Entrelaços

Steven

   - Você não pode aceitar isso, Lauren. Já disse que pode vir morar comigo se quiser - Steve dizia enquanto apertava os botões do controle, tentando a todo custo driblar um dos meus jogadores e correr em direção ao gol.

   - E me tornar um estorvo para você? Não, obrigada - neguei, roubando a bola dele sem dificuldades.

   - Sabe que não seria um estorvo, Laur. Você é minha amiga, me preocupo com você.

   - Eu sei. Eu só... - Soltei um suspiro cansado, pausando o jogo e escondendo o rosto entre as mãos. - Eu não aguento mais, Steve. Eu mal consigo ficar em casa sem ter eles me perguntando se eu percebi o quanto Joseph é lindo, o quanto ele parece um bom partido, ou então como é incrível e nobre ele trabalhar como voluntário no asilo - contei, lembrando-me das palavras dos meus pais. - E quando eu demoro um pouco mais para chegar em casa depois da escola? Basta eu abrir a porta para que Clara comece a me bombardear com suas perguntas: "onde você estava?", "por acaso, estava em um motel com alguma garota?", "não tem vergonha de sujar o nome da sua família desse jeito?" - Nesse momento, eu já sentia as lágrimas escorrerem pelo meu rosto e os braços de Steven me envolverem em um abraço protetor.

   - Não ligue para eles, Lo. Eles não entendem o quão maravilhosa você é - falou, enroscando os dedos nos meus cabelos e começando um cafuné gostoso. - Não entendem que sua sexualidade não te torna nem pior ou melhor que ninguém. Eles acham que o fato de ser lésbica vai contra Deus, mas é o preconceito deles que vai condená-los.

   Passando as mãos por minhas bochechas, tentei controlar o choro.

   - Eu só queria nunca ter contado para eles, sabe? Se eu pudesse voltar no tempo...

   - Mas você não pode, Laur. E também não pode ficar vivendo de "se", porém pode vim morar comigo. Prometo que não vou te estuprar no meio da noite - Levantou a mão como se jurasse, arrancando-me uma risada.

   - Você é um bobo, Steven - Aconcheguei-me contra ele. - Eu te amo.

   - Também te amo, Lauren - disse e, apesar de não poder ver seu rosto, sabia que ele sorria. - E prometo: sempre que precisar de alguém, eu estarei aqui. Sempre.

   - Você não devia ter prometido isso, Steven - falei, olhando para a foto no meu celular. Nela, Steven sorria ao meu lado, estávamos abraçados e encostados em um carro com o retrovisor quebrado.

   Inspirando profundamente, guardei o telefone na calça e saí do quarto. Fazia quase duas semanas que Camila tinha me beijado na escola e desde então nós não havíamos falado sobre. Nossas aulas continuavam e nossa relação só melhorava, acho que quase poderíamos nos considerar amigas agora.

   - Mãe, estou pegando o carro - avisei, recolhendo as chaves na mesinha de centro da sala.

   - Tudo bem - Clara disse sem retirar os olhos da televisão. - Diga aos Cabello que mandei um "oi" - pediu, antes de eu seguir para a garagem.

   Hoje é sexta-feira e, como de costume, deveria dirigir até a casa de Camila, a qual determinamos como sendo o nosso local de estudos permanente. Porém, não era para lá que eu seguia.

   Com minha cabeça latejando um pouco, dirigi até o cemitério, onde passei a hora seguinte rezando em frente ao túmulo cheio de flores murchas do meu amigo. Preciso-me lembrar de trazer flores da próxima vez - conclui, saindo da li e caminhando de volta ao carro. Meus olhos estavam inchados e vermelhos e eu me sentia incrivelmente sozinha. Precisava de alguém para me abraçar, alguém para dizer que tudo ficaria bem. Eu precisava de Camila.

   Dando partida no carro, coloquei-o em movimento até a casa da latina.

   - Lauren? - ela disse assim que atendeu a porta após o toque da campainha. - Pensei que não viesse mais. Está tudo bem? - perguntou, provavelmente notando meu rosto inchado pelo choro.

   Como que desabando com aquelas poucas e simples palavras, dei um passo para frente e a abracei.

   - Eu preciso de você, Camz - falei com a voz embargada, sentindo suas mãos me puxarem para mais perto. - Eu preciso de você.

   - Shhh, está tudo bem, Lauren - Acariciou minhas costas. - Eu estou aqui.

   Me apertando mais contra a latina, inalei o cheiro doce do seu perfume. 

   Eu estava naufragando, e Camila era a minha âncora. 

Olá, pessoas. O capítulo de hoje foi curto, mas amanhã ou terça tem mais. Espero que tenham gostado e não se esqueçam de votar.

Beijos na nuca :)