Namorada?

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Assim que o celular despertou naquela manhã, pulei da cama como se a mesma estivesse cheia de aranhas (o tipo ruim de aranhas, se é que me entendem, as do tipo insetos). Precisava chegar logo na escola e falar com as duas criaturas que chamava de amigas, talvez Ally e Vero pudessem me ajudar com Camila, e essa era uma conversa que precisávamos ter pessoalmente.

Depois de me arrumar, desci as escadas correndo e tomei o café com Clara e Mike, que comentavam algo sobre entrevistas e pesquisas eleitorais. Ignorando a conversa particular deles, terminei minha refeição e esperei que Michael também terminasse, era ele quem me levaria para escola e buscaria naquele dia já que Clara teria que usar seu carro para Deus sabe o quê.

- Pronta para mais um dia de aula, bonequinha? - Mike me perguntou ao que finalmente estacionou em frente ao prédio de tijolos.

- É. Tanto faz - respondi sem interesse, abrindo a porta e me direcionando para a sala onde teria a primeira aula com Ally e Vero.

- Espera aí, deixa eu ver se entendi direito - Verônica começou assim que eu contei o ocorrido na noite anterior. - Está me dizendo que depois que você a beijou, ela fez o maior escândalo e ainda a deixou no meio do bar passando vergonha e tendo que ir embora de a pé, por que a vida não é como os filmes e você não encontrou nenhum táxi disponível?

- Bom, basicamente isso - assenti, vendo Vero cair na risada.

- Parabéns, Lauren. Melhor forma de descobrir que alguém é hétero.

- Sério, Vero? - indaguei incrédula. - Vai me zuar ao invés de me ajudar? Que tipo de amiga você é?

- O tipo que ri das desgraças alheia - disse, fazendo-me revirar os olhos. - Não tenho culpa se você nasceu para passar vergonha, Laur. Meu único dever é te atormentar por isso.

- Você é ridícula.

- E você uma lésbica de quinta com o gaydar quebrado.

- E você é...

- Vocês são duas idiotas e pronto - Ally me cortou, falando com a calma de quem dissesse que um e um são onze. - O que eu acho que você deve fazer é pedir desculpas a ela, Laur. Não foi certo tê-la beijado assim, sem perguntar se ela queria ou não.

- Ninguém pergunta se a outra pessoa quer ser beijada, Ally - Apoiei o cotovelo na minha carteira e repousei a cabeça na mão. - Mas entendi seu ponto. Vou pedir desculpas assim que der.

- E você acha que ela vai querer continuar com suas aulas particulares? - Vero perguntou séria pela primeira vez (quer prova maior de que milagres realmente existem?).

Soltando o ar pela boca de maneira derrotada, vi a professora Kordei passando pela porta.

- Eu não sei - respondi.


Sabe quando você tem a impressão de que o dia não passa? Que cada um segundo andando para frente, o ponteiro do relógio regride dois? Bom, foi assim que o meu dia hoje na escola passou. Quando o sinal da última aula finalmente tocou, senti um alívio imenso me invadir, uma sensação de liberdade quase tão boa quanto passar o dia inteiro sem sutiã.

Guardando meu material no armário após a aula maçante de sociologia (sim, contrariando meio mundo, eu odeio essa matéria, apesar de saber que ela é essencial para a formação de um caráter questionador e blá, blá, blá), apertei a alça da mochila no meu ombro e caminhei para fora.

Percorrendo os olhos pela rua, percebi que Mike ainda não havia chegado.

- Droga - sibilei, sentindo meu coração acelerar imediatamente e as minhas mãos suarem. O diabo tinha vindo me buscar.

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