Capítulo 3

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Indignada pelo que lhe parecia um insulto, Lydia apenas o fitou e sentiu a face esquentar com o sangue que fervilhava. Aquelas palavras demonstravam o pouco que ele se importava com ela. E que, com exceção da cama, onde a recebia com prazer, ela não passava de um "estorvo necessário".

Ela cerrou os punhos, que mantinha no colo. As mãos ásperas pelo trabalho duro a que estava acostumada e as unhas curtas, nas quais a tia dele costumava reparar com deboche.

Após um longo suspiro, ela decidiu que não iria se ofender com aquilo. Não podia ser mais magoada do que já estava. E também não adiantaria lhe dizer que não pretendia receber nada da fortuna dos Stilinskis porque só desejava a liberdade. Ele não acreditaria. Para que falar para as paredes?

Por fim, desviou o olhar dos lindos e cínicos olhos do marido e os repousou no copo de vinho ainda intocado. Sabendo que teria momentos difíceis pela frente, resolveu experimentar a bebida, e erguendo o copo sorveu um longo gole. O álcool ingerido a fez encorajar-se:

— Não acredito em você. Prove! Por que meus pais perderão a casa? Poderíamos ir lá agora mesmo e perguntar a eles.

— A esta hora? Está maluca? — Stiles quase gritou ao ouvir as palavras tão insensatas. Inclinou o corpo para a frente e retirou da mão dela o copo quase vazio e o depositou na mesa. Em seguida, aproximou dela o prato com os sanduíches. — Eles devem estar dormindo, tranqüilos, e acreditando que estamos resolvendo nossas diferenças e fazendo as pazes. Principalmente porque prometi ajudá-los com as dificuldades que estão passando.

— Que dificuldades? — perguntou ela, arrependida do tom preocupado na voz. Só queria saber do que se tratava e sair correndo dali. Não suportava mais a presença dele. — Diga! — insistiu com veemência, ao perceber que ele pretendia ficar calado e deixá-la na ignorância.

Stiles limitou-se a um discreto sorriso.

— Você fica mais linda quando está zangada!

Ela o olhou com frustração. E, apesar da raiva, o tom que ele usava para cortejá-la e o brilho de luxúria nos olhos castanhos ainda a incendiavam.

Ele prosseguiu:

— Seu pai alcançou a idade da aposentadoria. Por isso a companhia foi obrigada a cancelar o contrato de trabalho. E, segundo as normas da empresa, a casa deve ser desocupada para servir de moradia ao próximo encarregado a ser contratado.

— Eles lhe contaram isso?

Lydia ficou arrasada. Provavelmente deveria ser verdade. Seis anos antes o idoso sr. Joseph havia vendido toda a área para um grupo de consórcios que transformara o lugar num grande centro de lazer. Construíram um campo de golfe, piscinas e saunas. Além do acesso ao lago para quem gostasse de pescaria. O pai dela ficou desapontado com a mudança e, na última vez em que conversou com o velho amigo Joseph ouviu dele que estava cansado e pretendia partir dali. Mas trabalho é trabalho, o pai insistiu. Teria de se adaptar. E confiava na promessa de Joseph de que a casa seria deles por quanto tempo desejassem.

Todavia, os novos proprietários não deveriam pensar da mesma forma. Para a companhia, os anos de lealdade e respeito provavelmente não contavam.

De repente, Lydia percebeu que a ameaça dos pais ficarem sem teto não era nada impossível.

— A princípio foi sua mãe quem me disse — revelou Stiles. — Quando cheguei à casa de seus pais, percebi que ela estava aborrecida. Imaginei que fosse por que você tivesse ligado e falado sobre o divórcio. — Naquele ponto ele interrompeu-se para lançar um olhar incisivo, com as feições bonitas enrijecidas pelo desagrado. — Mas quando lhe contei sobre sua decisão, ela não agüentou e começou a chorar. Foi quando notei que deveria haver algo mais a atormentando.

Broken  (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora