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   O grupo de Jonas agora ocupava um outro lugar no Auditório, tendo trocado com os novos Onzes, de modo que estava todos sentados bem na frente, junto ao palco.

   Estavam instalados de acordo com seus números originais, os números que lhes tinham sido dados ao nascer. Esses números raramente eram usados depois da Nomeação. Mas cada criança sabia o seu é claro. Alguns pais os usavam, quando irritados pelo mau comportamento de uma criança, para indicar que as traquinices a tornavam indignas de um nome. Jonas sempre ria quando ouvia um dos pais, exasperado, repreender um pequeno chorão: "Já chega, Vinte e três!"

   Jonas era número Desenvolve. Fora a décima nona criança a nascer naquele ano. Isso significa que no dia de sua Nomeação ele já ficará de pé, tinha o olhar vivo e estava preste a andar e falar; o que lhe dera ligeira vantagem durante os seus dois primeiros anos, um pouco mais de maturidade sobre muito de seus companheiros de grupos nascidos nos meses posteriores daquele ano. A diferença se equilibrara, porém, como sempre acontecia, por volta dos Três.

   Depois dos Três, as criança progrediam praticamente no mesmo nível, embora pelo número sempre se pudesse quem era mais velho do que os outros do grupo. Oficialmente o número completo de Jonas era Onze-Dezenove, já que em grupo existia, evidentemente, outro Dezenove. Mas, naquele dia, agora que os novos Onzes tinham sido formalmente reconhecidos de manhã, existiam dois Onze-Dezenoves. No intervalo do meio-dia, ele trocara sorrisos com o novo, uma manina tímida chamada Harriet.

   Mas a aplicação só durava aquelas poucas horas. Daí a pouco ele não seria mais um Onze, e sim um Doze, e a idade não teria muita importância. Seria um adulto, como seus pais, apesar de ainda novo e destreinado.

   Asher era o Quatro e estava sentado na fileira à frente Jonas. Seria o quarto a receber a Atribuição.

   Fiona, Dezoito, sentavam-se à sua esquerda; do outro lado estava o Vinte, um menino chamado Pierre, de quem Jonas não gostava muito. Pierre era muito sério, nada divertido, ansioso e também mexeriqueiro. "Já verificou as regras Jonas?", Pierre estava sempre cochichando com ar solene. "Não tenho certeza se isso está de acordo com as regras." Geralmente se tratava de alguma coisa boba a que ninguém dava importância - abrir a túnica se estava ventando; dar uma voltinha rápida na biblioteca de um amigo só para experimentar uma sensação diferente.

   O discurso de abertura de Cerimônia de Doze era feito pelo Ancião-Chefe, o líder da comunidade, eleito a cada 10 anos. O discurso era mais ou menos o mesmo todos os anos: recordar o tempo da infância e o período de preparação, as futuras responsabilidades de vida adulta, a profunda importância da Atribuição, a seriedade do treinamento que os esperava.

   A Anciã-Chefe deu prosseguimento ao seu discurso.

   - Está é a ocasião - começou ela, olhando direto para eles - em que reconhecemos as diferenças. Vocês, Onzes, passaram todos os anos até agora aprendendo a adaptar-se, a padronizar seus comportamentos todo impulso que pudesse separa-los do grupo. Hoje, porém, nós acatamos  suas diferenças. Eles determinaram o futuro de cada um de vocês.

   Em seguida começou a descrever o grupo daquele ano e sua variedade de personalidades, apesar de não citar o nome de nenhum deles. Disse que havia um com grandes habilidades
para Curador, outro que adorava crianças-novas, outro com uma capacidade científica incomum e um quarto para quem o trabalho físico era um prazer evidente. Jonas se remexeu em seu assento, tentando associar cada uma dessas referências a um de seus companheiros de grupo. As habilidades de Curador eram sem dúvida as de Fiona, à sua esquerda; havia reparado como ela era carinhosa ao dar banho nos Idosos. Provavelmente, o da capacidade científica era Benjamim, que inventara o novo e importante equipamento para o Centro de Reabilitação.

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