Insónias

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São quatro da manhã e estou na minha varanda
O frio apodera-se do meu corpo 

Devia ter vestido um casaco
Mas para quê esconder-me em camadas desnecessárias,
Se o frio não vai embora?

Eras o meu casaco
E agora passo as noites ao frio
Na varanda sozinha
Nestas madrugadas de inverno

Cinco da manhã e ainda estou aqui
Não, não estou a pensar em ti
Por isso é que lembrei-me de te referir
Porque não estava de todo a pensar em ti

Queria que o céu estivesse  descoberto
Estrelado
Para poder contar as estrelas enquanto procuro a Lua
Parece que não é o meu dia de sorte
Parece que não tenho dias de sorte

São seis da manhã e ainda não adormeci
Em vez disso estou aqui
A escrever frases soltas
Bem juntas

Oh tola que eu sou
Por passar as minhas noites a escrever
Chamem me louca
Agradeço o carinho

Amanhã por estas horas já é um novo ano
Mas para além dos calendários
O que é que realmente muda?

São sete da manhã e estou ainda a pensar 
Fui fraca
Trouxe um cobertor
Uma manta com o teu cheiro
Acho que nunca a tocaste provavelmente

Questiono me se os construtores da minha casa
Ao erguerem a minha varanda pensaram se
Uma jovem passaria lá as suas noites ao relento

Obrigada a quem cujas ações
Possibilitaram-me esta forma de ver o amanhecer
De o presenciar

São já oito da manhã e tenho que voltar para dentro
Antes que me interroguem e me tranquem a varanda
Aproveito e tentarei dormir

Oh insónias
Não tens de quê
A ponta do meu nariz parece um pedaço de gelo
Mas nada se compara ao gelo da minha cama
Com a ausência de corpos
E do cobertor

Plural, plural
Singular
Pena ser um plural tão singular

Mesmo que tente
Já nada tem nexo
E já não sei que horas são
Que hajam mais dias assim

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