Para o senhor William Sherlock Scott Holmes, viver dentro de um campo de concentração não era exatamente o que as pessoas chamariam de o inferno na terra, mas isso somente se dava pelo fato de que, mesmo ele estando com uma quantidade mínima de comida e higiene pessoal, ele ainda estava se mantendo completamente aquecido e vivo unicamente pelo calor do sentimento que sentia pelo grande doutor John H. Watson. Ele continuava perdidamente apaixonado, mesmo que visse o corpo, antes cheio de lugares bons de se apertar, do namorado ficando cada vez menor. Mesmo que ambos estivessem em um campo de guerra, onde rezavam todos os dias para um fim próximo de tudo aquilo.
John escrevia todos os dias naquele seu antigo diário, e continuava não deixando que Sherlock lesse as palavras que estavam bem marcadas pela velha caneta que carregara secretamente em um dos bolsos.
Eles dormiam juntos, já que não havia camas suficientes para todos os prisioneiros do local. Eram muitos, todos eles usando as mesmas tralhas velhas e cheirando ao mesmo odor de fumaça e suor misturados.
John, às vezes, acordava no meio da noite com os lábios muito secos e a respiração acelerada, porém nunca abria os olhos. Mas Sherlock sabia. Sabia que ele estava acordado e sabia que ele, na maioria daquelas noites em que acordava sem nenhum motivo aparente, ainda pensava que estava na casa deles, com os dedos enroscados nos cabelos de Sherlock e com o sentimento de que tudo continuaria perfeitamente bem, porque tinha a certeza de que algum dia as pessoas o aceitariam como ele era, sem o julgarem e colocarem rótulos em cima dele.
E, às vezes, ele falava.
Como nessa noite.
Sherlock ouvira a respiração do namorado logo quando aquilo tudo começou,porque tinha o estranho costume de conectar seu modo de respirar ao dele, senão não conseguia dormir.
-Sherly, amor? - ele sussurrou por primeiro.
-Shhh, está tudo bem. - Sherlock respondeu, beijando um de seus ombros e o aninhando em seu peito novamente. A cama era minúscula, e ambos eram grandes demais para conseguirem achar uma posição confortável.
Porém, ainda eram eles dois. Ainda eram John e Sherlock, eles contra o resto do mundo.
E com "mundo", agora eles queriam se referir aos malditos nazistas.
-Sherly, querido, Rosie está acordada. Consigo ouvir o choro dela. - ele continuou, roçando suas pernas nas coxas de Sherlock. - Pode a ajudar com isso? Ela geralmente só consegue dormir quando sente seu cheiro.
Sherlock se sentiu triste o suficiente para não conseguir discordar dele. Principalmente pela sua afirmação sobre o fato de Rosie sentir-se segura somente quando estava nos braços de Sherlock, porque era a verdade. A menina havia se acostumado tanto com a vida com seus dois papais que Sherlock era como sua cama.
Uma vez ou outra no dia, John encontrava a menina jogada no colo de seu namorado, enquanto eles dormiam calmamente no sofá ou na cama deles.
-Está tudo bem, meu amor. - Sherlock sussurrou, fazendo um carinho doce na bochecha do companheiro e o aninhando ainda mais no seu colo. - Ela vai ficar bem, ela vai.
-Obrigada. - ele agradeceu, sem perceber que Sherlock ainda estava deitado e que não havia nenhuma Rosie choramingando no local onde estavam. No lugar dela, haviam outras crianças, morrendo de fome e de sede, com doenças incuráveis muito aparentes e tendo seus pais sendo tirados delas, assim como tiraram John e Sherlock de Rosie. - Durma bem, eu o amo.
Sherlock sorriu, sabendo que, mesmo dormindo, John nunca mentira. E sorriu, porque também o amava.
No outro dia, acordaram com o tumulto que se encontrava formado no dormitório.
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not a couple | johnlock | concluída
أدب الهواةonde Dr. John H. Watson abriga Sherlock Holmes, um judeu, em sua casa durante a Segunda Grande Guerra. capa por: @garota_independente