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-Perdão? - Dr. Watson perguntou, quase não ouvindo a própria voz, de tão baixo que falava. Era um homem cauteloso demais para até sussurrar em um horário daqueles.

O moço, deitado, tossiu algumas poucas vezes antes de levantar do chão frio e começar a explicar. Por algum motivo, Dr. Watson reconheceu que sua voz estava tão baixa por fraqueza, não como se ele quisesse ter a mesma cautela que o - provavelmente - mais velho.

-Estou congelando de frio, não consigo mais andar. - começou, apontando com o dedo fino e longo para as pernas. - Se eu continuar aqui, morrerei tão rápido que possivelmente nem dor sentirei. Não uma maior que esta que sinto agora mesmo. Por favor, eu farei tudo o que desejar.

Ele sabia, naquele momento, que o homem era um fugitivo. Não pelas roupas ou pela aparência (pelo amor de Deus, Watson não era alguém de julgar com os olhos.), mas porque ele pedia "por favor". Nenhum alemão naquele momento da história se esforçava para ter educação há não ser aqueles que se encontravam em desespero.

E John, no mesmo segundo, sentiu empatia.

Empatia pelo par de olhos verdes marejados que o encarava com uma euforia quase surpreendente. A mesma euforia que via nas pessoas doentes que atendia durante todo o dia e noite. E, por fim, a mesma euforia que via em seus próprios olhos quando se encarava no espelho do banheiro toda manhã, quando tentava entender o tipo de homem que era.

Pensou por algum tempo, logo reconhecendo o risco que ambos corriam parados na rua. Ele e um fugitivo.

-Aqui, me acompanhe. - disse finalmente, passando o braço pelos ombros do homem e o erguendo.

Entraram na casa, Watson coçou os cabelos algumas vezes, andando em círculos pela miúda sala. O desconhecido o encarava completamente em pânico, sem nenhuma ideia do que deveria ou não fazer.

-Eu vou buscar umas roupas. - Watson anunciou. - Você precisa de um banho, para conseguir dormir aquecido. Mas tome cuidado, não demore muito, já que não duvido que eles vigiem até o nosso consumo. Podem pensar: "olhem só este jovem homem tomando vários banhos por dia, algo está errado!" e virem até aqui e me matarem com algumas pauladas na cabeça. Eu não quero morrer. Okay, eu vou pegar as roupas.

Logo depois, o loiro surgiu com pijamas brancos e limpos e uma grande toalha marrom. Entregou os objetos diretamente nas mãos de seu abrigado e logo sentiu o quão frias estavam. Imaginou por um pouco de tempo, a quantas horas aquele pobre homem estava parado em frente à sua porta, esperando que a morte chegasse.

-Eu não vou demorar, prometo.

Enquanto ele caminhava até o banheiro, um pouco mais recuperado, John pode refletir finalmente sobre a aparência dele. Tinha os cabelos sujos e totalmente molhados pela umidade da neve, deixando-os para trás em um penteado estranho, os olhos verdes brilhavam e davam algum contraste com o corpo magérrimo e pálido daquele que agora ocupava seu chuveiro. A pele, mesmo pálida, estava completamente suja e seu cheiro não era agradável. Watson não o culpava, de jeito nenhum, estava abandonado e assustado, ninguém poderia o julgar pelo cheiro.

Watson passou os longos 10 minutos de espera sentado em sua poltrona, que dava de frente para outra, um pouco diferente. Sua irmã costumava se sentar na poltrona oposta e conversar com ele sobre como a vida andava na fazenda dos pais. Isso quando ela o visitava.

Veja, a família Watson era complicada. O dr. era o único que morava sozinho, já que se formara em uma boa faculdade. O pai fora contratado pelo próprio nazismo para ser um oficial e hoje vivia com a esposa, mãe do dr, em uma fazenda no interior, onde ninguém conseguiria chegar sem ser um convidado especial comandado por ele.

O fato é que, John nunca fora convidado. E sua irmã simplesmente nunca dera notícias, mesmo ele sabendo que ela não viveria junto aos pais devido a algumas circunstâncias próprias.

Harriet estava perdida, e agora era no estado literal.

-Acredito que esses pijamas não são do meu tamanho, mas estão ótimos. Olha, me desculpe, prometo ficar somente durante essa noite ou até meu frio passar. Eu sei que sou um incômodo e que o senhor...

-Doutor. - Watson o corrigiu, mas percebeu o quão inconveniente foi.

-E eu sei que o doutor corre perigo comigo em sua residência. - ele disse, bagunçando os cabelos.

Oh, eram cacheados.

-Por que você me representaria um perigo? - a voz de Watson estava bem mais clara, agora que ele estava dentro do ambiente domiciliar. Ele sabia exatamente qual era o perigo, mas gostaria de ouvir ele dizer.

-Bem, eu... Você sabe, sei que entendeu exatamente o que quero dizer, vejo pela posição da sua boca e de seus sapatos e das trancas extras na porta e talvez, muito talvez, da existência de uma arma naquele armário. - ele apontou e falou tão rapidamente que Watson ficou zonzo por alguns segundos.

-Como é que meus sapatos representariam uma confirmação de que sei os seus motivos?

-Eu explico depois, mas não me faça dizer agora o porquê de estar me escondendo. Eu não quero que os chame, prefiro morrer congelado. Se for para ficar furioso com minha situação, por favor, só me jogue para fora e me deixe virar uma pedra de gelo.

-Você é judeu. - Watson concluiu, baixinho. O homem assentiu com a cabeça, fechando os olhos e esperando a pancada que, felizmente, não veio. - Eu sabia, desde que me pediu "por favor".

-Oh. E...?

-Está tudo bem, eu acho. - não estava, ele estava correndo risco de morte por causa de um fugitivo que ele não conhecia, mas gostava de fingir estar no controle de tudo, somente para ver as pessoas bem.

-Não, não está. Eu vou sair assim que conseguir me movimentar melhor ao nível de poder correr até algum abrigo, eu prometo. - se ajoelhou em frente ao corpo sentado de Watson,com as mãos em oração.

-Tudo bem, tudo bem, senhor...

-Holmes. - completou. - William Sherlock Scott Holmes, se o meu nome completo venha a interessar.

-Bem, senhor Holmes, daremos um jeito. - Watson sorriu fraco. - Quanto ao fato de que meus pijamas estejam extremamente justos e curtos no senhor e que seus cabelos secam rápido demais, temo que não exista solução.


HEY

Eu fui muito encorajada pela doctonstrange a escrever isso, então dedico tudo a ela, por ter lido primeiro. Te amo de montao, Ca <3
Gostaria de dizer que trarei algumas referências da série ao texto, e elas geralmente estarão em itálico mesmo que ninguém se lembre dessas citações (eu sou estranha e assisto o mesmo ep até decorar.)

Espero que gostem, comentem e votem.

not a couple | johnlock | concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora