Resquícios de Ema (Parte 3)

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A sirene da ambulância ecoava pelas ruas; avisando-nos que já estava próxima, e a cada momento mais e mais pessoas se amontoavam ao redor de Elen.

Estava ficando cada vez mais difícil conseguir vê-la do local onde eu - impotente e fraco - a olhava.

No desespero da situação liguei para Willian, que não tardou para me encontrar. O galpão onde ele se recuperava com a ajuda de um médico, era bem próximo do local do acidente.

― Ei cara, você está bem? ― Willian sentou-se ao meu lado na calçada com dificuldade; era perceptível que sua perna doía a cada passo.

― Não se estressa velho, se eu não desmaiar agora não vai ter nada para se preocupar. ― Minhas mãos ainda tremiam e a queimação infernal não cessava.

― Que porra foi essa? É apenas eu te deixar só por algumas horas que você se envolve em problemas!

― Quando o Dom te acertou e você chorava como uma garotinha assustada, eu estava junto com você. ― Eu ria da situação, mas minhas palavras já saiam embriagadas da minha boca. Eu já temia outro desmaio.

Willian sorria da piada sem graça, enquanto puxava um maço de cigarros do bolso da camisa. Do bolso da calça, ele tirou um isqueiro tipo zippo, e com o estalar de sua tampa de detalhes cromados ele acendeu um cigarro. Na primeira tragada ele soltou uma nuvem de de fumaça, que pela força do vento, veio toda em minha direção.

― Vai querer? ― Ele me olhou apontando o cigarro aceso em sua mão, mas eu recusei acenado com a cabeça. ― E aí, vai me contar ou não o que aconteceu?

― Uma mulher que eu vi com o Philipe; alta cabelos longos, bateu no meu carro. Quase me matou. Depois voltou armada, com cara de quem iria finalizar o serviço mal feito.

― Aquela vadia! ― Willian ficou calado por alguns segundos, então olhou para mim e perguntou: ― Você acha que foi ele?

― Eu tenho certeza. O desgraçado me ameaçou! ― abaixei a cabeça e me deparei com as bolsas das crianças. Fiquei mexendo dentro delas enquanto continuava com minhas suposições mascaradas de certezas. ― Quando eu ainda estava na quarto do sobradinho, ele estava com ela e claramente ouvi-la passar uma ligação do Dom para ele. Eu não vou ficar esperando sentado ele tentar me matar de novo velho.

― E está pensando em fazer o que hein, Superman? ― Entre tossidas e tragadas, ele debochava. ― Não pense que vou com você atrás do louco do Philipe. Você não lembra, mas eu sei muito bem do que ele é capaz.

Willian se levantou,logo ao ver os paramédicos imobilizando Elen. Eu estava paralisado; olhando um punhado de documentos que a garota levava dentro da mochila.

― Essa garota estava com você? ― Ele se espichava inutilmente para tentar vê-la, porém as pessoas amontoadas ao redor, dificultavam não só sua visão como o trabalho dos socorristas.

― Estava. Ela e mais um garotinho. ― falei sem dar muita atenção.

― Cara você é doente! Com tanta puta por aí você fica atrás de crianças. ― Willian não perdia uma oportunidade de fazer uma piada.

― Não é nada disso velho idiota. São os filhos da Ema.

― E que diabos você estava pensando em fazer com os filhos da prostituta? ― Willian se virou já com o rosto sério e esbravejou; ― você já não tem problemas demais para ainda ter que se preocupar, com dois projetos de delinquentes?

― Você queria que eu fizesse o que? Não dava para deixar os dois sozinhos naquele apartamento imundo ― , tentei me levantar mais foi impossível na situação que eu estava.

Inimigos Em Primeiro GrauOnde histórias criam vida. Descubra agora