A primeira bomba pareceu não assustar tanto, pois o choque era muito maior que o medo. Dr. John Watson respirou pesadamente antes de finalmente perceber que sua cidade estava sendo bombardeada e que logo, se não se mexesse, estaria morto e ninguém seria capaz de encontrar seu corpo no meio de todas as cinzas.
Ele primeiro arrastou Holmes, que não entendia muito bem o que estava acontecendo. Pegou-o pelo pulso e o puxou, tentando fazê-lo ficar ciente de sua situação. Depois,pediu ajuda para pegar algumas roupas e comidas, caso a casa deles fosse bombardeada e nada sobrasse.
Holmes recusou-se uma, duas vezes antes de Watson o convencer de ir junto com ele. A grande questão é que o abrigo subterrâneo era exclusivo para os alemães "de bem". Sherlock temia que algum deles o reconhecessem como um judeu e o matasse ali mesmo, sem nenhuma espera.
Correram pelas ruas escuras - pulso com pulso, respiração com respiração - até alcançarem a portinhola do abrigo, que tinha uma grande rampa de acesso até aquele abrigo imundo que Watson já frequentara algumas vezes. Holmes estava assustado demais com a situação e com as pessoas.
Ele deu lugar no chão para as criancinhas apavoradas e para os idosos. Algumas grávidas chegaram logo depois, e Holmes fez o possível e o impossível para que elas também conseguissem ficar sentadas. Watson o encarava por algum tempo, só parando quando percebeu o sorrisinho de canto que já estava formado por tempo o suficiente para um senhor idoso perceber e grunhir.
Como podia ele?
Achava mesmo que o doutor era..?
Só por causa de um sorriso de admiração?
-Escute, Watson! -Sherlock gritou mais uma vez, dessa, chamando a atenção do mais velho. Remexeu os cabelos cacheados que todo mundo ali via como os mais bonitos e chegou mais perto do companheiro. - Tem uma senhora aqui dizendo que o conhece.
John olhou para os lados, mas todas as pessoas o pareciam completamente iguais.
-Senhora Herm? - gritou, quando encontrou o olhar doce da senhorinha.
Ela se encontrava jogada no chão,mas tinha o mesmo olhar de quem não tinha ideia do que acontecia. Até mesmo Watson tinha esse olhar agora, e isso preocupava o jovem que pairava logo ao seu lado, com os olhos bem abertos e atentos.
As bombas ainda estavam sendo liberadas lá fora, e os gritos de dentro do abrigo faziam a cabeça de Watson ficar cada vez mais dolorida. Ele não fazia por mal, mas realmente não aguentava a euforia e toda aquela situação. Era muito para um jovem doutor aguentar em somente uma noite, tendo que se conformar com um abrigo pequeno e frio enquanto via as pessoas morrendo aos poucos, agonizando com o sentimento de que estavam sendo observados ou vigiados vinte e quatro horas por dia.
Ele chegava a pensar que seria um privilégio ser como Senhora Herm e simplesmente não se lembrar do que estava acontecendo, já que ele não gostaria de recordar de tamanha agonia quando mais velho. Era uma das poucas situações em que ele insistia dizer que preferia a morte.
Watson, quando percebeu que nada adiantaria naquele momento, avisou a Holmes que procuraria outro lugar, pelo menos algum mais calmo, para se deitar e ter um pouco de descanso. Daquele canto, onde se encontrava completamente sozinho, ele pode observar Holmes e toda aquela atenciosidade e empatia que o moreno apresentava para com as outras pessoas. Ele estava tremendo, com a pele quase roxa de tanto frio, mas insistia em continuar ajudando as crianças e os idosos. Watson jurou ter ouvido ele cantando alguma canção infantil.
Se passavam duas horas de pensamento negativo e uma vontade incessante de ter nascido em outro lugar ou em outro tempo quando aquele jovem rapaz se aproximou. Ele estava imundo, respirava com muita dificuldade e estava completamente roxo. Escorregou seu corpo magro pela parede de concreto e se deitou logo ao lado de Watson,que já se encontrava adormecido.
Nem Holmes nem Watson perceberam, mas seus corpos se uniram de forma extremamente única quando um sentiu o cheiro do outro. Ambos pertenciam um ao outro de uma forma amigável e complicada, e essa era a coisa em se ter um colega de quarto: eles haviam se acostumado com a constante presença de outra pessoa na hora de dormir.
Holmes foi quem acordou primeiro, percebendo a aproximação quase íntima com o velho amigo e se afastando com delicadeza. Mesmo com o susto,não interromperia o sono leve do companheiro, nem se o pagassem alguns milhões.
Algumas crianças se aproximaram, e assim que viram Holmes, deram um pequeno gritinho, que fora o suficiente para acordar o mais velho. Watson estremeceu e abriu e fechou os olhos algumas vezes antes de perceber onde se encontrava. E quando finalmente se acostumou, viu a figura de Holmes vestindo seu casaco enquanto contava uma história para as crianças do abrigo.
-Sabem, bebês, é incrível a capacidade da humanidade de confundir os sentimentos, e não tenho a plena certeza de que deveria estar lhes contando isso, mas o ódio muitas vezes gera o amor. Pode demorar, pode custar a vida das pessoas, mas um dia tudo se resolve. - ele dizia, com uma careta confusa no rosto. Watson entendia que o rapaz não era o mais fácil com as crianças,mas ele parecia incrivelmente adorável quando tinha uma menina loirinha no colo.
-Sher... Senhor? - Watson se corrigiu. - Você viu a senhora Herm? Como ela está?
-Oh sim, perdão crianças,mas tenho que falar com este homenzinho que acabou de acordar aqui, tudo bem? - Holmes falou, com uma voz infantil e doce. - Ela está bem, mas insiste em dizer que o doutor tem outro nome.
-Oh,sim, Holmes, ela tem o costume de me chamar de Hans.
Holmes retirou a jaqueta de Watson, a jogando em um canto e agradecendo sem ao menos perceber que nunca havia a pedido. Levantou-se e ofereceu a mão como apoio para que o outro se levantasse. Watson pegou sua mão e pegou impulso.
Choque elétrico inexplicável.
-Diga-me, Watson, quando é que ia descobrir que seu avô foi um dia apaixonado pela senhorinha que hoje o vê com tanto afeto e carinho?
-Como disse?
Watson começara ali a perceber que não conseguiria explicar os dons de Holmes, mas os admiraria com todo o coração a partir dali.
A casa deles não fora atingida no bombardeio, já que os malditos nazistas gostavam de pregar peças para treinar as pessoas, mas o coração de John Watson estava como uma bomba.
I have no words for mofftiss except for fuck you
OI GENTE TUDO BOM
EU NAO TENHO NADA PARA DIZER ALEM DE QUE NÃO GOSTEI MUITO DESSE CAPÍTULO MAS EU O ACHEI MEIO BONITINHO E QUIS POSTAR
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not a couple | johnlock | concluída
Fanficonde Dr. John H. Watson abriga Sherlock Holmes, um judeu, em sua casa durante a Segunda Grande Guerra. capa por: @garota_independente