A conversa daquele dia havia se encerrado ali mesmo, com um sorriso muito sincero e um "isso é o que é " emocionado dito pelos lábios desenhados de Sr. Sherlock Holmes. Felizmente, Holmes era um homem que deduzia muitas coisas,mas Watson era um homem de visão. Sabia desde o momento em que o cacheado pisara em sua casa que ele não estava ali somente por ser um judeu, ele era um caso mais pesado para o governo.
A questão era que homossexuais não eram mandados para qualquer campo de concentração. Eles eram mandados para os mesmos que os judeus, ficando sempre separados dos ciganos, retardados e antissociais. Agora, ser um judeu homossexual era algo complicado na visão de alguém que enxerga que ambos seriam ameaças e pessoais insignificantes para um exército. Sherlock Holmes estava encurralado para todos os lados e não tinha para onde fugir, somente no quente lar de John Watson, um jovem doutor alemão, ele encontrava seu refúgio daquela triste realidade que agora era chamada de "sua".
-Watson? - perguntou ele, em uma daquelas noites em que o doutor decidira não trabalhar muito cedo e eles podiam se sentar na lareira e comer alimentos quentinhos feitos na hora.
-Sim, Holmes.
Ele não sabia como perguntar aquilo, era algo pessoal demais para ir se perguntando tão friamente, mas ele precisava saber que aquela pessoa existia e que estava ali por ele.
-Você já amou?
O sorriso de John Watson, aquele que ele mantinha no rosto mesmo quando as coisas ficavam complicadas, ficou menor e ele pareceu murchar por completo. Agora era a sombra do homem que era alguns segundos atrás,era um resto.
-Sim. Amei, e muito.
-Se amou tanto, por que se entristece quando o pergunto sobre o assunto? O amor não deveria ser algo maravilhoso e revolucionário?
Watson negou com a cabeça,lembrando-se de todas as vezes em que pensou que o amor de sua vida era Mary e que ela nunca o deixaria.
-Todos achamos que o amor é algo maravilhoso até sermos abandonados, Senhor Holmes. - ele disse simplesmente, encolhendo os ombros e servindo mais um pouco de chá para o companheiro.
Holmes estava ali fazia algumas semanas e Watson, como um bom homem solitário,não conseguia mais imaginar suas noites sem aquele alto jovem deitado em um colchão logo ao seu lado.
Watson sempre fora alguém de se acostumar rapidamente e agora combinava sua respiração noturna com a do amigo, sem conseguir adormecer se algo estivesse diferente. Mas, antes disso, Watson se acostumara com outra respiração, a respiração da mulher que ele amou com todas as forças, a mulher que dormia em seu lado da cama, Mary Watson.
-Mary... Mary era o meu primeiro amor e com toda a certeza o mais intenso. Era uma jovem lourinha de olhos gentis e cabelos curtos. Vivemos uns bons anos juntos, aqui mesmo, nessa casa. Aquele lado vazio da cama em que o senhor sempre insiste em reparar e comentar sobre, foi ocupada por uma grande e forte mulher.
-E por que hoje aquele lado está vazio?
-Caro Holmes, nem tudo dura para sempre,não? - esclareceu mais uma vez, levantando-se. - Depois de 4 longos anos passados na mais plena felicidade, ela resolveu que eu não era mais suficiente. Saiu com uma mala cheia de cartas, as quais ela nunca me deixou ler nem saber donde vinham, um sorriso entristecido assim como o que lhe mostro hoje, e, o mais triste, nossa filha nos braços.
-O senhor tem uma filha? - Holmes perguntou encantado e Watson sorriu ao lembrar do rostinho gordo da filha. - Como é o nome dela?
-Rosamund. Rosa do mundo, um nome escolhido por Mary. Hoje, Rose tem seus pouquinhos meses, mas deve estar tão linda quanto antes, quando eu a tinha em meus braços.
-É nisso que pensa toda noite quando pensa que estou dormindo?
-Como?
-Quando dá meia noite, escuto-o levantar-se e partir para sua mesa de escritório. Vejo-o desenhando. Desenha ela? Pelo menos sua visão dela?
-Eu não tenho noção de como ela está. Não acho que tenha puxado meu rosto ou meus cabelos,mas gosto de imaginá-la a cópia exata de mim, ou pelo menos uma mais bonita.
-Tenho a certeza de que ela é linda, como... - Holmes não ousou terminar a frase. Como o senhor não parecia apropriado.
-Como?
-Como sua ex esposa deve ser, é claro. Ela deve ser muito bonita.
-Oh, ela é. Eu a admirava secretamente todos os dias antes de tomar uma atitude e finalmente falar com ela, era muito cômico quando ela me pegava olhando.
-Tudo vai dar certo algum dia, Watson. Nosso primeiro amor geralmente nunca é o verdadeiro, é nisso que acredito.
-Esse pensamento te faz parecer um carrancudo desumano, Holmes. O primeiro amor sempre é o mais intenso.
Holmes assentiu com a cabeça, concordando com a ideia do íntimo amigo. Tossiu algumas vezes, sabendo que Watson notaria que sua doença havia voltado.
-E é por isso também que o primeiro amor sempre acaba, de alguma forma. Existem excessões, é claro, mas geralmente tudo acaba rapidamente pelo fato que a intensidade supera a moralidade e as pessoas envolvidas acabam não enxergando nada além daquele sentimento que as preenche. É bom experimentar, ter mais algumas experiências antes de declarar algo tão poderoso quanto "ele foi meu único amor.".
-Às vezes penso e reflito afim de saber se o senhor realmente é humano, Holmes. Seus pensamentos são tão avançados!
Holmes sorriu levemente, agradecendo com um aceno de cabeça. Holmes admirava ser elogiado pela sua inteligência como uma mulher gosta de ser elogiada pela sua aparência.
-Acha que algum dia vai amar mais alguém,Holmes? - Watson continuou, alcançando a total atenção do amigo.
-Acho. Tenho toda a certeza. Sou um homem de mente, mas tudo o que faço e digo é inteiramente baseado no que sinto, espero que o senhor se acostume com essa ideia. Sou quem sou hoje porque sou o reflexo bom do adolescente medíocre e sem sentimentos que fui antes de conhecer Jam...es.
-James. - Watson repetiu, sorrindo.
E assim veio.
O estrondo.
O aviso.
O desespero.
As bombas.
Eu sinceramente fiquei decepcionada com o novo episódio,não pelo fato de Johnlock não ter acontecido já que pra mim esse episódio foi a prova mais pura da existência de algo entre ambos os rapazes, mas o episódio não me agradou MESMO! Tudo parecia fora do lugar e alguns erros poderiam ter sido evitados se tivessem a mínima atenção.
Enfim, depois de Mofftiss zombar das Johnlockers, eu tava desanimada, mas pensei que seria muito melhor continuar com isso do que acabar do nada e concluir que sou uma pessoa fraca. Johnlock existe, é real e é algo lindo, que esteve esperando seu espaço nas adaptações por anos.
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not a couple | johnlock | concluída
Fanficonde Dr. John H. Watson abriga Sherlock Holmes, um judeu, em sua casa durante a Segunda Grande Guerra. capa por: @garota_independente