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Dr. John H. Watson não conseguiu dormir enquanto ainda conseguia escutar os dentes de Sr. Holmes, seu abrigado, batendo por causa do constante frio. O arrumara um colchão e o deixou dormir no chão de seu quarto, mas Holmes ainda tinha o corpo gélido pelo frio passado duas horas atrás. Watson temia pela vida dele e, é claro, pela própria, já que se os soldados armados resolvessem revistar as casas durante a madrugada, ambos estariam mortos ao amanhecer. Mas, mesmo com tudo que poderia acontecer, ele não conseguia evitar de se sentir familiarizado com Holmes, um homem perdido e apavorado, com o rosto definido seco pela falta de hidratação e os cabelos cacheados como uma bagunça infinita que, por algum motivo, caía bem com os olhos bem verdes.

Durante a manhã, Watson percebeu que os olhos de Holmes eram mais azuis que verdes quando em contato com a luz do dia. A neve ainda caía fortemente na janela. Watson pendurava a bandeira vermelha, cobrindo o fato de que abrigara em sua própria casa uma das pessoas que os representantes daquela bandeira mais odiavam.

Holmes estava parado na frente dele, com a mão estendida e os pijamas perfeitamente dobrados no colo. Vestia as mesmas roupas do dia anterior, ainda molhadas e amassadas.

-Eu preciso ir agora. - ele disse. Watson reparou em sua voz grossa e cantada. Ele parou de falar para tossir.

-Você não pode. - Watson disse simplesmente.

-Eu posso, vou dar um jeito de passar pela rua sem que ninguém me perceba. - ele sorriu (o que também era raro ali) e estendeu a mão novamente.

Watson estendeu a mão ao mesmo tempo, apertando-a. Quando se soltaram, Watson sentiu a palma da mão úmida e, quando virou-a para ver o que acontecia, percebeu que era sangue. Segurou a mão de Holmes e percebeu a mesma coisa.

-Oh, isso acontece sempre, não precisa se preocupar. - o cacheado falou, tentando deixar certa calmaria transparecer. Utilizou a pia para limpar as mãos.

Por algum motivo, Watson se lembrou do pai lavando as mãos com sangue inoscente quando veio o visitar no inverno passado. Ele estava ainda mais loiro e bravo, o que fez dele uma pessoa estranha para o médico. Não tinha certeza da posição do pai no exército hitleriano, mas sabia que seu velho havia esquecido toda a humanidade muito rapidamente como alguém se esquece do nome de algum conhecido.

-Você vai ficar, vou cuidar disso logo. Sente-se ali e fique quieto enquanto busco minhas coisas. - Watson apontou para a cadeira da cozinha, onde Holmes prontamente logo se sentou.

O médico o entregou um remédio, mesmo com dúvidas extremas quanto ao seu funcionamento. Holmes tossiu novamente, agradecendo.

-Eu preciso trabalhar, não posso faltar. - continuou, pegando dois casacos de sua poltrona e procurando suas chaves. - Fique aqui, por favor. Eu volto logo, juro, mas não quero que se arrisque saindo de casa.

-Eles só me matariam se agora estivéssemos no horário proibido.  - Holmes afirmou.

-Não, te matariam agora mesmo. É a profissão deles, senhor Holmes! Matar é a profissão.

Senhor Holmes concordou em permanecer em casa durante as seis horas que se passaram até Dr. Watson voltar e se sentar em sua poltrona. Holmes se sentou na poltrona oposta, o que fez o mais velho estremecer.

-Se sente incomodado? posso te sentar em outro lugar, esqueci do fato de que sou um convidado.

-Não, está tudo bem. - o doutor sorriu levemente, lembrando-se da irmã.  - O senhor sabe que está doente, não sabe? Eu tenho um paciente que também... Você sabe, cospe sangue. Ele já está bem melhor. Vou visitá-lo hoje.

-Hoje? - Holmes perguntou, olhando para fora da janela e observando o céu levemente escuro fazendo contraste com a neve branca. O fazia questionar onde eles estavam. - Seu turno não terminou?

not a couple | johnlock | concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora