Capítulo II

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― Sinceramente não entendo como duas pessoas desconhecidas, me fizeram sentir esse furacão selvagem de emoções em tão poucas horas. Da tarde que acordei naquele buraco de quarto sem nenhuma lembrança da minha vida, dos meus amigos ou da família, até aquela manhã que fui parar naquele hotel vagabundo a procura de resposta; apenas sentimentos primitivos haviam me influenciado.

― Que tipo de sentimentos? Consegue me explicar melhor?

― Raiva, dor, medo... nada além disso.

― E a garçonete, você não sentia nada por ela? Aliás, não me falou o nome dela. Você pelo menos lembra o nome dela?

― Tudo ao seu tempo. Você deve ter paciência e escutar toda a história enquanto ainda tenho tempo para contá-la. E para você entender melhor o porquê das minhas escolhas, deve ver os fatos da mesma maneira com que me deparei com eles.

― Ok, Senhor Tomas. Só que o senhor não me respondeu sobre a garçonete, o senhor sentiu algo por ela?

― Naquele momento eu a desejei para mim, isso também é um sentimento primitivo. Desejo... você não acha?

― O Dom? Ele te ameaçou, te espancou e como você me contou, quase te matou. Porque impediu que William o matasse? Creio que aí houve um sentimento diferente.

― Engano seu. Não houve nenhum sentimento.

― Então o que foi aquilo?

― Eu não sei. Uma reação automática do meu subconsciente criada pelo meu antigo eu, talvez seja isso. Eles eram amigos, não sei te responder melhor o que foi aquilo.

― E depois que descobriu que era pai, quais foram os sentimentos?

― Foram bem confusos, confesso.

― Na sua situação, ficar confuso foi muito normal. Mas, continue.

― Houve uma conexão quase que instantânea. Não sei se você acredita nisso, mas foi o que eu senti, uma conexão. Tive vontade de protegê-los, mesmo antes de saber que eram meu filhos, e uma sensação de... não sei, vê-los daquele jeito... impotência. É, impotência... essa é a palavra certa para expressar aquilo que sentir naquele momento.

― E amor? Não seria isso que sentiu pelos seus filhos? Ou não. Já que os negligenciou a vida toda os deixando aos cuidados de uma mulher que se drogava e se prostituía por uma garrafa de whisky.

― Porque está falando assim? Eu estou contando tudo e você deveria se satisfazer com isso. Mas não, continua com o mesmo olhar que desde o primeiro momento que entrei por aquela porta, não parou de lançar. Como se eu fosse o vilão.

― E não é? Você ainda não contou nada Senhor Tomas. Acha que vou me satisfazer só com isso? Você sabe onde quero chegar.

― E como quer que eu conte? Da maneira como aconteceu, ou da maneira que quer escutar? Acho que não preciso mais ficar aqui!

― Acalme-se, não precisa se alterar. Peço perdão pela maneira incômoda que começamos. Sente - se novamente.Tome uma água... continue, prometo me conter.

― (...)

― Por favor...

― Você ainda não entendeu que estou te contando o que aconteceu, apenas porque você é do meu agrado?

― Eu sei, Senhor Tomas.

― Então não perca isso.

Inimigos Em Primeiro GrauOnde histórias criam vida. Descubra agora