelo olhar dela. Eu não tenho nada a perder. - Será que eu posso falar com eles? Com Christian e Ana, por favor?

Maia me olha por um tempo, como se decidisse o que fazer. Alívio pode descrever o que eu sinto quando vejo ela digitar no celular e me estender. Eu o pego, e fecho os olhos orando com toda a fé que eu nem sabia que tinha, para que alguém atenda. E finalmente acontece.

- O que você quer sua desgraçada? Devolva minha filha!

É ele, meu pai biológico. A pessoa que eu pensei que tivesse me abandonado, mas que na verdade sofreu tanto quanto eu. Ele me chamou de filha. Um soluço escapa da minha garganta. Ele me chamou de filha.

-Sou eu, Evageline. Ela me contou tudo. - A linha fica muda, exceto pela respiração do outro lado. Depois do que parece ser um século, Christian finalmente fala alguma coisa.
- Me desculpa, Deus, me perdoe meu anjo. - Ele chora, eu chorava, era bom finalmente ouvir aquilo.
- Pelo quê? Não motivo algum pra me pedir desculpas. Ana está ai? - Ouvi a voz de Christian um pouco abafada, só para escutar em seguida um choro, que devia ser de Ana.
- A ligação está no viva-voz meu anjo. Eu queria tanto te abraçar agora, te embalar nos meus braços e fazer o que eu não pude quando você era o meu bebezinho. Deus, eu sinto tanto. - Os soluços do outra lado da linha aumentaram, e eu já não tinha certeza de que poderia continuar falando, minha voz iria falhar mais do que a do Christian.
- Eu não tenho muito tempo, Deus sabe como eu queria ter mas... Eu me sinto grata por saber que eu não fui rejeitada, por saber que vocês não desistiram de mim. Eu queria dizer que...

O telefone foi tirado de mim com brutalidade, olhei pra cima e vi Maia colocá-lo na orelha, assumindo a ligação. Eu ainda estava mexida com a ligação, então não percebi a arma que ela estava segurando até estar apontada para mim.

- Eu vou dar um jeito nela meu amor, e nós vamos finalmente, poder ficar juntos, como deveria ter sido desde o princípio.

Ela larga o celular no chão e eu me desespero. Olho em volta mas Daniel já não está no quarto. Estou sozinha com a mulher que vai me matar.

- Você foi uma boa garota Evangeline. Mas você sabe, boas garotas são apenas garotas más que ainda não foram descobertas. Eu era assim, mas vou evitar que você seja.

Não penso em nada a não ser na dor que eu sinto ao ouvir o disparo. Foram dois disparos, um seguido do outro. Isso foi tudo que eu registrei além do sangue que tomou conta das minha roupas.
Não exatamente onde fui atingida. Não importa. Não muda a dor que eu sinto.
Meu corpo fica mole e eu sinto que já não posso controlá-lo quando caio na cama. Tento respirar funda mas é difícil. Tudo é difícil agora.
Escuto a voz de Daniel, ele está alterado. Não sei bem o que acontece, mas escuto mais dois disparos. E então, o silêncio.
Tudo parece ir mais devagar com o silêncio presente, respirar fica mais difícil e eu sei que já não tenho mais tanto tempo.
Morrer não é algo agradável, com certeza não, muito menos morrer baleada. Mas isso não é o que me afeta agora.
Eu sinto por estar morrendo sozinha, em um lugar desconhecido e por causa de uma louca.
Sinto por não ter mais tempo para passar com meus pais e com meu irmãozinho. Sinto por não ter a chance de conhecer Ana e Christian como pais, e Deus, sinto tanto, tanto por não ter a chancer de passar a vida com Dom.
Ele mudou a minha vida com certeza, e o tempo que eu tive com ele foi maravilhoso.
Tenho a sensação estar sufocando, e quando viro a cabeça, só consigo tossir sangue.

Escuto a porta se abrir mas sei se é apenas uma miragem. Talvez minha mente só esteja tentando me deixar mais confortável com a morte. Não sei o que é, nem mesmo tento.
Já não tenho forças pra lutar, por isso não luto. E toda luz se vai.

" Olá amores, sei que não é o dia em que eu costumo postar, mas como estamos na reta final( menos de 7 capítulos) eu vou postar assim que terminar o capítulo. Não foi revisado, então se acharem algum errinho me avisem. Beijão"


50 tons de esperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora