Minha vez

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— Terminou de embrulhar? — Willian falava comigo, mas não respondi. Estava preso em meus pensamentos enquanto admirava meu trabalho bem feito.

— Ei, está surdo? — Willian falou alto e de forma ríspida, que me fez olhar para ele. — Se já terminou garotão, venha me ajudar com este carro, não tenho mais idade pra fazer faxina!

Deixei Ema sozinha em um canto do galpão e fui em direção ao Willian, sua camisa já estava ensopada de suor. Aquele velho sedentário não iria terminar tão cedo se eu não o ajudasse.

— Você fez bem em me chamar, não pense que eu irei te trair, somos amigos garotão,não esqueça disso... posso até não ser a melhor pessoa para te ajudar com essa meda toda, mas eu vou dar o máximo de mim. Pode ter certeza disto. — Willian segurava no meu ombro e falava com semblante sério.

— Espero que sim, estou contando com isto. — respondi desanimado.

— Está nessa tristeza toda por causa da prostituta? — respondeu com desdém.

Mantive em silêncio. Não estava triste com a morte de Ema, estava frustrado por não pegar o atirador. Era uma estranha e imensa sensação de impotência.

Após ver Ema toda ensanguentada no meu carro, a única alternativa que vi foi ligar Willian. Saí do local com pressa levando-a comigo antes da chegada de olhos curiosos, que poderiam ser atraídos com o som dos tiros.

Willian me encontrou com rapidez. Fomos para um grande galpão onde a maior parte de sua iluminação vinha de fraca lâmpadas, que espalharam-se por todo o telhado. Com inúmeras estantes de ferro enfileiradas e várias caixas de papelão amontoadas tanto em cima de suas prateleiras como espalhadas pelo chão, o local tinha cheiro abafado de papelão e barata, mas não chegava a incomodar. Próximo a saída, estavam estacionado uma minivan preta, um carro, duas motos e o carro que estava dirigindo.

Quando envolvia Ema em sacos plásticos, contei sobre a situação da minha falta de memória para Willian, mas não entrei em muitos detalhes. Ele se deteve a apenas perguntar se eu estava bem.

Me esforcei ao máximo para tentar limpar o sangue do carro, mas o banco ainda possuía muitas manchas de. Sugeri a troca por um novo, mas Willian procrastinou.

— Deixe isso pra depois, me ajude a pegar ela e colocar na minivan. — Falou já segurando uma das extremidades do embrulho em que eu tinha colocado Ema.

Peguei minha arma e tranquei o carro. Fui ajudá-lo e sem dificuldades colocamos o corpo de Ema na minivan. Willian foi dirigindo enquanto eu, calado e encostado no vidro do carro, via a paisagem passando. Já estávamos saindo da cidade e entrado em uma estrada de terra, quando o silêncio foi quebrado por uma pergunta.

— Você não se lembra de nada mesmo, Tomas? — falou quase murmurando.

—Não. E por favor, não me chame assim. Tomas é uma pessoa que eu não conheço e não existe mais, agradeço se continuar com Daniel. — Esperava que com essa atitude; mesmo que sem sentido, manter alguns inimigos de Tomas longe de mim, ou talvez só me distanciar um pouco dessa realidade assustadora.

— Certo, Daniel. - Disse quase soletrando as palavras - Você está muito esquentado. Relaxa. Vai ser simples; vamos dar um fim digno para sua prostituta e tudo vai ficar bem. Não é primeira vez que resolvemos esse tipo de situação e tudo sempre foi tranquilo. — Willian estava muito confiante.

— Me diga algo sobre a entrega de ontem. Para quem foi... qual era a encomenda? — esperava que me esclarecesse, de uma vez por todas, tudo o que estava acontecendo.

Inimigos Em Primeiro GrauOnde histórias criam vida. Descubra agora