sieben

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*percebi que esqueci de esclarecer no último capítulo que a casa deles não foi bombardeada, mas a cidade sim. Alguns dos locais da vizinhança estão cobertos de cinzas, mas esse não é o caso deles. Mas, como podem ver, já se passou algum tempo aqui. Enjoy xx*

-Doutor Watson? - Holmes gritou, em mais um dos dias em que ele limpava a casa sem nenhum aviso. A porta havia se aberto e o cacheado não sabia que Watson chegaria assim tão cedo em plena quarta feira.

Não escutou uma resposta, então terminou de dobrar as cobertas da cama do doutor, enquanto alisava o avental que Watson o arranjara para esse dia da semana. Era muito comum o doutor trabalhar um pouco mais durante as quartas e Holmes aproveitava desse momento para arrumar a casa do doutor que o abrigara.

O barulho não parou, e se multiplicou. Holmes não estava com toda a coragem de ir até a sala e conferir se era uma doce senhorinha vendedora de doces ou um monstro - ou seja, um nazi.

Os dois passos se tornaram quatro, quase coordenados. O terror o alcançou muito rapidamente,e ele tentou retirar o avental antes de abrir a porta do quarto (eles sempre a mantinham fechada, por algum motivo que Holmes não entendia mas não contestava) e ir em direção ao barulho. Se aproximou muito devagar, temendo o que encontraria.

-John? - a voz feminina perguntou. Holmes sabia exatamente o que estava acontecendo e, de certa forma, não sabia se gostava.

A mulher, loira dos olhos bem azuis, desmanchou o sorriso quando viu que se tratava de outro homem.

-Olá? O que deseja? - Holmes perguntou, com um ar caseiro é simpático, mesmo não sentindo que deveria ser assim.

-Eu sou Mary Watson. - a mulher anunciou, como se Holmes não soubesse. Estendeu a mão para o homem, uma mão fina e pequenina.

-Sherlock Holmes. - sorriu e apertou a mão.

Ela sorriu ironicamente e pegou o bebê - dono dos outros passos - no colo.

-Olha, eu sabia que isso aconteceria. Eu sempre soube, tinha toda a certeza do mundo, mas me neguei a acreditar que seria tão rápido e...

-Mary? - a voz tão conhecida agora por Holmes gritou da porta. - Pelo amor de Deus, está é a primeira vez em que agradeço pelos vizinhos que tenho. A Sra. Hudson do flat de baixo me avisou sobre sua vinda e eu pude vir rapidamente até aqui.

-John! - ela sorriu, com a menina no colo. - Pode me ajudar com as malas? Estive ocupada esse tempo todo com Rosamund e só agora consegui voltar.

-Você está bem, Holmes? - Watson indagou, fazendo Holmes sorrir em confirmação. - Rosamund está grande.

-Sim. E a sua cara. - Mary sorriu. - É por isso que voltei! Rosamund merece um pai! E, se eu não voltasse para cá, seria obrigada a atravessar o país de navio com Rose e ela me odiaria. Meus pais estão se mudando para algum lugar remoto.

-Pois trate de ir com eles, então! - Watson gritou. - Esta não é sua casa mais, Mary, esta é a casa em que vivo com o senhor Holmes, a nossa moradia.

-Eu não teria coragem. Eu estou tentando me mudar com meus pais, mas pobre Rosie... Acha mesmo que ela aguentaria toda a viagem? Nunca viajei com ela, nunca esteve em um navio antes e tenho a certeza de que não teremos muita comida nem muita segurança para que eu possa a manter viva e saudável.

-Mary, você não voltará a viver comigo. Como pode tentar bagunçar toda a minha vida novamente? Você decidiu sair, e eu me recuperei sem a sua ajuda, portanto não quero que tente voltar. Foi uma escolha sua e prefiro que a mantenha enquanto eu estiver respirando.

Mary teve seu rosto recolhido por uma expressão de tristeza exagerada para que Watson a aceitasse, e Holmes percebeu logo que não se tratava de remorço, mas de uma necessidade. Com toda a certeza Mary sabia que não sobreviveria á viagem e estava tentando se livrar dela.

-John... - ela choramingou.

-Para você, é Senhor Watson, e não ficará em minha casa.

-Mas a criança sim. - Holmes anunciou, em tom claro. - Tenho a certeza de que esta viagem é uma escolha sua assim como sua escolha de abandonar Watson quando ele mais precisou de sua ajuda. Posso lhe arrumar um ótimo navio, a senhora não correrá riscos, mas nem em um minuto pense que levará a pequena menina como uma desculpa para conseguir moradia em algum outro país. Você a deixará com as pessoas que com certeza aprenderão a amá-la enquanto aproveita sua vida em outro lugar.

-Aproveitar? Holmes, você quer que ela deixe minha filha em nossa casa para ter seus próprios planos em outro lugar? Isso é desumano. - Watson gritou, agarrando o braço do companheiro e o apertando com certa força.

-Desumano é manter a pequena Rosamund em um lar com pessoas que são alheias à existência dela. Eu posso cuidar dela enquanto o senhor trabalha e a manter segura durante as noites. O senhor pode dividir a cama com ela e tudo ficará bem. - Holmes disse, com a voz doce de quem tinha a calma como uma aliada e com lágrimas nos olhos pela dor repentina. - E, se me permite interferir, o senhor está me machucando.

Mary chorou por horas e horas sentada em uma cadeira, pensando na possibilidade de abandonar sua filha. Holmes conseguiu a convencer logo que, de fato, ela não estaria abandonando sua filha, mas sim garantindo um futuro melhor para a mesma.

O cacheado tinha agora os cabelos molhados pelo banho tomado durante o meio tempo em que discutira com Watson e acalmara Mary, que logo revelara seu plano de arranjar um novo emprego em outro lugar.

Ela admitira, logo antes de ir embora, que Rosamund estaria muito mais segura ao lado do pai e do jovem rapaz do que em um novo país,com ela trabalhando dia e noite para conseguir uma nova moradia.

Dias depois, ela surgiu com uma pequena mochilinha de roupas, alimentos e um diário escrito sobre o comportamento da criança. Rosamund estava radiante e parecia quase esperançosa (se não fosse uma criança) enquanto se deitava no colo da mãe e adormecia. John a agarrou no colo e sorriu, agradecendo a Mary e esquecendo todo o ódio ao desejar a ela uma boa sorte na nova jornada que agora aconteceria.

Agora eram três, e Holmes evitou por algum tempo lembrar de seus sonhos sobre isso quando era um adolescente.

Rosamund era um espaço em seu cérebro que agora estava preenchido com olhos azuis e cabelos bem louros.

AAAAAAAA



not a couple | johnlock | concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora