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-John, querido. - a voz da mulher estava trêmula de um modo assustador, os músculos de seu rosto se estendiam e tremiam a cada palavra dita. O menininho podia ver as lágrimas ameaçando uma queda repentina. Mamãe o agarrou pelo braço e o puxou para um abraço. - Eu preciso que vá para o quarto e finja que está dormindo. Leve Harry junto, leve-a.

John agarrou a irmãzinha, a colocando em seu colo e a arrastando pelos cômodos. Harry era alguns anos mais nova, mas ainda assim tinha quase a mesma altura que o irmão, sendo ele o mais baixinho de sua sala.

Ele trancou o quarto que dividia com a irmã e se enfiou debaixo das cobertas, sentindo um frio que não se dava exatamente pelo clima da cidade, mas pelo temor ao pai que se aproximava muito lentamente.

Ele ouvira os passos fundos na sala de estar chegando cada vez mais perto, passando pela frente do quarto e depois voltando. O pai estava furioso, e John sabia muito bem disso. A irmã tentara acalmá-lo com algumas palavras sobre ele não estar gritando, mas John tinha a plena consciência de que o silêncio, levado a sério pelo pai, seria praticamente mortal a quem aparecesse em seu caminho.

-Por favor, as crianças estão dormindo. - Mamãe falou, mais baixo do que antes e ainda mais apavorada. O pai de John era um homem impaciente quando se tratava de sua família. Não queria estar ali agora e deixava isso muito claro.

-É claro que estão. - ele falou ironicamente. - Isso nunca me impediu de fazer nada. Sabe disso, não?

John não podia ver, mas sabia que a mãe assentia rapidamente e diversas vezes, tentando evitar ao máximo a ira do marido. Ela sempre o fazia. Sempre se defendendo sem realmente o fazer. Sempre.

A primeira bofetada veio estalada. Harry se acolheu no corpo de John com certo desespero. O menino se encolheu mais do que podia e soltou um suspiro longo e silencioso. Não conseguia chorar, não iria chorar. Não se mostraria fraco perto da irmã.

A segunda também veio.

A terceira.

A quarta.

Quando o barulho da quinta ecoou, o pequeno John Watson se encontrava agarrado ao pescoço do pai, fazendo a pouca força que ainda tinha. A mãe estava no outro canto da sala, desacordada.

A sexta bofetada não foi em sua mãe.

Holmes desistira de tentar acordar o homem. Estava a alguns minutos cutucando seu braço quando finalmente percebeu que se encontrava em um sono profundo demais para ser interrompido.

O jovem deveria aproveitar suas oportunidades, como sempre fazia. Vestindo uma camisa branca, uma calça social e alguns suspensórios vermelhos, deixou o flat com um ar de desespero. Já se passavam das seis da manhã, portanto ele era permitido a andar pelas ruas com certa cautela e preocupação.

Os vizinhos começaram a se perguntar, ele sabia que estava sendo observado. Nunca andara por aquela vizinhança antes de ir parar na moradia humilde de um certo médico desafortunado, portanto não tinha motivos para estar lá sem que as pessoas duvidassem.

Sherlock Holmes sabia que o que mais pesava em si era a estrela em seu braço, mesmo sendo um pequeno retalho de tecido. O peso daquela estrela era tão surpreendente quanto o efeito que a mesma causava nas pessoas que não as usavam.

A questão é que: os judeus eram extremamente proibidos de frequentar parques, áreas abertas, teatros ou qualquer tipo de lugar que pudesse os proporcionar qualquer diversão. Ninguém naquele país queria que os judeus, aqueles homenzinhos imundos e narigudos que roubavam seu dinheiro, se sentissem confortáveis dentro de uma sociedade. Todos desejavam que os judeus fossem tratados como verdadeiros animais, deslocados. O que sobrara a eles era o cemitério.

Aquele cemitério, que ficava surpreendentemente perto da casa de John, era o que representava o parquinho infantil para as crianças judias. Elas pulavam e corriam entre as lápides daqueles que seriam os últimos a terem seus nomes gravados em algum lugar depois da morte. Aquelas crianças não tinham noção alguma do que aquele lugar significava.

Mas Holmes tinha. E era por isso que hoje adentrava o grande portão de ferro com algumas rosas vermelhas e bonitas que achara no caminho.

Encontrou um pequeno menino, de no máximo 3 anos, esmagando as letras que denunciavam o que Holmes fazia naquele lugar, justamente naquele momento. Algumas das letras estavam quebradas, mas ainda assim se podia ler.

J      S  M  R I A  T Y

Ele se desabou em lágrimas. Aquele era seu lugar de desabafo, todo destruído e quebrado por uma brincadeira infantil. A pobre criança não tinha culpa, obviamente, não sabia o que estava fazendo. Mas, mesmo assim, ele não podia evitar a tristeza que invadia seu peito ao ver os pedaços de concreto caídos ao chão. Aqueles pedaços eram o único lugar - além do coração de Sherlock - que ainda se lembravam dele.

O incomparável, aquele que o fazia carregar um peso enorme nas costas.

Ele fizera Holmes perceber que seria um procurado do governo. E não era pelo fato de ser judeu.

Holmes se ajoelhou em frente à lápide e depositou as flores, que com toda a certeza eram de um homem que se decepcionara de última hora com o amor de sua vida, uma mulher de mau caráter e certa posição social, pelos apertos no pacote que envolvia as flores.

-Olá. - Holmes disse, sendo encarado pelo menininho. - Eu disse que voltaria. Espero que esteja tudo bem, onde quer que você esteja. Eu... Bem, eu estou ótimo. Não tomava um banho há séculos, nem falava com alguém além de minha família. Tudo está se ajeitando, mas algo eu não poderei evitar.

Ele fez uma pausa, quase dramática, para limpar as lágrimas que rolavam em seu rosto desamparadamente.

-Eu estarei com você em breve.

Holmes se levantou, tocando a lápide de forma carinhosa e se retirando com certo receio. Adentrou novamente a casa, encontrando um Dr. Watson apavorado e à beira de um ataque de nervos.

-Pelo amor, Holmes. Onde estivera?

O cacheado sorriu, o acalmando um pouco. Dr. Watson sentiu aquele mesmo arrepio estranho.

-No céu.

eu to bem triste

EU JURO QUE ESSE CAPITULO ERA NECESSARIO MESMO ELE SENDO CHATO.

Quem viu o ep novo? Gostaram?

not a couple | johnlock | concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora