Sides

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Narrador POV

Flashback – Alguns dias atrás

Music on* Alessia Cara – I'm Yours

Camila revirou-se em sua cama pela incontável vez. A sensação inquietante era reflexo da percepção de que Lauren dormia em seu sofá, em seu apartamento. Entrando com a leveza singular que ela tinha, em sua vida. A bibliotecária não conseguia dormir, não deixou a inquietação sequer um segundo de lado desde que entrou em seu quarto decidida a dormir.

A teria beijado.

E era a também, incontável vez, que a mulher teve tal certeza. Não sabia o que se passava dentro de si, nunca sentiu tamanha necessidade em dizer coisas, ou fazê-las direito a todo tempo, como se qualquer movimento errado pudesse ferir Lauren de uma maneira incurável, ela não queria isso.

Já teve muitas amigas por sua vida, e todas eram especiais de sua maneira. Mas Lauren? A fez sentir uma necessidade tal incontrolada de cuidar dela, de apenas lhe fazer sentir coisas que não fossem incomodas, de sorrir. Por vezes sentia até que era um sentimento tão novo que parecia infantil, como se devesse ser abordado com uma delicadeza que só uma criança precisaria para lidar.

Não se sentiu assim, sequer com Austin, que foi a pessoa mais próxima em sua vida, de levar a palavra amor, explicita, quase se casaram. Pensar nele, deixava-a incomoda pelo simples fato de entender que nada do que sentiu pelo rapaz chegava perto de tamanha magnitude que a deixava inquieta por apenas sentir que pensava em uma pessoa tão especial que estava no cômodo ao lado, ressonando em sua pureza, perdida em seus pensamentos que Camila era louca para saber lidar, desvendar, conhecer.

Se perguntassem então, o que ela sentiu por aquele homem, não negaria que foram bons sentimentos. Mas estes sentimentos eram tão pequenos que pareciam até mentira perto do que ela temia sentir agora.

Nunca se apaixonou por mulher alguma.

Não era como se fosse especialista nesse sentimento. Mesmo que ao se apaixonar não sentisse que fosse justo analisar por gêneros. Talvez só citaria que nunca se apaixonou dessa maneira por alguém.

Não era um conflito limitante, apenas se denominava uma eterna criança. Vivendo, conhecendo, nunca deixaria de ser, mas lhe tocava ardentemente a ideia de que estava destinada a amar essa mulher.

E se fosse para se culpar de algo, talvez Camila se culparia pela ideia de ter demorado demais para a encontrar, porque sabia e sentia que se a encontrasse antes, as coisas seriam tão mais leves em sua vida. Lauren lhe ensinava coisas pequenas à cada dialogo, tornou-lhe paciente, por entender que se já era difícil se descobrir, não imaginava então para aquela mulher. E por vezes se assustava, com a sua repentina sagacidade, com a sua mente, com a maneira que lidava com a vida, era simples. Lauren não fazia questão de dificultar as coisas, ela deixava a vida leva-la.

Camila sentou-se em sua cama, livrando-se de seu edredom. Levantou com cuidado, sem emitir barulho e sentia o peito martelar em seu peito, alucinante. Ao pausar próxima a porta do corredor, que dava para a sala, quase completamente escura, cruzou os braços, tocando a testa contra o batente da porta ao vê-la ressonar. O cobertor estava caindo do sofá sobre suas pernas, as mãos apoiadas sobre sua barriga.

Leve, como a criatura mais genuína que já encontrou.

Havia acabado de sair de um relacionamento, não terminou da melhor maneira. E podia dizer que talvez o seu coração tivesse criado muros que seriam intransponíveis. Mas ali estava, até dormindo ela abria-lhe as portas, a deixava segura. Camila sabia que não iria conseguir dormir aquela noite.

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