-Morta? - Sherlock repetiu, deixando todo o seu pânico e a dúvida que ainda tinha sobre o paradeiro de Harriet no ar, mas não em um modo que, de alguma forma, pudesse chegar até John e o deixar ainda mais machucado.
-Morta, Sherlock. - John gritou, soltando um longo e doloroso soluço, que pareceu cortar o companheiro ao meio e logo depois o picotasse. - Minha irmã está morta.
O cacheado se sentou em sua poltrona, enquanto John se levantava, com as mãos cobrindo todo o rosto que adquirira um tom mais avermelhado por toda a raiva e todo o nervosismo que sentia ao saber como sua irmã morrera.
-Eu não posso acreditar. Não nisso, Sherly. - ele gritou, mais uma vez, enquanto seu peito se movia aceleradamente, em conjunto com sua respiração incontrolável. - Deus, eu odeio aquele homem.
-Hitler?
-Meu pai.
Sherlock arregalou os olhos. Ele já ouvira falar sobre o pai de John, ambos tinham esses tipos de conversas quando estavam entediados e Rosie estava dormindo, mas Sherlock não conseguia imaginar que o pai era mesmo o monstro que John retratava. Sherlock acreditava que, assim como a beleza, o ódio depende de modelos de infância e opiniões próprias para acontecer. Agora, reconhecia com muita dor que a ideia de ódio de John só acontecia pelo pai, porque o pai realmente fora a figura do ódio para ele.
Tudo o que sabia era que o pai de John agora comandava um dos grandes campos de concentração para homossexuais e judeus. E Harry era lésbica.
E, se tudo se completasse como se completava na cabeça conturbada e preocupada de Sherlock, logo o pai Watson viria a descobrir que Harry não era a única a ser diferente naquela família.
John agora estava com uma mão segurando o rosto, cobrindo seus olhos que soltavam lágrimas incontroláveis que desciam por suas bochechas rapidamente, quase como se não pudessem evitar serem vistas por Sherlock. O jovem não conseguia ver John chorar, simplesmente pelo fato de que a dor do companheiro o atingia bem fundo no próprio coração, agora que ambos estavam conectados de modo tão complexo que não conseguiam sobreviver um sem o outro.
E Sherlock simplesmente se levantou. Ele se levantou mesmo sabendo que alguém tocava rudemente na porta. Ele se levantou mesmo sabendo que quem agora estava tentando arrombar a porta era o pai de John, como era óbvio. Ele se levantou, e o abraçou. Um abraço mais doloroso que amoroso, porém sincero em um nível que dificilmente alguém conseguiria descrever. Sherlock deixou uma mão pousada na nuca de John enquanto a outra passeava pelo seu braço, encostando o queixo bem no topo de sua cabeça.
-É o que é,John. - ele disse, e naquele ponto já sabia que ambos estavam sendo observados, mas não se importou. Aquilo era mais importante que o pai louro e raivoso que estava parado ao lado de uma porta completamente destruída,assim como o coração de um filho que chora a morte trágica e injusta da irmã.
O pai pigarreou, fazendo com que John acordasse do sonho que era estar nos braços de Sherlock mais uma vez antes de tudo virar o pesadelo que ele sabia que viria.
-John.
-Pai.
Ambos se encararam, e John se negou a apertar a mão do homem que o trouxera ao mundo literalmente, mas não como deveria ter feito.
-Como está? - o pai perguntou naturalmente, fazendo o que sempre fazia quando começava suas raras visitas: lavar as mãos. E John se sentiu pessoalmente ofendido com o gesto, sentindo que na lavada das mãos, o pai se livrava emocionalmente do peso que era ter matado a própria filha.
-Não me pergunte como estou. Sabe exatamente o que está acontecendo e que não é bem vindo em minha casa. - John não teve a coragem nem a força para gritar ou dar um soco no homem, estava completamente destruído. - Você é um monstro, desde que nasci penso isso. Você é um monstro e todos os dias eu agradeço ao meu Deus por não ter um pingo de sua personalidade misturado com o sangue que corre em minhas veias.
Era doloroso para Sherlock assistir aquilo. Assistir John com dificuldade para continuar respirando, se afogando nas próprias lágrimas enquanto se segurava firmemente na mesa para não cair. Ele sentia um pedaço de si se desfazendo muito rapidamente, como o cair das lágrimas do homem que ele amava.
Porque, sim, ele o amava. O amava profundamente, como nunca pensou que voltaria a amar. Amava o jeito como John cuidava de seus pacientes, mesmo que agora a Sra. Herm e o senhor de quem cuidava já não estivessem mais entre nós pela falta de recursos e comida. Amava como ele sorria e como suspirava seu nome em seus momentos mais íntimos. Amava como ele cuidava da filha deles e como via muito dele na pequena menina. E vê-lo triste, acabado, fazia de Sherlock metade de um homem.
-Escute-me, John. Harry era uma doença, eu não poderia continuar com aquilo.
-Aquilo? Está se referindo à vida dela? - John gritou, finalmente. - Pois escute muito bem ao que vou te dizer nesse exato momento. Sherlock, por favor, pegue Rosie no colo.
Sherlock assentiu e colocou a pequena menina no próprio colo, amarrando suas perninhas ao redor de sua cintura fina e beijando o topo de sua cabeça enquanto deixava a menina deitar em seu peito ao som de uma canção de ninar cantarolada.
-Isso é o que você nunca vai ter, e o que tive a honra de ter. - John explicou.
-O que disse? Filhos? Eu tive filhos.
John gargalhou ironicamente.
-Estou falando de família,senhor Watson. - o louro esclareceu, juntando sua mão com a de Sherlock, e sorrindo sem medo. - Porque, sim, essa é a minha família. Eu tenho um companheiro lindo e atencioso a quem amo mais que tudo e nós dois temos uma linda filha, que vai aprender que a doença do mundo não foi o fato de ela ter sido criada pelos dois pais que teve, mas sim que o amor seja considerado como um crime em um mundo onde o ódio prevalece. Ela será a menina que estará nas ruas, reivindicando seus direitos de estudante e mulher, ela será a que entenderá o que acontece hoje como uma parte da história, mas não como uma verdade. Porque crença não é escolha, doença mental não é escolha, estilo de vida não é escolha... E o amor, este com certeza não se pode escolher.
O louro mais velho acabou com uma expressão fechada e as mãos em posição de soco quando ouviu as palavras do filho.
-Sherlock, meu amor, leve Rosie até a Senhora Hudson.
-E por que?
John suspirou.
-Porque ele está aqui para nos buscar.
O que, logo mais tarde, se provou verdade. O pai os deixou escolher um objeto de cada. Eles poderiam ter escolhido uma fatia de pão ou uma barrinha de chocolate.
Mas John acabou levando seu diário, que nunca deixara Sherlock ler, enquanto esse, por sua vez, carregara debaixo do braço um desenho de Rosie.
E eles sobreviveram somente com isso na longa viagem de trem.
Sobreviveram com isso quando receberam as tatuagens de triângulos cor-de-rosa nos braços.
E, por fim, sobreviveram à chegada ao campo simplesmente pelo fato de ainda estarem juntos.
Porque o amor nunca é uma escolha.
ME DESCULPEM EU SEI EU SEI
OLha, eu tava morrendo de vontade de fazer um ask pequeno pra aliviar um pouco o clima, então deixem suas perguntas para os personagens e para mim aqui:
John
Sherlock
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not a couple | johnlock | concluída
Fiksi Penggemaronde Dr. John H. Watson abriga Sherlock Holmes, um judeu, em sua casa durante a Segunda Grande Guerra. capa por: @garota_independente